Por Bruno Molinero, da Folhapress
SÃO PAULO – Otimistas dirão que é preciso ter fé no mundo e que as coisas vão melhorar. Do outro lado do ringue, pessimistas vão falar que tudo está fadado ao fracasso -portanto, aproveite as coisas boas, mesmo que não sejam tão boas assim.
Pois a continuação da animação “Pets – A Vida Secreta dos Bichos”, que estreia nesta quinta-feira, 27, dá razão a esse segundo grupo. Não que o primeiro filme fosse brilhante, a ponto de qualquer sequência matar a obra-prima.
Como bem pontuou Ricardo Calil na época da estreia, em 2016, o título não cumpre o que promete, não se debruça sobre o que os animais fazem longe de seus donos nem destrincha a tal ‘vida secreta’ dos animais de estimação (algo que “Toy Story” faz muito bem com os brinquedos, por exemplo).
Mas, mesmo assim, o longa é simpático, bem produzido, com piadas engraçadas, um passatempo honesto para pais e filhos. Pois a continuação da história tinha a faca e o queijo na mão para dar o pulo do gato (ou do cachorro, do hamster, do papagaio, dependendo do seu bicho favorito).
Mas não chega nem perto disso. O diretor Chris Renaud (que dirigiu o primeiro longa e esteve à frente de animações como “Meu Malvado Favorito”) preferiu ligar o piloto automático e se segurar na receita de Hollywood para uma boa animação: mensagem edificante, conflitos com soluções fáceis e grande apelo visual. Na nova história, os cachorros Max e Duque são grandes amigos.
O problema agora é que o primeiro se apegou demais ao filho dos donos, ainda um bebê, e passou a ter comportamentos superprotetores, não deixando o menino nem respirar sozinho. É então que a família viaja para um sítio e Max precisa deixar para trás essa vocação de instrutor de condomínio fechado.
Com uma narrativa dividida em três partes -o aprendizado de Max na roça, uma cadela dondoca tentando recuperar um brinquedinho das garras de um exército de gatos e o resgate de um tigre de circo-, “Pets 2” não tenta criar algo original e prefere leva à tela, mais uma vez, um passatempo honesto recheado de morais da história.
No fim da animação, aprendemos que não adianta proteger excessivamente quem amamos, que a liberdade é a maior das virtudes, que trabalho em equipe é a chave para o sucesso e outras máximas que escorrem dos manuais vendidos a peso de ouro por coachs espalhados por aí.
Os grandes estúdios de Hollywood têm um controle de qualidade que praticamente impede o lançamento de animações ruins no cinema. O que é ótimo, diga-se. Mas esse mesmo padrão e controle da narrativa costumam cortar as possibilidades de ousadia (há exceções, é claro, e o próprio “Toy Story” e “Shrek” estão aí para provar). Mas essa fórmula consagrada e quadrada acaba dando razão aos pessimistas: não adianta ter fé no universo, as coisas não vão melhorar.