EDITORIAL
MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar quem é contra o tratamento precoce da Covid-19 com hidroxicloroquina. Para ele, essas pessoas são “canalhas”. Ele também cobrou investigação da CPI da Covid do Senado à aplicação de “doses cavalares” do medicamento em Manaus, que levou pessoas à morte.
Há dois equívocos na fala do presidente. O primeiro na defesa do uso de hidroxicloroquina, comprovadamente sem eficácia no combate à Covid-19 e com um histórico de sequelas nas pessoas que fizeram uso do medicamento.
O fato de Bolsonaro ter usado o medicamento quando diagnosticado com Covid-19 não significa que ele foi curado pelo remédio, até porque a doença ataca o organismo das pessoas de maneira totalmente imprevisível.
O segundo equivoco está na defesa do que ele chama de tratamento precoce. Não se pode fazer tratamento precoce de uma doença que não foi diagnosticada.
Neste sentido, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, certamente orientado pelo presidente, veio a Manaus defender que os medicamentos do tal Kit Covid fossem administrados em pessoas com sintomas gripais, mesmo que não houvesse diagnóstico da Covid-19. Se depois o diagnóstico fosse negativo, suspendia-se a medicação, sugeriu Pazuello.
O que faltou no Brasil desde o início da pandemia foram testes para diagnosticar a doença. Não havia na rede pública disponibilidade de testes para quem apresentasse sintomas leves da Covid-19.
Em Manaus e no Estado do Amazonas, a orientação nos primeiros meses da pandemia era que as pessoas só procurassem uma unidade de saúde se o quadro da doença já estivesse agravado. Se uma pessoa procurasse um hospital, era mandado de volta para casa, e não adiantava insistir que lhe fizessem um teste de Covid.
O governo do Estado, inclusive, criou um aplicativo para telefone celular em que era possível fazer “consulta” com o médico, que recomendava algum tipo de tratamento domiciliar, se o caso não fosse de internação.
As drogarias e empresas particulares aproveitaram essa lacuna do poder público e reinaram absolutas na capital amazonense, com a oferta de teste por valores que iam de R$ 50 a R$ 200 (teste rápido).
Na segunda onda da pandemia em Manaus, entre dezembro e fevereiro deste ano, também não havia testagem em massa na rede pública, e só quem aceitava pagar por um exame particular conseguia um diagnóstico precoce.
Se a dificuldade era grande para um cidadão ou uma cidadã fazer um teste que comprovasse a doença, mais difícil ainda era conseguir um atendimento hospitalar.
Nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, assim como em abril e maio de 2020, parentes de pacientes em estado avançado da doença faziam peregrinação em hospitais em busca de internação e não conseguiam.
Na maioria dos casos, quando a pessoa não morria sem atendimento, dificilmente se recuperava da doença, pelo estado avançado e comprometimento dos pulmões.
Assim a Covid-19 foi tratada. E muita gente, mesmo antes de apresentar sintomas, passou a tomar medicamentos como Ivermectina (recomendado para piolhos e lombrigas) e Azitromicina (antibiótico indicada no tratamento de doenças respiratórias, como bronquite ou pneumonia, ou sexualmente transmissíveis, como a gonorreia) por conta própria, como prevenção à Covid.
Nenhuma dessas medidas tiveram efeito positivo. E não tiveram porque pesquisas feitas no mundo inteiro mostraram que esses medicamentos são ineficazes contra a ação do novo coronavírus.