Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – A manutenção das medidas antidumping propostas às importações brasileiras de lápis de escrever, desenhar e/ou colorir, originárias da China não tem impacto sobre lojas de material escolar em Manaus que já priorizavam marcas nacionais ou estrangeiras, como Faber-Castell, da Alemanha, que tem fábrica na capital amazonense.
O dumping é a exportação de um produto a preço abaixo do cobrado no mercado interno do país exportador. As medidas antidumping visam corrigir essa diferença através da aplicação de taxas sobre o produto importado. O objetivo é evitar a concorrência desleal e proteger os fabricantes nacionais.
Erick Lira, diretor da Livraria Lira em Manaus, afirma que há pelo menos uma década a empresa não importa produtos da China. Segundo o empresário, a resolução de janeiro de 2021 do governo federal, aplicando o direito antidumping definitivo, por um prazo de até cinco anos, não afetou os negócios.
“Era uma briga para ver porque estava ficando cada vez mais caro, assim como vai ficando até hoje. E aí a gente foi comprar papel A4 da China. Fizemos contato com alguém da feira de material escolar em São Paulo e importamos”, disse.
O empresário afirma que a experiência não foi boa. “O papel, quando entrava na impressora das pessoas, começava a dar problema na impressora e começava a se rasgar muito fácil. E na descrição [do produto] era a mesma coisa que o papel A4 ‘made in Brazil’. E aí também veio lápis de cor. Ele quebrava a ponta muito fácil”, contou.
Entre as principais marcas de lápis e lápis de cor comercializadas na livraria, Erick Lira cita a Faber-Castell e Bic, oriunda da França e que também possui fábrica em Manaus. Ele afirma que mesmo sendo uma das mais caras, a Faber-Castell ainda é a mais vendida, tanto para lápis de cor quanto outros produtos da marca.
O ATUAL esteve em cinco lojas de artigos escolares e consultou os preços dos lápis de cor, da caixa de 12 cores, quantidade-padrão nas listas das escolas, e lápis de escrever. Nenhuma delas trabalhava com marcas importadas da China. Duas aguardavam a chegada de produtos da Faber-Castell, que estavam em falta e tinham alta procura nos estabelecimentos.
Na primeira, o preço da caixa de lápis de cor variava de R$ 5,10 a R$ 25,50; na segunda, de R$ 9,98 a R$ 24,90; na terceira, ia de R$ 8 a R$ 33,90; na quarta loja, a caixa mais em conta custava R$ 4,75 e a mais cara R$ 24. No último estabelecimento, o preço mais em conta era de R$ 4,90 e o mais caro, R$ 29,90. Algumas das caixas de lápis de cor de 12 cores traziam itens como apontadores, encarecendo o produto.
Em relação aos lápis de escrever, as lojas vendiam o produto com as seguintes variações de preço: R$ 0,30 a R$ 1; R$ 1,49 a R$ 1,99; R$ 0,40 a R$ 6,40; R$ 0,50 a R$ 2,99; e R$ 0,35 e R$ 9,90.
O diretor da Lira explica que para manter a competitividade com lojas que trabalham com importados e vendem produtos mais baratos, aposta no nome da empresa. “Eu tenho um nome de 40 anos, eu confio nisso e as pessoas sabem que o que compram aqui elas compram de forma honesta, com nota fiscal que elas vão poder trocar a hora que bem entenderem, que é coisa boa”, afirmou.
De acordo com o empresário, a média de lucro é de 10%. “Trabalhando bem, enxugando bem, eu consigo ter 20% de lucro, no limite do limite. Mas no geral, é 10% de lucro que sobra”, disse.
Para Erick Lira, esse não é o item que mais preocupa nas listas de materiais escolares. “O grande vilão das listas é o livro didático, que está ficando cada vez mais caro. Eu prefiro vender um lápis de cor de R$ 2, de R$ 4, do que um livro de R$ 400”, contou.
Resolução
A Resolução Gecex nº 141, de 19 de janeiro de 2021, aplicou direito antidumping definitivo, por um prazo de até cinco anos, às importações brasileiras de lápis de escrever, desenhar e/ou colorir, composto por madeira, resinas termoplásticas ou outros materiais, contendo mina de grafite ou de cor, à base de carbonatos tingidos por pigmentos ou corantes, originárias da República Popular da China. A medida não se aplica a produtos lápis de cera, lápis giz e lápis borracha.
De acordo com o que consta na resolução, a manutenção da medida partiu de pedido feito em abril de 2019, pela Faber Castell e a Bic, que pediram investigação de dumping nas exportações para o Brasil dos produtos quando originárias da China.
Após apuração dos indícios da prática de dumping nas exportações de lápis chineses, e de suposto dano à indústria doméstica, foi aprovada a aplicação do direito antidumping.