A Manaus prestes a completar 346 anos, antes quente e úmida, agora é terra de mormaço, mais seca e esfumaçada, repleta de incêndios por todos os lados, e impactada com a grave crise do modelo Zona Franca do qual nunca foi capaz de deixar de ser refém.
Não é de hoje a ocorrência de incêndios na cidade. Há registros históricos de que o fogo incendiário já devorou até a catedral, em julho 1850. Outros eventos de incêndio no curso do início do século XX, principalmente na fase de declínio do ciclo da economia gomífera, foram marcantes. Incêndios em órgãos e arquivos públicos, incêndios em prédios comerciais, incêndios em sedes de empresas etc. Dos anos noventa pra cá, eles tem sido ainda mais frequentes. Recentemente, em 2012, registrou-se o maior incêndio que se teve notícia na história dos incêndios em Manaus: na comunidade Arthur Bernardes, no bairro São Jorge, o fogo consumiu mais de 500 casas e cerca de 3 mil pessoas ficaram sem moradia. No mês passado, setembro/2015, registrou-se um número superior a 210 incêndios na capital do Amazonas. O último final de semana (17/10), foi marcado pela ocorrência de novos incêndios em Manaus, inclusive no centro histórico.
Manaus caminha a passos largos para alcançar uma posição de destaque, se é que já não conquistou, no trágico ranking das cidades mais incendiárias do planeta. A fumaça cobre a paisagem, abafa a cidade e asfixia seus habitantes. As vendas e a atividade econômica da ZFM não se reabilitam, as demissões nas empresas do PIM não cessam e a arrecadação estatal não se recupera. A atípica vazante acelerada do rio, especialmente nas últimas semanas, leva a interrogar sobre a dimensão e gravidade da próxima seca. Com isso, outros traços parecem estar prevalecendo e definindo as características daqui pra frente da “metrópole da Amazônia”: incêndio, fumaça e a crise crônica da ZFM.
Sabe-se que essa fumaceira toda, que sufoca a cidade e defuma seus habitantes, tem pouco a ver com os incêndios na capital, menos ainda é causada pela estiagem do rio, e que está muito mais relacionada às queimadas e aos desmatamentos praticados em diversas áreas no âmbito estadual e por toda a região amazônica. De fato, é preocupante questionar acerca do destino ambiental de Manaus, do país e do planeta quando já não se sabe o que restará das florestas da Amazônia até o fim desse século.
A coincidência da crise ambiental com a não menos dramática crise pela qual passa a Zona Franca de Manaus torna as coisas ainda mais nebulosas e, infelizmente, sinaliza perspectivas um tanto obscuras. Não se sabe ao certo se essas graves crises são superáveis ou se todo esse fumacê, tal como quando de incêndios no período referente ao declínio da economia da borracha, nada mais é senão uma singela metáfora do fim de mais um ciclo econômico em nossa história.
Uma cidade com raízes no Forte de São José do Rio Negro, fundado no Lugar da Barra, em 1669, depois alçada à capital da Capitania do São José do Rio Negro primeiramente por Lobo D’Almada, entre 1791 a 1798. Em 1808, consolidou-se como sede administrativa da Capitania e, posteriormente, foi confirmada como capital da Província do Amazonas, a partir de 1850. Em 1856, com a lei nº 68 da Assembleia Provincial amazonense, passou a ser chamada Cidade de Manaus, em homenagem à nação indígena dos Manáos. Transcorrido todo esse processo, Manaus, capital amazonense situada no centro da Amazônia, ainda não encontrou um caminho razoavelmente autônomo de desenvolvimento e, uma vez mais, convive com uma profunda crise no modelo econômico no qual está assentada, agravada pela crise atual da economia brasileira e de outras economias nacionais, no competitivo cenário de globalização da economia de mercado.
A Manaus dos 346 anos não é mais aquela de outros momentos mais favoráveis, menos penosos, mais associados a crescimento econômico, perspectivas promissoras e de oferta de maiores oportunidades aos que as buscavam. A Manaus destes dias atuais não tem um céu claro, um ar respirável, um calor suportável, um razoável trânsito e nem um ambiente seguro, sobretudo para os negócios. Uma cidade que parece estar rumando, assim como as outras tantas, numa direção pouco auspiciosa, marcada sobremaneira pela cronificação da crise socioambiental e econômica. Talvez com conseqüências políticas significativas. Enfim, apesar de tudo, na busca por uma cidade sustentável e melhor, Feliz Aniversário Manaus!
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