Por Lucas Bombana, da Folhapress
SÃO PAULO – O lucro dos quatro grandes bancos brasileiros – Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – somou R$ 24,8 bilhões no terceiro trimestre de 2022, o que corresponde a um aumento de 7,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Enquanto Santander e Bradesco foram os destaques negativos, com quedas acima de 20% do lucro reportado de julho a setembro, o BB despontou na ponta contrária, com um aumento de quase 63% do lucro no período.
O banco estatal lucrou R$ 8,4 bilhões no terceiro trimestre, alta de 62,7% em bases anuais, com um crescimento de 19% da carteira de crédito ampliada, embora com um aumento de 0,5 ponto percentual da inadimplência, para 2,34% em setembro.
“Cada vez mais, utilizamos a inteligência de dados para subsidiar nossas decisões estratégicas. Isso tem permitido que possamos construir um relacionamento sustentável com nossos diversos perfis de clientes. Como resultado, nossa inadimplência segue abaixo da apresentada pela média do sistema financeiro [de 2,80%]”, afirmou Fausto Ribeiro, presidente do BB.
Segundo Marco Barbosa, analista da Mirae Asset Wealth Management, o banco estatal apresentou um “excelente desempenho”, com resultados recordes e rentabilidade acima dos pares privados.
“Reiteramos nossa recomendação de compra para as ações BBAS3, fazendo ressalvas apenas a possíveis decisões da nova equipe econômica que venham a mudar as diretrizes chaves do banco no sentido de prezar por operações que combinem boa rentabilidade sem elevado risco, inovação tecnológica e continuidade do bom controle de custos e despesas”, aponta o analista da Mirae Asset.
Último dos grandes bancos a divulgar os resultados, os números do Itaú conhecidos nesta quinta-feira (10) também foram bem recebidos pelos investidores, com um crescimento de cerca de 20% do lucro no terceiro trimestre, para R$ 8,1 bilhões.
“O Itaú apresentou um bom resultado, em linha com nossas estimativas. Com a divulgação de resultados ruins de seus pares privados, havia preocupações do mercado quanto a uma possível surpresa negativa do banco. Porém, não foi o que ocorreu”, destacam os analistas da Ativa Investimentos em relatório.
Os especialistas assinalam que a inadimplência, indicador que vinha sendo o terror desse trimestre para o setor, subiu apenas 0,12 ponto percentual em bases trimestrais, chegando a 2,82%. “O Itaú mostrou o diferencial na gestão e na qualidade da sua carteira frente ao cenário adverso para todo o setor bancário”.
Cenário conservador
Já entre os resultados que decepcionaram os analistas, o Bradesco viu as ações desabarem 17,4%, maior queda desde setembro de 1998, após o banco surpreender o mercado com uma queda de 23% no lucro do terceiro trimestre, para R$ 5,22 bilhões.
Presidente executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Junior afirmou que o cenário econômico, com a inflação e os juros elevados, afetou a capacidade de pagamento dos clientes.
“Entramos agora em um momento de aumento de provisões, tendência que deve se manter até parte de 2023. A inadimplência cresceu no segmento massificado, para pessoas físicas e micro e pequenas empresas”, disse Lazari.
Os analistas da Guide avaliam que o banco entregou uma “piora expressiva” dos números referentes ao terceiro trimestre, com um crescimento acelerado da inadimplência e da carteira renegociada que pode resultar no contínuo avanço da provisão para devedores duvidosos. “Por esse movimento, acreditamos que o Bradesco continuará registrando piora dos seus indicadores”.
O banco Santander Brasil, por sua vez, reportou lucro líquido de R$ 3,122 bilhões no terceiro trimestre de 2022, o que corresponde a uma queda de 28% na comparação com igual período do ano passado e de 23,5% ante o trimestre anterior, segundo balanço de resultados divulgado na manhã desta quarta-feira (26).
Segundo Mario Leão, CEO do Santander Brasil, o resultado ficou dentro das expectativas internas, à medida que, ainda ao final do ano passado, o banco anteviu uma deterioração no quadro macroeconômico do país, o que o levou a pisar no freio em 2022, com uma redução na concessão de crédito, especialmente para clientes pessoa física com pior avaliação de risco.
“O momento atual é mais desafiador e ele se reflete nos resultados, mas é parte de um ciclo conhecido, antecipado, calculado, e que, portanto, não nos surpreende”, disse Leão, durante conversa com jornalistas.
Analista da Suno Research, José Eduardo Daronco disse que o aumento da inadimplência da carteira de pessoa física foi a principal responsável pela redução da rentabilidade do banco.
“Como o Santander possui uma carteira de crédito bastante exposta ao cartão de crédito, financiamento de veículos e crédito pessoal, o aumento recente das taxas de juros acabam impactando diretamente, elevando a inadimplência e fazendo com que o banco aumente a sua provisão para crédito duvidoso”, explicou o analista, que espera que o banco continue com os resultados pressionados nos próximos trimestres, principalmente pela elevação das taxas de juros.