EDITORIAL
MANAUS – Em entrevista à TV Brasil, na última segunda-feira (9), o ministro da Educação, Milton Ribeiro, mostrou-se totalmente despreparado para o cargo tanto pelas opiniões quanto pelas informações que prestou para defender suas posições políticas e sua “política” para a educação brasileira.
Ribeiro disse, sem tirar nem pôr, que a “universidade na verdade deveria ser para poucos nesse sentido de ser útil à sociedade”. Para poucos, quem, ministro? Ou quem seriam os poucos? O ex-ministro Ricardo Vélez, o primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, já havia dito algo semelhante e deu a dica: “as universidades deveriam ficar reservadas para uma elite intelectual”.
A frase completa do ministro Ribeiro traz uma outra informação equivocada ou propositadamente mentirosa. Ele defendia a necessidade de se alavancar o ensino técnico em detrimento do ensino superior:
“Então acho que o futuro são os institutos federais, como é na Alemanha. Na Alemanha são poucos os que fazem universidade, universidade na verdade deveria ser para poucos nesse sentido de ser útil à sociedade”.
Não é verdade que a universidade na Alemanha é para poucos. O que há são cursos superiores voltados para a área técnica. O país europeu tem três tipos de instituições de ensino superior. 1) Há universidades com foco maior na pesquisa, com cursos para quem se interessa pelo estudo científico, acadêmico e mais teórico; 2) Há instituições consideradas universidades de ciências aplicadas, com cursos de ensino superior técnico, mais voltado para a orientação prática ou aplicada; e 3) Há as universidades voltadas para as artes, para estudantes interessados no estudo de artes, moda, design, música e cinema.
O ministro também se mostra ignorante sobre o próprio funcionamento dos Institutos Federais de Educação brasileiro, que atualmente oferecem cursos de nível superior aos seus alunos, voltados, sim, para o mercado de trabalho.
A justificativa de Milton Ribeiro para reduzir a oferta de cursos nas universidades e direcionar o ensino nessas instituições para uma “elite intelectual” é o fato de ele saber que há engenheiros ou advogados “dirigindo Uber”.
Esse fato tem menos relação com a formação universitária e mais com o mercado de trabalho, ou a falta de oportunidades pelo crescente desemprego nos últimos anos no Brasil.
O ministro também defende que o “filhinho de papai” tenha mais direito aos bancos das universidades do que os mais pobres egressos de escolas públicas. O motivo, segundo Ribeiro, é que os pais desses “filhinhos de papai” “são aqueles que pagam os impostos no Brasil que sustentam bem ou mal a universidade pública”.
Aqui, o ministro da Educação mostra-se novamente totalmente ignorante ou propositalmente falacioso. Está mais do que provado que, proporcionalmente, os pobres e a classe média pagam mais impostos no Brasil do que os ricos, com o agravante de que os primeiros não têm como fugir da cobrança enquanto boa parte dos segundos sonegam tributos.
Milton Ribeiro também afirma ter tomado um susto quando assumiu a pasta da Educação e se deparou com a administração pelo MEC de 50 hospitais universitários. Qualquer pessoa no Brasil que passou pela universidade pública sabe como funcionam os hospitais universitários geridos pela Ministério da Educação. O reitor de uma universidade particular não sabia. Em que país vivia Milton Ribeiro antes de cair de paraquedas no MEC?
Milton Ribeiro também disse ter ficado surpreso ao chegar no MEC e saber que o Brasil tem 38 Institutos Federais de Educação, que foram criados em 2008, quando o governo federal transformou as antigas escolas técnicas federais, de nível médio, em instituições de ensino médio e superior.
Enquanto isso, em mais de um ano à frente da pasta – completou um ano no mês passado – o ministro ainda não mostrou a que veio. Nenhuma ação relevante na educação brasileira além de uma propaganda espetaculosa sobre o “novo ensino médio”.
Privatizem o ensino brasileiro de ponta a ponta. É melhor entregar para o mercado do que continuar nas mãos do Estado.