
MANAUS – A ideia exclusivamente brasileira de privatizar a compra de vacinas foi abatida em menos de uma semana depois de lançada. Em lugar nenhum do mundo se apresentou proposta tão absurda. O problema no Brasil ganha um ingrediente a mais de sandice quando o governo central resolve apoiar tal ideia.
Um grupo de 12 empresas queria comprar 33 milhões de doses da vacina AstraZeneca, distribuir metade para o SUS e a outra metade usar para aplicar nos funcionários e diretores das empresas, ou como bem quisessem.
Paulo Guedes, o ministro da Economia, chegou a defender a proposta em uma reunião de um banco, sob o argumento de que não se tratava de furar a fila, porque enquanto 50% das doses iam para trabalhadores da iniciativa privada, a outra metade iria para o SUS e poderia ser destinada aos trabalhadores desempregados.
Outro argumento era que, vacinando seus trabalhadores, as empresas ficariam menos vulnerável ao novo coronavíros, consequentemente, às reações do “mercado” diante da pandemia.
Ora, se as empresas querem realmente combater a pandemia deveriam ajudar os governos a comprar as vacinas e colocá-las todos à disposição do Ministério da Saúde para o Programa Nacional de Imunização, respeitando-se a fila de prioridades.
Mas a ideia ou a proposta dos empresários não era absurda apenas do ponto de vista da quebra de prioridades na imunização. Ela se mostrou, depois de alguns dias, mentirosa, porque sequer há vacina disponível no mercado para venda à iniciativa privada.
O próprio laboratório que fabrica a AstraZeneca está sendo cobrado na Europa porque não consegue entregar a quantidade comprada pelas nações que já pagaram pelo produto.
O fundo de investimentos BlackRock, acionista da AstraZeneca, tratou de desmentir qualquer acordo com empresas brasileiras interessadas em comprar a vacina de Oxford. O fundo esclareceu que toda a produção de vacinas é negociada com Estados-Nações e não com empresas.
Portanto, a estratégia brasileira se mostrou um mero balão de ensaio. Certamente, os empresários queriam saber até onde poderiam ir com a gana de comprar o imunizante para não ter que esperar a fila de prioridades do governo.
Lamentavelmente, o embuste encontrou guarida em quem deveria repeli-lo de pronto: o governo federal. Felizmente, a ideia naufragou antes antes do barco sair do atracadouro.