MANAUS – O governador José Melo, em entrevista à Rádio Tiradentes News, na manhã desta segunda-feira, 9, tentou desqualificar a reportagem do Fantástico, exigida na noite deste domingo, 8, em que aparecem denúncias de compra de votos na campanha eleitoral do ano passado que o reelegeu. Ele disse que os recibos mostrados na reportagem podem ser feitos por qualquer pessoa e que “em nenhum momento apresentam ali as coisas de forma muito clara”, referindo-se à reportagem.
O governador tentou tirar o foco das provas que estão nas mãos do Ministério Público e centrou fogo no adversário Eduardo Braga. Disse que foi eleito por uma diferença de 173 mil votos, e que tentar tirar o mandato dele é um desrespeito à vontade do povo. O governador também lembrou de um episódio da campanha eleitoral em que um grupo preso pela polícia civil praticando assalto na cidade usava uma Kombi alugada pela campanha de Eduardo Braga. “O que é realmente vergonhoso, é aquela prisão que foi feita, daqueles bandidos, contratados pela campanha do ex-ministro (sic) Eduardo Braga, para assalta a cidade de Manaus, para criar aqui em Manaus, em plena campanha, um clima de insegurança. Isso sim, é vergonhoso”, disse.
Sobre a mulher Nair Queiroz Blair, que aparece na reportagem e que fazia pagamentos às pessoas que recebiam dinheiro durante a campanha, o governado afirmou que “ela nunca foi coordenadora da minha campanha, nunca recebeu, por parte da minha campanha nenhuma delegação para falar em nome da campanha”. Sobre o local em que ela foi presa pela Polícia Federal dois dias antes do segundo turno das eleições, Melo afirma que não era comitê da campanha dele.
O governador também diz que determinou à Casa Civil a abertura de uma sindicância para apurar a denúncia em relação ao contrato da feito pelo secretário executivo adjunto de Segurança para Grandes Eventos, coronel Dan Câmara, com a ONG Agência Nacional de Segurança e Defesa, que tinha Nair Blair como presidente. Ele não soube informar o objeto contratado para a Copa do Mundo. “Só quem pode dizer isso é o resultado disse que eu vou levantar, porque muita coisa eu não posso, em sã consciência, garantir A ou B”, afirmou.
Leia a entrevista completa:
Ronaldo Tiradentes – Governador José Melo, o senhor chegou a pelo menos assistir à reportagem?
José Melo – Assisti e achei, no mínimo, estranhas muitas coisas, né. Em primeiro lugar, eu quero dizer que aquele local que eles apresentam nunca fez parte do meu comitê. Aquilo ali era um local onde estavam reunidos pastores, né. E aquela senhora que aparece lá daquele local, ela nunca fez parte da minha campanha, credenciada pra trabalhar na minha campanha. E aqueles recibos, qualquer uma pessoa poderia fazer um recibo daqueles e apresentar.
Uma outra coisa que eu, de forma, é é, muito estranha, Ronaldo, é que em nenhum momento apresentam ali as coisas de forma muito clara.
Essa eleição, Ronaldo, é foi uma eleição diferente. Porque foi uma eleição que elegeu o governador com uma diferença de 173 mil votos para o adversário, uma eleição que elegeu cinco dos oito deputados federais, uma eleição que elegeu 13 dos 24 deputados estaduais e elegeu o senador. Agora, vir dizer que uma eleição onde 869 mil pessoas foram compradas é uma coisa estranha.
Agora, o que a gente precisa inferir e as pessoas precisam saber, e o que é realmente vergonhoso, é aquela prisão que foi feita, daqueles bandidos, contratados pela campanha do ex-ministro (sic) Eduardo Braga, para assalta a cidade de Manaus, para criar aqui em Manaus, em plena campanha, um clima de insegurança. Isso sim, é vergonhoso.
