EDITORIAL
MANAUS – A inflação de outubro medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) bateu 1,25%, bem acima das projeções dos analistas de plantão, mas teve pouca ou nenhuma repercussão na mídia e no mercado financeiro.
A inflação acumulada em 12 meses alcançou 10,67%, o maior percentual acumulado desde janeiro de 2016 (10,71%), quando o Brasil vivia a expectativa do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Naquela ocasião, o mercado e a mídia, nessa ordem, argumentavam que a situação de Dilma era insustentável tal o descontrole da inflação.
O centro da meta de inflação para 2021 era 3,75% – projeção do Banco Central – e o teto da meta, 5,25%.
Em 2014, último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff, a inflação fechou o ano abaixo do teto da meta: 6,41% (o teto era 6,5%). Registre-se que 2014 foi ano eleitoral, o que eleva o risco de aumento da inflação.
Em 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma, quando o Congresso Nacional trabalhou para mergulhar o governo numa crise para favorecer o impeachment, a inflação fechou dezembro em 10,67%, exatamente o mesmo percentual com que fecha estes 12 meses de Jair Bolsonaro encerrados em outubro.
Enquanto no governo Dilma a inflação acima do teto da meta era absurdo para os analistas, no governo Bolsonaro tudo parece normal.
Um dos motivos da alta inflacionária de 2015 é o mesmo deste ano: os preços dos combustíveis e da energia elétrica. Naquele ano, o preço da gasolina subiu 20,1% em média, puxado em grande medida pelo preço do etanol, que avançou 29,63%.
O preço da energia elétrica em 2015 ficou 51% maior que no ano anterior.
Nos últimos 12 meses, a gasolina acumula alta de 42,72%. Só em outubro, a elevação no preço foi de 3,1%.
A alta acumulada da energia elétrica alcançou 24,97% em 2021 e 30,02% nos 12 meses encerrados em outubro.
O que mudou? Os atores da economia, desta vez, não querem o pior para o Brasil, como queriam em 2015. Ali havia um movimento para afastar do poder o governo eleito pelo voto popular. Agora, há um movimento, principalmente do mercado financeiro, para salvar o governo.
Lá atrás, a culpa da inflação, da alta dos combustíveis, da elevação do preço da energia elétrica e dos alimentos era do governo. Agora, o governo nada tem a ver. A culpa é da pandemia, dos governadores e prefeitos, da Petrobras, do mercado internacional.