MANUS – Ainda não se sabe o que vai acontecer depois da saída de 8.332 médicos cubanos do Brasil, que atuam no programa Mais Médicos. Lamentável é a causa da saída desses médicos. Igualmente lamentável é assistir a claque de Bolsonaro, seus eleitores fanáticos, aplaudindo a decisão desastrosa, anunciada pelas redes sociais, sem qualquer diálogo com os envolvidos. E por que isso ocorre? Não tem nada a ver com a capacidade profissional dos médicos cubanos. O que move o presidente eleito do Brasil é aquilo que ele gosta de dizer que está nos outros: o viés ideológico.
Cuba fez um acordo com o Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde para mandar ao país mais de 10 mil médicos num momento em que os brasileiros mais precisavam de socorro. Não é verdade o que anda dizendo Bolsonaro sobre “relatos de verdadeiras barbaridades”. Tais relatos chegam tão somente ao presidente eleito?
Diante do ouvi dizer ou do delírio ideológico, Bolsonaro vai para as redes sociais e começa a fazer exigências, impor novos critérios para o programa. Por que não fez isso de forma civilizada, chamando à mesa os atores envolvidos no acordo?
O presidente eleito do Brasil deixa claro, nas frases de efeito que gosta de usar nas redes sociais, que está incomodado com o pagamento dos médicos cubanos, porque “hoje, a maior parte [é] destinada à ditadura [de Cuba]”. O presidente tem todo o direito de discordar, mas não deve tratar um assunto tão delicado pelas redes sociais.
Nesta sexta-feira, 16, Jair Bolsonaro saiu-se com a mais nova frase de efeito em defesa de sua tese: “Nunca vi uma autoridade no Brasil dizer que foi atendido por um médico cubano”, disse. “Será que nós devemos destinar [esse atendimento] aos mais pobres sem qualquer garantia que eles sejam razoáveis, no mínimo? Isso é injusto e desumano”.
Bolsonaro esqueceu de que o Mais Médicos foi criado porque os médicos brasileiros não aceitam trabalhar em municípios distantes dos centros urbanos e nas periferias das grandes cidades?
E para piorar, nesta manhã, iniciou uma entrevista coletiva no 1° Distrito Naval, no Rio de Janeiro, e se recusou a falar sobre o assunto. Depois de responder a uma pergunta, ele deixou o local, sem responder a segunda, alegando o seguinte: “Como o assunto saiu da área militar, quero agradecer a todos vocês”.
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