Por Carolina Linhares, da Folhapress
SÃO PAULO – Com o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV na sexta-feira, 9, a campanha de Jilmar Tatto (PT) vai ampliar a estratégia de explorar a imagem de Lula (PT) na esperança de tirar o candidato do patamar de 2% das intenções de votos nas pesquisas. O ex-presidente está confirmado já na primeira peça a ser veiculada na campanha de Tatto para prefeito de São Paulo.
Se na eleição de 2016 a associação com o partido era apontada como prejuízo eleitoral para o então prefeito Fernando Haddad (PT), que perdeu para João Doria (PSDB) no primeiro turno, hoje a única limitação à participação de Lula na campanha de Tatto é a lei.
A regra eleitoral determina que apoiadores devem ocupar, no máximo, 25% do tempo da propaganda. Segundo membros da campanha de Tatto, Lula não aparecerá menos do que isso. Haddad será outra presença frequente no material de TV e rádio.
Tatto tem o terceiro maior tempo de TV entre os candidatos em São Paulo. Com 1 minuto e 7 segundos, fica atrás do prefeito Bruno Covas (PSDB), com 3 minutos e 29 segundos, e de Márcio França (PSB), com 1 minuto e 36 segundos.
Isso significa que Lula, em cada propaganda, poderá aparecer por no máximo 16 segundos. Em um estúdio montado na sede do Instituto Lula, na capital paulista, o petista já gravou os primeiros depoimentos para os programas de Tatto.
Nas propagandas, Lula apresentará Tatto e exaltará o PT. Temas nacionais, como a pandemia ou o desemprego, podem ser trazidos à tona, mas serão colocados em uma relação com a situação de São Paulo. A ideia é dialogar com o público lulista e relembrar, mesmo aos petistas, o que é o PT.
O ex-presidente foi quem convocou o PT a lançar o maior número de candidatos em 2020 com o objetivo de usar a propaganda eleitoral para responder ao que considera serem ataques contra a sigla e para martelar o legado dos governos do partido para o país.
Membros da campanha de Tatto assumem que o espaço de Lula em rede nacional para se defender vai contribuir para sua eventual candidatura em 2022. Condenado em segunda instância no âmbito da Lava Jato, hoje o ex-presidente não pode concorrer por ser ficha-suja.
Nas peças de Tatto, o legado do PT em São Paulo também tem papel central. O petista tem o desafio de se associar a obras das gestões de Haddad, Marta Suplicy (hoje apoiadora de Covas) e Luiz Erundina (hoje vice de Guilherme Boulos).
Segundo a equipe de Tatto, o papel de Haddad, que disputou o segundo turno presidencial com Jair Bolsonaro em 2018, será o de apresentar esse legado nas peças publicitárias.
Antes de colocar as peças no ar, o PT fará pesquisa qualitativa com eleitores para escolher as melhores opções de vídeos. Pesquisas quantitativas, como a do Datafolha, já consolidaram entre os estrategistas de Tatto a aposta em Lula. Segundo o Datafolha, o apoio de Lula levaria 20% dos eleitores a votarem em seu candidato com certeza – 21% talvez votariam e 57% não votariam de jeito nenhum.
O ex-presidente petista tem melhor desempenho como cabo eleitoral do que o governador João Doria (PSDB), padrinho de Covas, e do que o presidente Bolsonaro, que apoia Celso Russomanno (Republicanos). Os índices de Doria são os de que 8% votariam com certeza, 29% talvez e 59% de jeito nenhum. Em relação a Bolsonaro, os números são, respectivamente, 11%, 23% e 64%.
A estratégia de usar a imagem de Lula exaustivamente foi a forma encontrada pela campanha de apresentar Tatto à população como o candidato do PT e tentar, assim, se beneficiar da capilaridade do partido na cidade. O Datafolha mostrou que 64% dos paulistanos não o conhecem.
