Da Folhapress
SÃO PAULO – O ministro da Justiça, Sergio Moro, disse nessa segunda-feira, 20 considerar uma “bobageirada” a publicação de reportagens sobre conversas suas no aplicativo Telegram e criticou declaração do ministro do Supremo Gilmar Mendes a respeito da divulgação de áudio de telefonema entre os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff em 2016.
Desde junho passado, o site The Intercept Brasil e outros veículos têm publicado uma série de reportagens com mensagens de autoridades da Lava Jato que mostram que havia colaboração entre Moro e o chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol. As conversas apontam, por exemplo, que o então juiz orientou a respeito da ordem de fases da operação, indicou uma prova para uma denúncia do Ministério Público e sugeriu uma testemunha.
Em entrevista ao Roda Viva nesta segunda, Moro disse que o tema é “um episódio menor” em seu primeiro ano no governo federal.
“Sinceramente nunca dei muita importância para isso. Acho que ali tem um monte de bobageirada, nunca entendi muito bem a importância (dada) para aquilo. Agora, foi usado politicamente para tentar, vamos dizer assim, soltar criminosos presos, pessoas que tinham sido condenadas por corrupção e, principalmente, tentar enfraquecer politicamente o Ministério da Justiça.”
Moro foi questionado também sobre sua decisão, na época em que era o juiz responsável pela Lava Jato, de tirar o sigilo de conversas telefônicas entre Lula e Dilma em março de 2016, em uma iniciativa que acabou aumentando a pressão pelo impeachment da então presidente.
Após aquela medida de Moro, Gilmar Mendes concedeu uma liminar suspendendo a nomeação de Lula para a Casa Civil do governo, diante da suspeita de obstrução de Justiça.
Em entrevista no ano passado, Gilmar afirmou que hoje tem “muitas dúvidas” sobre o assunto. “Muito mais dúvidas do que certeza e lamento muito esse tipo de manipulação.”
Nesta segunda, Moro defendeu sua medida na ocasião, mas disse que é atribuída ao áudio uma importância que não existe.
“É muito fácil (afirmar:) ‘2016, ah, não tenho culpa nenhuma, fui manipulado’. Não existe nada disso. Ele (Gilmar) tomou a decisão dele na época, ele assuma a responsabilidade pela decisão que ele tomou. Nada ali foi objeto de manipulação ou qualquer espécie de falsidade.”
Na entrevista, Moro falou sobre a possibilidade de ser nomeado para o Supremo por Bolsonaro, em vaga que será aberta neste ano. O presidente já defendeu que pretende indicar alguém “terrivelmente evangélico” para o cargo.
Moro afirmou que a religião não é um fator fundamental para a escolha e disse ser católico.
O ministro da Justiça também foi questionado no programa a respeito de ataques do presidente Jair Bolsonaro a jornalistas.
Disse que não falaria especificamente sobre o comportamento do presidente, mas afirmou que Bolsonaro “tem sido criticado e muitas vezes ele reage”.
Em outros momentos da entrevista, que marcou a estreia da jornalista Vera Magalhães à frente do programa, disse respeitar uma “cadeia de comando” quando existem divergências com Bolsonaro.
Sobre a sanção pelo presidente do pacote anticrime, com diversos pontos sobre os quais Moro é crítico, disse que Bolsonaro entendeu que, se vetasse determinados trechos, acabaria sendo derrotado posteriormente na Câmara.
Para o ministro da Justiça, a implantação da figura dos juízes das garantias, magistrados que ficarão responsáveis apenas pelas investigações de casos na Justiça, só pode ser concretizada se for editada uma nova lei, com o texto atual sendo considerado inconstitucional.
“Não é uma prioridade para a melhoria do nosso sistema judiciário.”
Questionado sobre os motivos de não se manifestar acerca de assuntos como a defesa da ditadura militar por integrantes do governo ou o ataque à produtora do grupo Porta dos Fundos, no fim do ano passado, o ministro disse que não é um “comentarista sobre tudo”.
Sobre a saída do secretário nacional da Cultura, Roberto Alvim, que foi demitido na sexta-feira, 17, após discurso no qual parafraseou Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Moro chamou o caso de “episódio bizarro” e disse que não se pronunciou porque o presidente já havia decidido demitir o subordinado.