Marina Silva deixou o PT, seu partido de origem e do coração, não pelos erros, mas pelos acertos da legenda. É fundamentalista, sempre teve uma visão estreita e jamais escondeu seu desejo de engessar o Brasil.
A pretexto de defender o meio ambiente, na condição de ministra da pasta respectiva, criou o ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que hoje mete o bedelho em tudo e dificulta a fundo a implantação de qualquer projeto de desenvolvimento no País. É mais um complicador, numa sucessão de óbices intermináveis, no já pesadíssimo custo Brasil. Bate de frente com o agronegócio e faz questão de olvidar que o setor é o único responsável pelos nossos elevados volumes de exportação, na frágil composição da balança comercial brasileira.
Foi e é contra a geração de energia hídrica, limpa e barata, ao condenar a construção das usinas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, como se pudéssemos prescindir de iniciativas dessa natureza, que servem pelo menos para atenuar a crise no setor. Defende a intocabilidade absoluta da Amazônia, onde não se poderia tocar num pé de árvore – leia-se, tocar –, ou até mesmo prospectar minérios na região, como se brasileiros e amazônidas pudessem se dar ao luxo de dispensar esse fantástico patrimônio natural, a ser explorado com métodos racionais e em benefício de sua gente. Na mesma linha, condena a recuperação da rodovia BR-319/Manaus/Porto Velho/Brasil, que retira o Estado do Amazonas de seu isolamento histórico, como se a estrada nunca tivesse existido.
No plano político, organizou um novo partido – Rede Sustentabilidade, ao condenar o que tem chamado de “velha política”, mas com práticas que nada diferem de posturas antigas que tanto critica, fundadas no falso moralismo atrasado e disforme. É evidente que o crescimento econômico, social e político, em seu conceito ínsito e contemporâneo, nunca poderá abandonar a preocupação básica com o esgotamento ou degradação dos recursos naturais, sob pena de não merecer o epíteto correspondente, porquanto jamais haverá real desenvolvimento sem sustentabilidade. Ainda assim, Marina não amplia. Ao contrário, reduz ou comprime, com toda a arrogância de quem imagina ter inventado a roda ou descoberto a pólvora, exatamente com o mesmo vezo de seu amigo, líder e eterno padrinho político, o metalúrgico Lula da Silva, que insiste em negar a história e seus valores, sem os quais não será possível edificar a Nação.
É assim que seccionam o Brasil, de forma petulante e inegociável, como se nada tivesse existido antes deles, abrigados numa postura modesta que serve tão somente para esconder propósitos de mando e de poder. Possuem ambos, Lula e Marina, tamanha identidade, que o lulopetismo dá como favas contadas o apoio da acriana à candidata Dilma Rousseff, na hipótese provável de um segundo turno com Aécio Neves. E foi com esse manto que a “ambientalista” chegou ao PSB, sigla de passagem ou manipulada como outras no atual quadro partidário, embora tenha sido recebida com generosidade por seu líder maior, Eduardo Campos, mais uma vítima dos idos de agosto e de nossa trágica história política. Marina acaba de declarar que respeitará os acordos celebrados pelo PSB com o PSDB em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, mas informa que não subirá nos palanques tucanos naqueles estados, com a matreirice típica dos velhos caciques que diz condenar. Já segue dividindo os socialistas, com a renúncia de Carlos Siqueira, coordenador-geral da campanha de Campos, que sustentou sem meias palavras que a candidata não representa o legado do pernambucano.
O Brasil tem uma economia complexa e uma indústria de nível sofisticado. Dispõe de uma elite poderosa, do ponto de vista sociológico, onde estão inseridos o metalúrgico e muitos de seus pares petistas, ainda que sob protestos puramente demagógicos. Lidar com esses fatos demanda preparo intelectual e experiência administrativa, atributos não encontrados em Marina Silva, limitada ou circunscrita ao discurso ambientalista vazio e distante dos interesses concretos da nacionalidade.
Levar ao Brasil a experiência do Acre, com os “empates” de Chico Mendes, que impediam a derrubada de espécies florestais em nome da preservação de meia dúzia de pés de seringueiras, é uma temeridade e uma insanidade. Na última eleição presidencial Marina Silva perdeu feio em seu estado natal e amargou o terceiro lugar na disputa. Significa que quem conhece Marina, não vota em Marina. Pagamos em passado recente um elevado preço, seduzidos pelo discurso emocional e oportunista, com o qual mergulhamos na instabilidade institucional, fruto da irreflexão e da imprudência. Será que corremos o risco de repetir o erro, outro equívoco da história, que mais uma vez poderá se repetir, como farsa ou tragédia?
Com a palavra o povo brasileiro.
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