
MANAUS – Pesquisadores do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD) vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) estão utilizando mosquitos adultos da dengue no combate à doença. Eles descobriram que os mosquitos podem auxiliar no controle da doença no País ao levar inseticida aos criadouros de difícil acesso ou inacessíveis aos agentes de endemias.
A estratégia consiste em atrair as fêmeas do Aedes aegypti e Aedes albopictus, que são vetores do vírus da dengue, até pequenos baldes, chamados de ‘estações de disseminação’, tratados com o inseticida ‘Pyriproxyfen’. Nas estações de disseminação, os mosquitos entram em contato com pequenas partículas do inseticida em pó que grudam em seu corpo e são levadas por eles até os criadouros, onde são depositados os ovos. A água dos criadouros vira, então, uma ‘armadilha letal’ na qual as larvas morrem antes de chegar ao estágio adulto.
De acordo com o diretor da ILMD Fiocruz Amazônia e integrante do projeto de pesquisa, Sérgio Luiz Bessa Luz, o estudo, pioneiro no Brasil e na região Amazônica, iniciou em 2009, no bairro Tancredo Neves, na zona leste de Manaus, onde foram colocadas 100 estações de disseminação.
“Monitorávamos o Tancredo Neves há cerca de quatro anos antes de iniciar o estudo com os mosquitos, então sabíamos a quantidade de larvas que nasciam naquela área semanalmente, mensalmente e anualmente. Havia uma mortalidade de, no máximo, 10% das larvas que nasciam. Com a execução da estratégia, a taxa de mortalidade das larvas foi superior a 90%”, disse.
Segundo o estudo, os mosquitos podem levar o inseticida das estações de disseminação até os criadouros situados a até 400 metros de distância. Antes da instalação das estações de disseminação, a mortalidade de Aedes aegypti nos criadouros era de 3% a 4%. Durante o estudo, 94% dos criadouros de uma área central do bairro Tancredo Neves foram contaminados com inseticida disseminado pelos mosquitos. Após a disseminação do inseticida, a mortalidade das larvas chegou a até mais de 95%.
Os resultados geraram o artigo ‘Mosquito – Disseminated Pyriproxyfen Yields High Breeding-Site Coverage and Boosts Juvenile Mosquito Mortality at the Neighborhood Scale’ que foi publicado na revista PLoS Neglected Tropical Diseases.
“Acreditamos que será uma ferramenta a mais dentro das atividades que já estão sendo desenvolvidas para combate e controle da dengue. Os agentes continuariam tratando os criadouros visíveis e acessíveis, enquanto os mosquitos disseminariam o inseticida nos criadouros inacessíveis ou difíceis de serem detectados”, disse Bessa.
Ele explicou que para construção das estações de disseminação, os pesquisadores precisam triturar o inseticida, que é fabricado em pó, com uma dose de água, transformando-o em uma pasta. Esta pasta é passada nas bordas do balde, que serve como estação de disseminação. Com isso, quando o mosquito se aproxima do recipiente, é contaminado e passa a ser um dispersor do inseticida.
“Muitos criadouros de Aedes aegypti são pequenos e ficam em locais escondidos, o que os torna difíceis de detectar; outros criadouros estão dentro de prédios fechados ou em outros locais inacessíveis para os agentes de controle. Simultaneamente ao estudo, estamos tentando facilitar a construção das estações de disseminação para baratear e simplificar o procedimento”, disse o pesquisador.
‘Três em um’
De acordo com Sérgio Bessa, a estratégia pode ser utilizada para o combate e controle, além da dengue, da febre amarela e da febre chikungunya. “Se você combate o vetor das doenças (mosquito), você combaterá três doenças clássicas por ele transmitidas: febre amarela, dengue e o chikungunya, as duas últimas ainda sem vacinas. Se diminuímos a quantidade de vetores (mosquitos), diminuiremos o número de contaminações”, disse o pesquisador.
Para testar a estratégia em um ambiente maior, os pesquisadores estão dando continuidade às ações do projeto de pesquisa no município de Manacapuru (localizado a 68 quilômetros de Manaus), no interior do Amazonas.
O município faz parte da Região Metropolitana de Manaus (RMM) e pode ser acessado por via terrestre e fluvial. “É um local em que podemos fazer um controle da doença e analisar a cidade inteira. Passamos um ano e meio monitorando o município e, em março deste ano, espalhamos mil estações de disseminação em toda a cidade. Os resultados são promissores”, disse Bessa.
A previsão é que o estudo no município finalize no mês de julho deste ano. “Se constatarmos que deu certo em Manacapuru, podemos estender a estratégia para outros municípios similares no interior do Amazonas e, em seguida, partir para ações em todo o País”, disse o pesquisador.
Segundo ele, o estudo deve ser finalizado em julho deste ano com monitoramento e análise dos resultados. “Os resultados é que irão nos direcionar para os próximos passos”, disse Sérgio Bessa.
As atividades do projeto de pesquisa foram desenvolvidas com apoio da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e as ações em Manacapuru estão sendo realizadas com apoio da Secretaria Municipal de Saúde, sob supervisão da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam).
O inseticida
O ‘Pyriproxyfen’ é um biolarvicida granulado, que não é tóxico a humanos, utilizado pelo Ministério da Saúde no combate à dengue no País. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a substância tem um rendimento de dois miligramas para cada mil litros de água e atua no Aedes aegypti em sua fase larval em um período de 10 a 15 dias após a administração.
Colocado em um recipiente com água, o ‘Pyriproxyfen’ age como um hormônio de crescimento do inseto do qual a larva vai se alimentar, matando-a antes que ela se transforme em um mosquito.
(Com informações da Fiocruz)