
Informação e Opinião
Por Valmir Lima, do ATUAL
MANAUS – As filas em Parintins sempre foram uma atração à parte no Festival Folclórico, com todas as mazelas que elas possam produzir. E não são poucas e conhecidas de todos. Mas há vantagens e desvantagens, inclusive para os visitantes, que não conseguem comprar ingressos para assistir aos espetáculos promovidos por Caprichoso e Garantido. A entrada do Ministério Público do Amazonas no game, anunciada nesta sexta-feira (20), pode gerar mais problema do que solução tanto para os parintinenses quanto para os visitantes. O MPAM não deveria se meter em uma seara que não é dele.
As filas para acesso às galeras de Caprichoso e Garantido começam a se formar bem antes do dia da festa. Neste ano, segundo o Ministério Público, começou 14 dias antes da primeira noite do festival. Algumas pessoas fazem revezamento para garantir os primeiros lugares na galera. São pessoas apaixonados pelo seu boi. Mas elas são apenas uma parte das pessoas que enfrentam sol e chuva durante dias.
Há os que também guardam lugares na fila para vender. E não há qualquer irregularidade nessa atividade, como querem fazer crer os promotores de justiça. São pessoas que aproveitam a festa para ganhar uns trocados. No dia da festa, essas pessoas vendem o lugar por R$ 150 R$ 200 (preços de 2024). Muitos turistas só conseguem entrar para assistir aos espetáculos na arena por essas pessoas.
Enfrentar uma noite e um dia em uma fila, no calor de junho, em Parintins, não é um programa glamuroso, é, sim, um sacrifício. Por isso, para os turistas que não conseguem comprara os parcos ingressos colocados à venda a preços exorbitantes, resta “comprar” um lugar na fila.
Portanto, ganham os moradores que ficam na fila e ganham os turistas. Essa prática se repete há anos em Parintins. Por que, agora, o Ministério Público quer mexer nessa dinâmica?
Há coisas mais graves no Festival de Parintins que deveriam mobilizar o MPAM e as autoridades em geral. Em 2024, dezenas de cambistas vendiam ingressos para as arquibancadas em frente ao bumbódromo, nos três dias de apresentação, ao preço de R$ 2 mil. Como eles conseguem ingresso que, quando colocados à venda, se esgotam em alguns minutos?
Os turistas que vão a Parintins não têm qualquer chance de entrar pela porta da frente se não conseguirem o passaporte para a festa via agência de viagem. Portanto, o festival fica restrito a quem pode pagar mais caro. E quem não consegue, ou se submete à extorsão dos cambistas e paga R$ 2 mil por uma noite, ou vai para a fila, com chances mínimas de conseguir entrar.
Algumas pessoas que se aventuram na fila perdem horas a fio ao sol e calor (as vezes enfrentam chuva) e ficam frustradas quando os portões se fecham faltando alguns metros para a chegada.
Por outro lado, boa parte dos lugares nas arquibancadas das galeras são reservadas para as agremiações de Caprichoso e Garantido. Segundo os responsáveis, esses lugares são necessários para os garantir a entrada, sem esforço, de pessoas que vão animar a galera, item oficial do festival, portanto, concorrendo a notas.
Esses lugares reservados são distribuídos aos amigos e parentes das diretorias dos bumbás, sem qualquer critério. Pouco mais da metade das vagas nas arquibancadas que sobram são oferecidas para a “galera” das filas. Essas pessoas que ficam dias e noites em locais insalubres e sem estrutura ocupam os piores lugares na arena. Boa parte fica atrás do “palco” e assistem às apresentações pelas costas das alegorias e não podem sentar durante a apresentação.
Nem os cambistas nem a distribuição desses lugares privilegiados preocupam o Ministério Público. A preocupação é com a população mais pobre que ganha um dinheirinho guardando lugares na fila ou que compra esses lugares a preço acessível. Lamentável!
Para mudar essa realidade, o MPAM e as autoridades precisariam acabar com as filas nos dias que antecedem o festival. Na hipótese de conseguirem essa proeza, poderiam “permitir” a formação da fila horas antes da festa nos três dias de festival. Como organizariam para permitir que todos participassem de forma equânime é uma resposta difícil de responder.