O Instituto Paulo Montenegro foi criado em 2000 pelas empresas associadas ao grupo IBOPE, nos seus mais de dez anos de atuação tem consolidado programas como o Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF). O indicador mensura, através de uma escala criada pelo próprio instituto, o nível de alfabetismo funcional na população brasileira entre 15 e 64 anos, avaliando habilidades de leitura, escrita e realizações de cálculos aplicados ao cotidiano.
Segundo o instituto, a pesquisa é realizada tanto na área urbana quanto na rural, em todas as regiões do país, em entrevistas domiciliares onde são aplicados testes práticos. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. Em 2006 a metodologia incorporou nos seus testes a Teoria de Resposta ao Item (TRI), a mesma utilizada no ENEM e na prova Brasil, através da qual pode-se garantir a comparabilidade de resultados de edições diferentes.
Contudo, para se compreender bem a pesquisa e seus resultados é necessário que se tenha ciência do que é considerado, segundo o instituto, uma pessoa alfabetizada em nível pleno: são pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses.
Os resultados da última pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro foram divulgados agora em fevereiro, e apesar de mostrarem melhora em comparação aos resultados anteriores, continuam sendo alarmantes. O principal ponto de atenção surge quando se pensa nas consequências da falta de alfabetização plena na produtividade média do trabalhador brasileiro, daquele que já se encontra inserido no mundo do trabalho, que já possui um certificado de ensino médio regular ou técnico, ou até mesmo de ensino superior.
Para se ter ideia do tamanho do problema que temos hoje no Brasil, a pesquisa aponta que somente 8% da população brasileira está alfabetizada plenamente, isto significa que apenas um em cada 13 brasileiros são capazes de ler, interpretar e utilizar as informações de textos sem dificuldades. É muito pouco para quem está entre as dez maiores economias do mundo, nestas condições o crescimento econômico fica comprometido, esbarrando na qualificação mínima que se pode exigir de um trabalhador produtivo: o conhecimento da língua materna e o domínio das operações básicas de matemática.
Se nos aprofundarmos mais e analisarmos os dados por setores da economia encontramos que o percentual de profissionais plenamente alfabetizados é de: 26% no setor de comunicação, artes e cultura, 18% na administração pública, 16% na educação, 11% na saúde, 10% no comércio e de 3% na construção civil ou indústria. No caso especificamente da educação o percentual é muito preocupante, pois é natural que esperássemos um índice maior do setor que é justamente responsável por desenvolver nos alunos as habilidades relacionadas a leitura, escrita e letramento.
Para os alunos que ainda estão na educação básica ainda é possível o planejamento e a execução de algumas intervenções que possam alcançá-los a fim de se tentar reverter este quadro. Na verdade, em muitos estados já há programas de recuperação de conteúdos nas áreas de Linguagens e Matemática, realizados no contraturno em um regime parecido com o que nos habituamos a chamar de “aulas de reforço”, iniciativas como estas partem justamente do pressuposto que a maior dificuldade dos alunos está nas lacunas deixadas nos anos iniciais, o que compromete sobremaneira toda sua evolução.
Mas quanto aqueles que estão fora da escola, que se encontram somente no mundo do trabalho, como alcançá-los? Uma saída que muitas empresas têm encontrado é a de oferecer oportunidades de formação em trabalho, ou seja, oferecer cursos de curta duração, presenciais ou online, que possam ser realizados fora do horário das atividades desempenhadas pelo empregado. Em geral estes cursos são gratuitos e atrelam a participação dos funcionários a sua progressão de carreira, podendo assim se converter em benefícios futuros seja no emprego atual ou em outro.
O fato é que a situação é grave e compromete estrategicamente o país e, sendo assim, governo e setores da economia devem pensar em intervenções conjuntas. Apesar desta pesquisa ser recente, outras anteriores já apontavam para esta situação, o que nos dá conta de que o problema não é recente, apesar de não ter sido tratado com a devida seriedade. Não obstante a isso, a Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) já havia explicitado em um de seus relatórios que um trabalhador americano chega a ser seis vezes mais produtivo que um brasileiro.