Da Folhapress
SÃO PAULO – Milton Nascimento, que vai se despedir dos palcos de uma vez por todas este ano, terá o figurino de sua turnê inspirado na obra de Arthur Bispo do Rosario, artista que passou 50 dos seus 80 anos dentro de um hospício.
Em publicação no Instagram, o estilista Ronaldo Fraga, que assina o figurino dos shows, contou que se inspirou no manto da apresentação para prestar conta a Deus no dia do Juízo Final criado pelo sergipano.
Chamada “A Última Sessão de Música”, a turnê de despedida de Milton começa no próximo dia 11 de junho, no Rio de Janeiro, e vai até novembro, quando ele faz seu último show. A apresentação final do cantor está marcada para o estádio Mineirão, em Belo Horizonte.
“O ‘manto’ do Bituca traz fragmentos da sua carreira e universo bordados num nascer do sol no grande sertão veredas e, por baixo, um ‘fardão’ para um imortal com os mistérios do sertão”, escreveu o estilista no post.
A intenção de Bispo do Rosario ao criar mantos, objetos e outras peças na antiga Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, era fazer um grande inventário das criações da humanidade, a ser apresentado a Deus no Juízo Final. A empreitada era guiada por vozes que só ele ouvia.
Bispo fazia isso durante um dos períodos mais terríveis do modelo manicomial no Brasil. Eletrochoque, lobotomia e confinamentos chamados de “bolos”, em que várias pessoas eram trancadas e torturadas juntas, faziam parte do cotidiano da Colônia Juliano Moreira.
Mas os trabalhos dele extrapolaram o ambiente da Colônia e foram a parar em museus –o Itaú Cultural, aliás, inaugura no próximo dia 18 uma exposição sobre o artista.
Os organizadores da mostra convocaram cerca de 50 nomes que tinham alguma afinidade com o trabalho de Bispo para mostrar como ele influenciou a arte contemporânea. É o caso de bordados de Leonilson, de investigações têxteis de Rosana Paulino e Sônia Gomes, e das pinturas sobre papel pardo de Maxwell Alexandre, que retomam o universo criado por ele com toda sorte de tecido e objeto que ali encontrava.