
Por Guilherme Caetano, do Estadão Conteúdo
BRASÍLIA – De volta ao hospital após complicações decorrentes da facada sofrida durante a campanha eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro (PL) se recupera no Hospital DF Star de Brasília em meio ao protagonismo assumido por sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, e a superexposição da imagem de um ex-presidente vulnerável, mas resistente, que segue no trabalho, com os aliados, para aprovar o projeto de anistia para todos os envolvidos no golpe de 8 de janeiro.
Bolsonaro passou por uma cirurgia de 12 horas no domingo (13) para desobstrução intestinal após sentir fortes dores abdominais durante uma viagem ao Rio Grande do Norte dois dias antes. O procedimento foi considerado satisfatório, mas a recuperação deve ser longa, e não há previsão de alta nesta semana.
Enquanto isso, Michelle tem concentrado as decisões e exercido papel central nos cuidados ao marido. Aliados de Bolsonaro atribuem a ela e à equipe médica as restrições nas visitas ao ex-presidente, que permanecia na Unidade de Tratamento Intensivo na terça-feira (15) – as primeiras 48 horas da fase pós-operatória são consideradas cruciais para sua recuperação plena, dizem os médicos.
Pessoas próximas a Bolsonaro foram ao hospital no começo desta semana para tentar vê-lo, mas não conseguiram passar da recepção. Líder da oposição na Câmara, o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS) afirmou que Michelle é quem tem informado sobre o estado de saúde do marido.
“Serão boletins diários permanentes, mas hoje quem tem essas visitas logicamente é a primeira-dama, e quem ela assim julgar, os filhos, enfim. O acesso está sendo limitado à família e à equipe médica”, afirmou durante ida ao hospital na manhã de terça-feira. Ele não pôde subir ao quarto em que o aliado está internado.
O deputado federal Alberto Fraga (PL-DF), amigo de longa data de Bolsonaro, também foi ao local, mas se restringiu à recepção do hospital. “Não (subi até o quarto), já estava limitada a visita. Conversei com ela (Michelle) por telefone só para saber o estado do presidente. Ele (Bolsonaro) está se recuperando bem, mas as visitas estão restritas. O resto é com a primeira-dama e com os médicos, que vão dizer se vai abrir a visitação”, afirmou ao Estadão.
Michelle também foi responsável por escolher a nova equipe médica que realizou a cirurgia no intestino do marido. Bolsonaro era atendido pelo médico Antônio Luiz Macedo, que fez cinco cirurgias do ex-presidente desde a facada, mas ele foi substituído pela equipe médica do Hospital DF Star, liderada por Cláudio Birolini, especialista em cirurgia geral.
Desde que sentiu incômodo no abdômen e precisou ser socorrido em Santa Cruz (RN), no dia 11, pela manhã, Bolsonaro teve o estado de saúde exposto passo a passo nas redes sociais. Às 16h08 daquela sexta-feira, o próprio ex-presidente publicou nas redes sociais uma foto em que ele aparece deitado na cama do Hospital Rio Grande, em Natal, com sonda e eletrodos pelo corpo – expressando debilidade.
Desde então, foram sete fotos e vídeos que exploram um misto de vulnerabilidade e força. “Momentos assim nos lembram da fragilidade da carne e da fortaleza que vem da fé”, escreveu Bolsonaro numa das mensagens. Às 9h15 desta terça-feira, um vídeo publicado por seu entorno mostra o ex-presidente caminhando com dificuldade com a ajuda de um andador.
Na parte da tarde, a família Bolsonaro publicou novas imagens, desta vez com protagonismo de Michelle. Um vídeo compartilhado nos perfis do ex-presidente mostra ele caminhando ao lado da esposa pelo hospital, enquanto outro expõe a ex-primeira-dama lavando seus pés no quarto da UTI – ao fundo, uma trilha sonora instrumental de tom comovente.
Os filhos fizeram questão de explorar a convalescença. “70 anos, mas firme e forte. O momento é delicado, mas ainda assim faz jus ao apelido adquirido na EsEFEx (Escola de Ed. Física do Exército): cavalão!”, escreveu numa rede social o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ao compartilhar a imagem do pai se reabilitando.
Outros aliados exploraram o enquadramento épico da situação de Bolsonaro. “O que esse homem já enfrentou, quantas vezes já tentaram derrubá-lo, destruí-lo, e mesmo assim ele continua se erguendo todas as manhãs para lutar por nós”, publicou o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO). “Aqueles que o chamam de frouxo não aguentariam 1% do que @jairbolsonaro e sua família passam”, escreveu o deputado estadual Gil Diniz (PL-SP).
O tratamento midiático dado à internação de Bolsonaro é antagônico ao de seu principal rival político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No fim do ano passado, o petista se acidentou no Palácio da Alvorada, a residência oficial, e precisou passar por uma cirurgia na cabeça. Também por influência de sua esposa, a primeira-dama Janja, sua internação demorou a ser confirmada pela Presidência da República, e Lula passou a usar um chapéu-panamá para tapar os ferimentos deixados pelo procedimento cirúrgico.
Enquanto Bolsonaro está internado, seus aliados na Câmara dos Deputados avançam com a proposta de anistiar todos os presos pelos ataques do 8 de Janeiro. Na segunda-feira, o líder da bancada do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), protocolou um requerimento de urgência para a tramitação da proposta após ter reunido 262 assinaturas de colegas, pouco mais do que as 257 necessárias para uma eventual aprovação em plenário.