Ex-secretário municipal nas gestões de Hadadd e Marta, Tatto foi escolhido candidato em votação interna do PT e ganhou por pouco do deputado Alexandre Padilha, considerado mais conhecido e mais viável eleitoralmente.
O que favoreceu a vitória de Tatto foi seu domínio sobre a estrutura do PT paulistano. Nem ele nem Padilha eram, porém, o candidato dos sonhos do partido: Haddad foi pressionado a concorrer até o último momento, mas não topou.
Com Tatto atrás de Boulos (PSOL, 9%) e Márcio França (PSB, 8%) – e perdendo apoiadores para o candidato do PSOL–, sua campanha passou a depender cada vez mais de Lula e procurou antecipar a presença do ex-presidente.
A convenção petista, no dia 12 de setembro, finalmente marcou o embarque de Lula na campanha, com a gravação de um vídeo. A associação Tatto-Lula é vista como necessária também para evitar que a já conhecida simpatia do ex-presidente por Boulos reverta votos ao PSOL.
No último dia 21, Tatto compareceu ao lançamento do Plano de Reconstrução do Brasil feito pelo PT, onde tirou fotos com Lula e Haddad, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo (SP).
“O presidente Lula vai ser uma figura central. Nós vamos crescer e talvez liderar o campo da esquerda, mas torcendo para que toda a esquerda vá bem”, diz o deputado estadual José Américo (PT), coordenador de comunicação da campanha.
As imagens do ex-presidente e do ex-prefeito serão exploradas não só na propaganda de rádio e TV, mas também em peças publicitárias impressas e postagens na internet.
Com o slogan “coração trabalhador”, o material de campanha de Tatto aposta ainda na cor vermelha e na estrela, marcas do PT. Todos esses elementos já aparecem nos primeiros vídeos veiculados nas redes sociais. Uma dessas peças mostra a convenção do PT, feita em uma laje na periferia da zona sul, ocasião em que a gravação de Lula foi projetada nos barracos.
A peça mostra Tatto sorridente, embaixo, sendo iluminado pela projeção de Lula, que vem de cima. “Jilmar conhece São Paulo como ninguém. Cresceu politicamente resolvendo problemas, e olha que não foram pequenos os problemas que ele resolveu. Vai governar para todos, em especial os que mais precisam”, diz o ex-presidente.
Na mesma peça, Tatto aparece dentro do carro, a caminho da convenção, falando ao telefone. “Eu te falei que Lula me ligou ontem à noite, né? E falou: ‘Jilmar, quero dizer o seguinte, eu, se depender de mim, eu vou te eleger prefeito da cidade de São Paulo’. Foi nesse nível”, diz o candidato, numa espécie de resposta a quem duvida do embarque de Lula numa campanha que pode naufragar.
Estrelas vermelhas de cerca de um metro são usadas nos vídeos, que listam iniciativas petistas como os CEUs, ciclovias, bilhete único, faixas de ônibus, entre outras.
Na eleição de 2016, a estrela discreta na publicidade de Haddad, assim como a ausência de Lula e Dilma Rousseff em seu jingle, foi alvo de questionamentos -o ex-prefeito teve que refazer seu material dando mais destaque ao PT.
Se hoje Lula é um bom cabo eleitoral, na época a situação era outra. A Lava Jato mirava o PT em grandes operações e corria o processo de impeachment da ex-presidente Dilma.
Na avaliação de petistas, a soltura de Lula e vitórias dele na Justiça, assim como a avaliação ruim do governo Bolsonaro e o enfraquecimento da Lava Jato, melhoraram o cenário para o PT.
Haddad afirma que não escondeu o partido em sua campanha, mas reconhece que a conjuntura política é mais benéfica para o PT hoje “porque as pessoas tiveram mais acesso à informação”. “Em 2016, na véspera do primeiro, eu e Lula fizemos uma carreata pelo centro. Como eu, que estou há 35 anos no PT, vou esconder o PT? Acho ridícula essa afirmação”, diz.