Ronaldo: Governador José Melo, eu sinceramente não tenho detalhes; você tem notícia sobre isso, Marcos (Santos), eu não me lembro desse caso, se ele veio a público…
Melo – (interrompendo) Veio, Ronaldo, esse caso veio a público, tem um inquérito correndo na polícia sobre isso; foi sobejamente… Outra coisa: esse assunto que veio a público agora, que apareceu no Fantástico, também foi objeto da campanha, foi objeto da própria campanha do meu adversário, que colocou no seu programa (de TV). É uma matéria que foi tratada anteriormente.
Mas eu quero te dizer que estou… vou me defender nos campos próprios. Já determinei que fosse feita uma apuração rigorosa dessa história da Copa do Mundo. Porque você deve ter percebido que quiseram relacionar esse fato com o fato de que o dinheiro público estaria financiando compra de voto. Então, vou tomar todas as providências que eu tiver que tomar nesse sentido.
Ronaldo – Governador José Melo, é um terceiro turno que vamos ter por aqui?
Melo – É, parece que querem, não estão respeitando a vontade do povo, né Ronaldo. Você viu que nós tivemos uma eleição com 869 mil votos, contra 600 e poucos do adversário, que não se conforma em ter perdido a eleição; perdeu a eleição pros próprios erros, ne. Pela forma arrogante que sempre tratou as pessoas, pela maneira que sempre tratou a coisa pública como se fosse dele. Quer dizer: esses erros todos cometidos por ele fez com que o povo o reprovasse, e agora ele quer proporcionar um terceiro turno pela via judicial, desrespeitando completamente a vontade do povo. Eu quero te dizer, Ronaldo, que estou muito tranquilo, tô muito em paz. Ganhei a eleição por conta das minhas propostas, da minha história de vida. É engraçado: você acha, Ronaldo, que eu iria, com a minha história de vida, comprar voto por túmulo? Mas tudo isso a gente vai provar no campo certo. Eu queria apenas que a população… Falar assim para população, que me conhece, que sabe quem eu sou, e que essa não foi a única armação que foi feita; vem outras armações por aí, com toda certeza, mas estamos preparados.
Marcos Santos – Governador, o senhor fez uma acusação, agora, grave, essa história dos assaltantes contratados para criar um clima…
Melo – (interrompendo) Não, eu não fiz acusação, não. Isso aí, a Polícia que está lá. Foram presos numa Kombi paga pela campanha do então candidato Eduardo Braga. Eu não estou acusando, não, isso é fato. E pode ser verificado na polícia, tá lá, tem um inquérito, os bandidos foram presos.
Ronaldo – E aquela história da penitenciária, governador? É um assunto que tá muito na memória da gente, daquela denúncia de traficantes que estariam aliados à sua campanha. Que história é essa?
Melo – É outra coisa mais estúpida, aquilo ali. E olha como Deus é tão bom, né Ronaldo. É que quando veio o resultado da eleição, eu perdi nas urnas dentro da penitenciária. Quer dizer: Deus veio e deu a resposta imediatamente, né. Eu não ganhei dentro da penitenciária. Então, quem é amigo de bandido não sou eu, né.
Ronaldo – Governador, o senhor vai ter uma disputa, com esse terceiro turno que está aí se desenhando, vai ser decidido por um eleitorado bem pequenininho. É um eleitorado de sete pessoas. São sete juízes que vão julgar o senhor. Como é que o senhor tá vendo o perfil desse tribunal, o senhor está tranquilo? Há alguma exceção de suspeição contra um juiz que é suplente, contra o Márcio Meireles, e os demais juízes que também têm lá, que pesam contra eles acusação de serem aliados do seu adversário?
Melo – Olha, Ronaldo, eu não posso prejulgar o Tribunal (Regional Eleitoral), mas eu tenho confiança que eles venham, em primeiro lugar, da forma mais escorreita possível e, em segundo lugar, levar em consideração as teses que foram defendidas durante muito tempo em todos os tribunais de que tem que prevalecer a vontade do povo. O Dr. Marcio, foi julgada a suspeição dele porque ele, não sei se você lembra, na véspera da eleição, sábado da eleição (segundo turno), mesmo contrariando parecer do Ministério Público que dava favorável a nós, à nossa campanha, ele deu direito de resposta para o meu adversário em nove ou dez processos, mesmo contrariando o parecer do Ministério Púbico. Então, tava muito claro do lado que ele estava. Por isso, eu argui a suspeição. E qualquer juiz que tiver comportamento dessa natureza, eu não terei, é, eu orientarei o meu advogado que também faça a mesma coisa.
