EDITORIAL
MANAUS – Pelo terceiro ano consecutivo, o mundo vive um fim de ano sob o temor da Covid-19, doença causada pelo vírus mortal, que já tirou a vida de mais de 5,2 milhões de pessoas no mundo.
A Covid-19 surgiu exatamente no fim do ano de 2019 e chegou no Brasil em fevereiro de 2020. Nas duas grandes ondas da doença no país, matou mais de 600 mil pessoas. A desaceleração da doença e das mortes só ocorreu com o avanço da vacinação, iniciada em janeiro deste ano (em dezembro de 2020 na Europa).
O Amazonas, é bom sempre lembrar, viveu seus piores dias em janeiro e fevereiro deste ano, quando os hospitais públicos e privados foram insuficientes para atender à demanda de doentes, e faltou oxigênio para quem dependia de respiração artificial para se manter vivo.
Aquela onda do início deste ano foi consequência de dois eventos que geram aglomeração nos últimos meses do ano passado: as eleições municipais de 2020 e as festividades de fim de ano.
Em dezembro de 2020 já era registrado o aumento de casos e mortes pela doença, mas muita gente ignorou os dados e manteve os hábitos pouco recomendados, como os eventos com aglomeração e a falta de uso de máscaras.
Contra a determinação do governo do Amazonas de fechar as lojas e shoppings no fim de ano para evitar aglomeração, comerciantes e comerciários foram às ruas em protesto, o que fez com que o decreto fosse revisto e o comércio liberado na semana do Réveillon.
Depois das festas, a dor da tragédia. Pessoas morrendo nos hospitais, nas portas das unidades de saúde lotadas ou em casa.
Nos últimos meses, com a liberação geral das atividades econômicas e dos grandes eventos, autoridades e a população em geral acharam que a Codid-19 estava totalmente controlada. Mas o aparecimento de uma nova variante do vírus, a ômicron, mostrou que não.
Com mais de 70% da população vacinada em Manaus, o epicentro da Covid nas duas grandes ondas da doença no Estado, os casos da doença, que começaram a crescer nos últimos dias, não devem evoluir para óbitos na proporção registrada em abril e maio de 2020 e em janeiro e ferreiro de 2021.
Mas há a preocupação com os que decidiram não tomar a vacina. Do total da população vacinável em Manaus, 149 mil pessoas não tomaram a primeira dose. E 415 mil não completaram o ciclo vacinal, ou seja, só tomaram a primeira dose.
Essas pessoas estão muito vulneráveis e podem ajudar a potencializar uma terceira onda da Covid-19 na capital amazonense.
No interior do Estado, a aglomeração deixou de ser uma preocupação da população e das autoridades.
A eleição municipal suplementar em Coari é um exemplo que deveria ser evitado. Milhares de pessoas aglomeradas em caminhadas e festas organizadas por candidatos, com praticamente todas as pessoas sem máscaras.
Os barcos que fazem o transporte intermunicipal no Amazonas também são focos de aglomeração neste fim de ano. Aglomeram-se em redes coladas umas nas outras ou umas por cima das outras. Aglomeram-se nas filas das refeições, sem o devido distanciamento.
Esses eventos são um prato cheio para o vírus, e o resultado pode aparecer antes mesmo das festividades do fim de ano. Todo cuidado é pouco.
O cancelamento das festas de Réveillon e de grandes eventos são medidas importantes, mas ainda insuficientes diante da ameaça de uma terceira onda.