
EDITORIAL
MANAUS – Não existe coisa mais inútil para a sociedade do que a concessão dos parlamentos brasileiros de títulos de cidadão a personalidades de outros estados ou municípios. A concessão desse tal título não muda em nada a vida de ninguém; serve apenas para massagear o ego do bajulador que o propõe.
O objetivo é sempre de adular a personalidade. Na maioria das vezes, o título é imerecido. E quem recebe chega a se surpreender, porque entende que não há qualquer motivo para tanto.
Nesta terça-feira, a Assembleia Legislativa do Amazonas aprovou proposta do deputado Péricles (PSL), que é delegado de Polícia, concedendo o título de cidadão do Amazonas ao presidente Jair Bolsonaro (eleito pelo PSL, e agora sem partido).
Bolsonaro não será o primeiro presidente a ganhar o título de cidadão amazonense da Assembleia Legislativa. Em 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tornou cidadão do Amazonas, título concedido por lei proposta pelo deputado Sinésio Campos (PT).
No ano passado, o mesmo deputado Péricles apresentou projeto de lei na Assembleia para revogar o titulo de cidadão concedido a Lula, e apresentou como motivo as condenações do ex-presidente pela Justiça Federal. As decisões foram todas anuladas neste ano pelo Supremo Tribunal Federal.
Nem um nem outro deputado estadual têm razão ou motivos para bater no peito e defender seus projetos de lei. Simplesmente porque não há qualquer necessidade de Lula ou Bolsonaro receber tal título.
Se Lula fez alguma coisa pelo Amazonas, o fez com dinheiro do contribuinte. Fazer o que lhe é devido não dá ao presidente da República ou a um ministro de Estado ou qualquer autoridade o direito de receber premiação ou reconhecimento.
No caso de Bolsonaro, o título de cidadão do Amazonas vem em um momento em que o mundo olha o presidente da República Federativa do Brasil como o vilão da pandemia. Nunca um presidente brasileiro foi tão ridicularizado no exterior na história recente do país.
E saber que esse senhor passar a ser um cidadão amazonense não traz nenhum alento para os brasileiros, muito menos para os cidadãos do Amazonas.
Mas em época de eleição, esse tipo de medida tem a função de dar maior visibilidade aos políticos – tanto ao que dá quanto ao que recebe – e angariar votos do eleitorado distraído.