Parafraseando Karl Marx no clássico Manifesto Comunista, em sua convocação universal dirigida à toda classe operária, a convocação às mulheres do Brasil na luta contra o machismo, o fascismo e a misoginia reproduzidos por candidatos às eleições de 2018, ecoa de Norte a Sul, de Leste a Oeste do País.
Com a facilidade da articulação das redes sociais, jamais se viu algo parecido no Brasil. Redes simultâneas passaram a se organizar e em poucos dias já somos milhares de mulheres nos posicionando contra os discursos que ferem nossa dignidade e desafiam nossa capacidade de resignação.
Os movimentos de mulheres possuem um histórico importante de articulação em rede como o que ocorre na Marcha Mundial das Mulheres, movimento que nasceu em 08 de março de 2000 como uma grande mobilização mundial de mulheres em campanha contra a pobreza e a violência.
No Brasil, popularmente conhecida como a marcha das margaridas, as mulheres camponesas, desde 2000, ocupam as ruas de Brasília mobilizadas pelos diversos movimentos e instituições de articulação camponesa que reúnem trabalhadoras rurais, extrativistas, seringueiras, sem-terra, pescadoras, tecedeiras de arumã, quebradeiras de coco de babaçu e diversas outras categorias de mulheres organizadas no campo e nas florestas, com grande destaque na Amazônia. Em 2015, reuniram mais de 70 mil mulheres e configurou-se como o maior movimento de mulheres da América Latina reunidas em torno de uma mesma pauta: “marcharemos até que todas sejamos livres”!
Mesmo acostumada com a presença organizada das mulheres nas ruas lutando por seus direitos, a sociedade brasileira nunca tinha visto uma mobilização tão numerosa e expressiva. A articulação simultânea de mulheres de todas as classes e de várias idades na luta contra todas as formas de machismo, misoginia, discriminação, racismo, intolerância e homofobia, projetada nos discursos políticos e, de maneira especial, contra o candidato à presidência da Jair Bolsonaro. A trajetória política deste candidato e, mais expressivamente seus discursos de campanha ferem a dignidade e os direitos das mulheres.
Seu posicionamento e participação em Projetos de Lei como o PL 6055, que propõe a retirada da obrigatoriedade do Sistema Único de Saúde – SUS, de atender mulheres vítimas de violência sexual revela seu projeto político contra as mulheres. Sua manifestada apologia ao estupro, seus discursos machistas e propagadores da misoginia e da homofobia denunciam seu fascismo despudorado.
Diante destas e de muitas outras atitudes de desrespeito às mulheres, a reação de resistência vem tomando conta de diversos setores da sociedade. Mulheres organizadas contra o ‘coiso’, (como é chamado por aquela que não querem pronunciar o nome do candidato) tornou-se sinônimo de luta contra todas as formas de violência propagadas nos discursos políticos.
O alcance desse tipo de movimento pode impactar de maneira surpreendente nos resultados das eleições uma vez que as mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro. Movimentos como este revelam que as mulheres brasileiras, ao contrário do que propagam os discursos fascistas, estão muito atentas à conjuntura política, sabendo se posicionar com consciência e de forma articulada em todas os setores da sociedade. Essa mobilização pode representar um passo importante para encorajar mais mulheres a entrarem na política partidária nas próximas eleições. Para além disso, o movimento em si já representa uma mudança importante na participação das mulheres nos destinos políticos do País.
Viva o protagonismo das mulheres!
Viva todas as mulheres na luta e contra todas as formas de violência e contra o fascismo que fere o estado de direito e a democracia!
Marcia Oliveira é doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), com pós-doutorado em Sociedade e Fronteiras (UFRR); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, mestre em Gênero, Identidade e Cidadania (Universidad de Huelva - Espanha); Cientista Social, Licenciada em Sociologia (UFAM); pesquisadora do Grupo de Estudos Migratórios da Amazônia (UFAM); Pesquisadora do Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras: Processos Sociais e Simbólicos (UFRR); Professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR); pesquisadora do Observatório das Migrações em Rondônia (OBMIRO/UNIR). Assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM/CNBB e da Cáritas Brasileira.
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