Por Patrícia Borges, da Redação
MANAUS – Apesar de ser ainda um ambiente formado por maioria masculina, a cena da música de Manaus traz uma gama de mulheres que produzem música independente. Falar de presença feminina no cenário musical manauara nos remete a nomes importantes em diversos gêneros musicais.
Quem não se lembra de Sandrinha Andrade quando se fala de bolero em Manaus? Nascida em Manaquiri, a ‘Rainha do Bolero Lero’ embala noites românticas há mais de 25 anos e tem 21 discos gravados. Sandrinha canta, além de bolero, ritmos como cumbia e sertanejo.
Em 1994, Eliana Printes aqueceu a cena da música popular e ganhou destaque nacional com o primeiro disco da carreira intitulado Eliana Printes, com os sucessos “Por onde você for” e “Andando em silêncio”, de Adonay Pereira; e “Coração sonhador”, de Nilson Chaves.
No samba, a diva Fátima Silva marca presença há mais de 20 anos e gravou o disco ‘Quebra-cabeça’, interpretando composições de artistas amazonenses. Com a urbanidade quente de Manaus, a cantora Elisa Maia passeia com maestria entre o reggae, o indie e o soul, como mostra nas canções do EP ‘Ser da Cidade’, lançado em 2013.
Em meio a tantos exemplos de mulheres relevantes na produção cultural de Manaus, o Atual teve a (difícil) missão de listar (apenas) 5 das diversas cantoras poderosas que representam a mulher de Manaus.
Lorena Simpson
Com o hit ‘Brand New Day’ de 2008 (parceria com Dj Filipe Guerra), Lorena Simpson se consagrou na House Music internacional. Natural de Manaus, iniciou carreira como dançarina aos 11 anos. Em 2006, compôs o elenco de dançarinos e coreógrafos da cantora Kelly Key.
Em 2008 lançou o primeiro single, intitulado “Feel Da Funk”, alcançando a 26ª posição no Hot Club Dance Play. Em 2010, Lorena foi nomeada Embaixadora da Diversidade Sexual no México, ficando entre as cinco artistas mais tocadas do país. Aos 30 anos, Lorena Simpson possui um grande público LGBT e faz de sua arte militância contra a intolerância de gênero.
Sem dúvida, uma das artistas manauaras com trabalho mais consistente e bem produzido. Confira:
Karine Aguiar
Com dois discos lançados e uma voz aveludada e singular, a cantora, compositora e pesquisadora amazonense Karine Aguiar atua profissionalmente desde 2007.
Em 2012 lançou ‘Arraial do Mundo’, primeiro disco da carreira, no qual propõe o Jungle Jazz (mescla de jazz e ritmos da Amazônia). O disco ganhou o prêmio “Brasil.Fr” de melhor CD de música popular brasileira na França.
Em 2014 Karine se apresentou na sede da Unesco, em Paris, acompanhada pelo baterista/percussionista e marido Ygor Saunier, para uma plateia de 1.500 pessoas.
Em julho de 2016, gravou o disco “Organic” com a produção do jazista norte americano Matthew Parrish, gravado nos estúdios Trama e com a participação de grandes nomes da música brasileira e mundial dentre eles, o pianista Fábio Torres, do Trio Corrente; e o violonista Guinga. Uma ótima opção de disco para apreciar, confira:
Márcia Siqueira
Márcia Siqueira, a Rosa Vermelha amazonense, é uma das cantoras de maior atuação na cena da música manauara. Fez sua primeira apresentação em público aos 4 anos de idade, na ‘Noite dos Talentos’, em Itacoatiara.
Porta voz da temática amazônica, gravou os discos “Canto de Caminho” e “Encontrar Você”. Representou o Amazonas na EXPO 2000 em Hannover-Alemanha. Dentre muitos outros projetos dos quais participou se destaca a comemoração dos 80 anos do poeta Thiago de Mello ao lado de Sebastião Tapajós, Nilson Chaves, Eliakin Rufino e Raízes Caboclas.
Em 2012 lançou o disco ‘Ritual’, como parte do III Festival Amazonas de Música. Com ampla atuação na produção de música da cidade e com mais de 20 anos de carreira, Márcia também atua no projeto ‘Elas cantam samba’ ao lado das cantoras Lucilene Castro, Fátima Silva e Cinara Nery.
Márcia Siqueira é uma das vozes mais marcantes de todo o país e segue militando com muito amor pela música.
Lucinha Cabral
Caboquinha da pátria d’água com muito orgulho e farinha, Lucinha Cabral é um dos nomes mais relevantes da cena da música manauara. Com mais de 30 anos de carreira e, com sua voz e interpretação singular, Lucinha movimentava bares, casas noturnas e espaços culturais da cidade desde a década de 1980.
Na época onde todas as cantoras almejavam o título de ‘Elis Regina do Amazonas’, Lucinha chega na contramão desse modismo, impostando sua voz, Lucinha ficou conhecida, inicialmente como ‘João Bosco de saia’.
Seu trabalho exalta a temática amazônica e brinca com sonoridades, ritmos – do bolero ao samba – e arranjos, imprimindo suas próprias características em qualquer canção. Ela coleciona participações em importantes festivais de músicas como Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani), Fórum Mundial de Cultura em São Paulo e Festival de Gastronomia da Colômbia.
Em 2017 participou do projeto ‘Flor da Selva’, da Cauxi Produtora Cultural, no qual apresentou as canções ‘Love Tupiniquim’ e ‘Cadê’, mostrando toda sua irreverência e relevância social de suas canções.
Djuena Tikuna
Primeira artista indígena a protagonizar um espetáculo no Teatro Amazonas, Djuena Tikuna lançou seu primeiro disco em 2017, intitulado ‘Tchautchiüãne’ (Minha Aldeia), no qual mescla elementos musicais do povo tikuna a influências da World Music em uma arte engajada e militante.
A cantora e jornalista tem se destacado no cenário nacional com participações em eventos como a RIO+20 e na gravação do audiovisual “Demarcação Já!”, uma homenagem de mais de 25 artistas aos povos indígenas do Brasil, com letra de Carlos Rennó e música de Chico César.
Djuena se apresentou com Maria Gadu e Caetano Veloso na Conferência Cidadã, em São Paulo, uma reunião entre artistas, ativistas, indígenas, parlamentares e movimentos sociais para debater e pensar os desafios do país.
Neste ano, o disco ‘Tchautchiüãne’ foi indicado à maior premiação musical indígena do mundo. Foi a primeira vez que uma artista indígena do Amazonas recebeu indicação ao “Indigenous Music Awards”’, realizado anualmente no Canadá.