Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – O juiz João Gabriel Cirelli Medeiros, da Comarca de Tefé (município a 522 quilômetros de Manaus), concedeu liberdade provisória a um homem identificado como Rodrigo, que foi preso por agredir a namorada, Yalenis, com socos e tapas na última segunda-feira (1). A mulher sofreu diversos ferimentos, principalmente no rosto.
Policiais civis prenderam o homem em flagrante pelo crime de lesão corporal no contexto de violência doméstica, mas a defesa dela sustenta que houve tentativa de feminicídio. “Ele só parou de agredi-la de forma contundente, incontrolável porque os terceiros intermediaram, senão ela estaria morta nesse momento”, disse a advogada Amanda Pinheiro.
De acordo com o inquérito policial, Rodrigo e Yalenis namoravam há um ano. Ela relata que tinha um “relacionamento harmônico”, mas que na madrugada do dia 1º de maio, ao chegar na casa dele, ela foi recebida com socos no rosto e nos braços. Segundo ela, Rodrigo dizia que tinha visto ela beijando outra pessoa em uma boate.
“Ele começou a agredi-la de forma voluntária, consciente, sem nenhuma justificativa, sem iniciar uma discussão, assim que ela chegou na casa dele, que fica em frente ao Comando da Guarda Municipal de Tefé. Ele começou a agredi-la, a deferir socos e ir pra cima dela incontrolavelmente. Ninguém conseguia separar”, disse Amanda Pinheiro.
“Ele só parou porque terceiros realmente intermediaram, várias pessoas que ouviram os pedidos de socorro, os gritos, intermediaram, e uma guarnição que estava fazendo patrulhamento foi acionada e foi realizada a prisão em flagrante. Eles foram levados para a delegacia. Ela prosseguiu com os procedimentos no IML”, completou a advogada.
Na delegacia, Rodrigo preferiu ficar calado. Ele foi liberado pelo juiz na audiência de custódia realizada na terça-feira (2). Além do advogado dele, Luiz Gonzaga, a reunião teve a participação do promotor de Justiça Thiago de Melo Roberto Freire, que se manifestou pela concessão da liberdade provisória com medidas cautelares e a aplicação de medidas protetivas.
O juiz aplicou algumas restrições a Rodrigo pelo prazo de seis meses e o proibiu de se aproximar da mulher. O homem terá que comparecer todos os meses em juízo para informar e justificar atividades, está proibido de ausentar-se da comarca por mais de 7 dias sem prévia comunicação ao juízo e deverá comunicar o magistrado quando mudar de endereço.
A defesa de Yalenis contesta a soltura de Rodrigo e diz que a mulher continuou a receber ameaças, o que a fez registrar nova ocorrência na delegacia. “Infelizmente foi liberado na audiência de custódia. Ela está sob medidas protetivas, mas continua recebendo mensagem, ameaças via WhatsApp. A pessoa se identifica como primo do agressor”, afirmou Amanda Pinheiro.
A advogada lembra que, em abril, também em Tefé, a servidora pública Ivanete Lima de Souza foi assassinada pelo próprio marido em um bar. “O acusado, agressor, companheiro da vítima, a esfaqueou num bar, em via pública, na presença de várias pessoas, e está foragido. A vítima era uma servidora pública, deixou filhos”, disse Pinheiro.
“O que nós estamos vendo no município de Tefé, infelizmente, é cada dia mais a intensificação da violência contra a mulher. É inadmissível que um acusado que cometa tamanha brutalidade seja liberado em audiência de custódia. As mulheres ficam a mercê, é o que se vê, e a certeza da impunidade dos agressores dá essa segurança e tranquilidade para continuar”, afirmou Pinheiro.
Amanda é presidente da Associação Manas, que promove ações de combate ao assédio e presta auxílio jurídico e psicossocial a mulheres vítimas de violência em Manaus. Ela afirma que a entidade tem recebido mais pedidos de ajuda por vítimas de violência através do CRAM-Tefé ( Centro de Referência Atendimento a Mulher).
“Nós temos sido constantemente acionadas pela rede de enfrentamento à violência, pela CRAM-Tefé, que atende as vítimas de violência, justamente por essa situação, essa sensação de impunidade, de vulnerabilidade das vítimas, as mulheres, ali no município de Tefé”, afirmou Pinheiro.
A reportagem não conseguiu contato do advogado Luiz Gonzaga, que representa Rodrigo.