O Amazonas é o primeiro no ranking nacional de mortes de mulheres por câncer de colo de útero. Os números só crescem nos últimos anos. No ano de 2015, morreram 277 mulheres; em 2016, foram 254; em 2017, 293; em 2018, 289; e no ano de 2019, foram 279 vítimas fatais, sendo 209 só na capital. Uma média de 23,5 óbitos/mês em todo o Estado. As vítimas são jovens e em plena capacidade de trabalho.
Os números são alarmantes para uma doença 100% evitável, com tratamento e cura totalmente esclarecidos, com prevenção via vacina, exame periódico e intervenção cirúrgica e que leva de 10 a 15 anos para aparecer e se desenvolver na sua forma mais grave.
Esse é o retrato cruel da saúde da mulher em Manaus, resultado também de gestões municipais despreparadas, com muitas falhas nas políticas de saúde básica, e foi tema de um debate virtual que realizei semana passada, com a participação de médicos especialistas e gestores da Fundação Cecon (Centro de Oncologia do Amazonas), para nos ajudar na construção do Plano de Governo Municipal (2021-2024), de forma democrática e participativa.
Os médicos alertaram que a maioria das mulheres do Estado não faz preventivo. Não faz pela dificuldade de acesso ao exame e pela longa espera pelo resultado do exame, principalmente, quem mora no interior. Só em Manaus se faz biópsia de colo uterino e só existem cinco policlínicas para esse atendimento, sendo três do Município e duas do Estado. E de hospital especializado, só existe a Fundação Cecon para fazer as cirurgias, hoje com 100 mulheres nessa fila de espera.
Segundo Mônica Bandeira, médica ginecologista da Fundação Cecon, a vacina contra o HPV aplicada nos adolescentes entre 9 a 14 anos tem trazido bastantes resultados na prevenção do câncer de colo de útero. O Amazonas, em 2013, foi o pioneiro ao aplicar a vacinação nas escolas. No entanto, a transferência da vacinação das escolas para um posto de saúde reduziu em 40% a adesão à vacina.
Mas a saúde feminina não se resume apenas às questões ginecológicas. Há também a necessidade de políticas para a saúde da mulher que inclua ações preventivas, mas também com diagnóstico, tratamento e recuperação. Além do atendimento no pré-natal, parto e puerpério, como também no planejamento familiar e no combate à contaminação de DST, dentre outras necessidades.
E não podemos esquecer da saúde das mulheres negras, quilombolas, indígenas, do campo e da floresta, que exige uma política de ações destinadas a reduzir as desigualdades em saúde. Como ainda proporcionar maior atenção às questões específicas de saúde de cada uma.
Na campanha para prefeito em 2016, defendi a construção de um Centro Especializado na Saúde da Mulher. No Município, precisa-se de médico clínico geral, pediatra, ginecologista, dentista, psicólogo para atender nas unidades de saúde. Hoje, a rede de atenção básica em Manaus não chega a 40% e mais da metade dos bairros não tem UBS. O Arthur passou quase oito anos e não construiu unidades de saúde.
Por isso, precisamos planejar e ampliar as ações em saúde, focados na prevenção, para que o atendimento chegue a todos e todas, evitando muitas mortes devido à falta de assistência, principalmente, das mulheres do nosso estado.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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