Ronaldo – Contra o Délcio Santos, que é advogado do senador Eduardo Braga, o senhor vai pedir suspeição?
Melo – Eu farei isso contra qualquer juiz que possa dar demonstração de que não é um juiz isento. Se o Délcio ou qualquer um outro juiz se manifestar nesse sentido, é claro que eu farei, afinal de contas, eu tô defendendo os meus direitos.
Marcos Santos – Qual é a sua expectativa, governador em relação a esse julgamento? Quanto tempo o senhor acha que vai demorar?
Melo – A minha expectativa é que o tribunal julgue à luz, primeiro, da lei, segundo, à luz da vontade do povo. Tem muitas coisas aí armadas. Por exemplo, tem um processo em que foram fotografados cartazes meus dentro de um carro do Ronda no Bairro. Isso entraria na cabeça de alguém de mínima inteligência de que eu iria colocar cartazes meus dentro de carro do Ronda no Bairro para sair distribuindo por aí? Então, foram feitas muitas armações nessa campanha, como aliás, tem sido a história política desse rapaz, que sempre fez isso. Sempre armou, sempre ganhou as eleições usando, naturalmente, o eleitor, mas também armando de forma não tão ética quanto deveria ser. Eu vou me defender sob todos os aspectos; não vou deixar de me defender. Se eu tivesse ganho a eleição com uma diferença mínima, até estaria pensando. Mas eu ganhei a eleição com diferença de 173 mil votos, o que demonstra que realmente é a vontade do povo. E eu tenho confiança de que o tribunal levará em consideração isso aí.
Ronaldo – Agora, professor José Melo, o seu adversário Eduardo Braga contratou o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil para defende-lo. Que o senhor vai contratar para fazer o contraponto na sua defesa?
Melo – Nós estamos conversando aí com alguns juristas de nomeada. Juristas conhecidos no Brasil. Eu não posso declinar agora o nome porque ainda estou aí, entre hoje e amanhã, fechando isso aí. Mas eu quero dizer que também vou me defender com juristas de nomeada, juristas que são conhecidos pelo seu saber jurídico, pelo seu comportamento ético. Nesta linha, estou trabalhando alguns nomes e acredito que dentro de um dia eu estarei também com a minha banca de juristas contratada lá em Brasília para tratar dessa matéria.
Marcos Santos – Governador, o senhor falou que a dona Nair Queiroz Blair, que é da ONG Agência Nacional de Segurança e Defesa nunca fez parte da sua campanha. E essa…
Melo – (interrompendo) Eu não disse isso. Eu disse que ela nunca foi coordenadora da minha campanha, nunca recebeu, por parte da minha campanha nenhuma delegação para falar em nome da campanha. Isso que falei. E disse também que o flagrante que foi feito pela Polícia Federal, onde ela estava envolvida, foi feita no local que não era o meu comitê, que não tinha nenhuma autorização para ser comitê, que era uma reunião de pastores onde ela estava e que, portanto, não tinha relação a ver com a minha campanha. Agora, se ela votou em mim ou se pediu voto pra mim, só ela pode dizer.
Marcos Santos – Esses equipamentos que foram comprados pela ONG que pertence a ela para a Arena da Amazônia, quais são esses equipamentos?
Melo – Eu já determinei à minha Casa Civil para que abrisse uma sindicância para apurar de forma rigorosa essas acusações. Nós tivemos na Copa do Mundo uma série de encargos impostos pela Fifa que teriam que ser realizados sob pena que não tivesse Copa do Mundo, e um desses encargos era a questão da proteção das delegações. Agora, só quem pode dizer isso é o resultado disso que eu vou levantar, porque muita coisa eu não posso, em sã consciência, garantir A ou B. O que posso dizer é, como governador, ontem mesmo já determinei à minha Casa Civil que abrisse uma sindicância para apurar rigorosamente as acusações feitas ali.