Não compreendo por qual razão muitos de nós somos bairristas ao ponto de agir como se o Amazonas fosse uma ilha. No mundo da economia contemporânea não existem ilhas. Cada país, cada região possui seus pontos fortes e fracos. A fortaleza do Amazonas vai muito, muito, muito além das benesses fiscais. Por que não as usamos? Por que não interagimos com outros Estados do Brasil usando as nossas fortalezas?
Reformas são sempre muito bem-vindas, quando se atacam os pontos fracos da situação atual e se potencializam os pontos fortes. Por alguma razão misteriosa, não agimos desta forma. A floresta importa, a biodiversidade importa, a indústria eletroeletrônica importa, todos possuem algum sentido de grande importância. É claro que outros vão observar que importamos insumos do exterior. A questão é como poderemos adotar alianças e laços econômicos mais fortes que gerem importância para outros entes da Federação?
Como encontrar sinergias com os nossos vizinhos Roraima, Acre, Rondônia, Pará, Mato Grosso? Isso sem falar na Venezuela, Colômbia e Peru. Há tantos negócios feitos com São Paulo, mas há ainda mais oportunidades com todas estas nossas fronteiras estaduais. O Amazonas é tão diverso que pode ser desolador observar o que é feito, mas também pode ser muito animador, pois quando se tem muito pouco feito de um potencial, qualquer mudança será um grande estímulo.
Os negócios usuais daqui não são mais opções. Precisamos de novos negócios, com uso responsável da riqueza local, colocando negócios com baixa emissão de carbono como base, tirando proveito do que é uma das grandes oportunidades globais atuais: responsabilidade ambiental e operações neutras em carbono.
Como desenhar um Amazonas neutro em carbono? Convidar pesquisadores para elaborarem métodos aprovados por órgãos reguladores internacionais, para evidenciar que o Amazonas contemporâneo não só é neutro em sua pegada de carbono, como contribui abundantemente para o equilíbrio do meio ambiente global. Demarcar nossas fortalezas e explorar são chaves para um futuro próspero, para que deixemos de nos comportar como vítimas ou atacar quem não é nosso inimigo. Este hábito precisa ser removido de nossa cultura local. Não somos uma ilha, mas precisamos parar de agir como tal.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.