Do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – Como todo diretor, Vicente Amorim vive o que se chama de TPL, tensão pré-lançamento de seu novo longa, Motorrad, que estreia nesta quinta, 1.º, em salas de todo o Brasil. Mas ele admite que sua posição está um pouco mais confortável. Desde que Motorrad foi selecionado para a mostra principal de Toronto, no ano passado, ocorreu o que ele nunca experimentara antes. “O filme foi vendido para mais de uma dezena de países e mercados importantes, como China, Japão. Sempre quis fazer um filme de gênero, mas não imaginava que poderia ter essa repercussão.”
Triplamente de gênero – um filme de estrada, de moto e de terror. Uau! A proposta partiu do produtor L.G. Tubaldini Jr, que convidou Danilo Beyruth, um raro desenhista brasileiro a trabalhar em comics dos EUA, para ajudar a formatar o conceito. Como diretor, Amorim, deu seu aporte. “Não sei trabalhar de outro jeito. Ou consigo colocar minha marca ou não entro no projeto. Como todos os meus filmes, Motorrad é uma história de iniciação e de afirmação da identidade.”
Pense em Caminho das Nuvens, Corações Valentes, no próprio Irmã Dulce. Um garoto sonha integrar a gangue de motoqueiros do irmão mais velho. Cai na estrada atrás do grupo. Surge esse muro misterioso, que, transposto, será como um portal para outra dimensão. A vasta paisagem – um paraíso? – revela seu lado infernal. Há outro grupo de motoqueiros. Misteriosos, sem face. Parecem aliens. Iniciam uma matança. Quem são esses caras? Não é mera coincidência que Guilherme Prates, Carla Salle e Emílio Dantas, o elenco de Amorim, monte nas motos seguindo o exemplo de Cauã Reymond em dois filmes sucessivos, Reza a Lenda e Não Devore Meu Coração. A própria paisagem, captada pela câmera de Fernando Habda, vira personagem. A fisicalidade leva ao erotismo. “Não podia haver vacilo. Homens e mulheres têm de ser desejáveis para o público. Só assim a ameaça do terror se torna verdadeira, e funciona”, avalia o diretor.
Helen Mirren, vítima da maldição das almas (e armas)
A Maldição da Casa Winchester
Depois do Oscar, que recebeu por A Rainha, Helen Mirren virou uma estrela rentável para Hollywood. Não cobra exageradamente, faz bem qualquer tipo de papel. Humor, espionagem, ação, Helen tem feito de tudo. Faltava o terror. Você leu direito – faltava. A Maldição da Casa Winchester, dos irmãos Michael e Peter Spierig, destaca-se da pasmaceira da produção de gênero de Hollywood por se basear numa história supostamente real.
Helen faz a herdeira de uma empresa de armas de fogo. O império paterno era tão grande que o levou a construir uma casa imensa, com quartos suficientes para abrigar um batalhão. A Mansão Winchester existe e reza a lenda que passou a ser habitada pelas almas das vítimas das armas de fogo que fizeram a fortuna familiar. Na ficção, Helen fica meio doida após as mortes do marido e do filho. Surge um psiquiatra, interpretado por Jason Clarke, para avaliar o estado dela. Além da possível qualidade da interpretação, o filme tem o timing certo. Após a nova chacina na Flórida, o controle de armas divide, de novo, a América.
Nem a bela Jennifer salva ‘Operação Red Sparrow’
Jennifer Lawrence tem se destacado tanto em defesa de um lugar da fala das mulheres na produção de Hollywood que ninguém mais estranha ver a vencedora do Oscar e detentora de um dos maiores salários da indústria reclamar da vida. Chegou a hora de nós, o público, reclamarmos também. Em nome da credibilidade, ‘Jen’ poderia escolher seus papéis com um pouquinho mais de discernimento.
Na linha “ação e espionagem pós-guerra fria”, Operação Red Sparrow é sobre bailarina russa cooptada a integrar um programa secreto em que mulheres são treinadas para seduzir, e matar. Mesmo com tudo o que a oposição diz de ruim da Rússia sob Vladimir Putin, os russos desse filme são monstruosos, a ação é lenta e, se você tinha alguma expectativa de ver a bela Jennifer num papel tipo a Atômica de Charlize Theron, bem, pode ir desistindo.
Mas tem nu frontal da estrela, o que tem gerado polêmica entre feministas que a acusam de fazer o jogo do objeto de desejo masculino. Jeremy Irons e Charlotte Rampling têm talento demais para seus pequenos papéis.