Da Redação
MANAUS – Os senadores Eduardo Braga (PMDB) e Omar Aziz (PSD) e a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), o deputado Alfredo Nascimento (PR) e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB) negaram, por meio de notas, envolvimento com atos de corrupção apontados por ex-executivos da Odebrecht em delação premiada nas investigações da Operação Lava Jato.
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin autorizou a abertura de inquérito para investigar os quatro parlamentares e o ex-deputado estadual Eron Bezerra (PCdoB) em função de denúncias de recebimento de dinheiro irregular do setor de propina da Odebrecht na “delação do fim do mundo”.
A investigação da Procuradoria Geral da República sobre a participação do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, foi encaminhada ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília. A PGR não pediu abertura de inquérito contra Arthur porque ele não tem foro por prerrogativa de função para ser investigado no STF.
A “Lista de Fachin” determinou investigação de quase um terço do Senado da República, 39 deputados federais, um terço dos ministro do presidente Michel Temer, que só não virou investigado em função do cargo que passou a ocupar após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Além de uma série de importantes caciques políticos, em várias regiões do País.
Confira a respostas de cada um deles sobre os fatos que vieram ao conhecimento público após a quebra do sigilo dos procedimentos, determinado pelo ministro Edson Fachin:
Vanessa Grazziotin
Vanessa Grazziotin foi delatada pelo executivo da construtora Odebrecht Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis de receber dinheiro não declarado oficialmente “a pretexto de apoio à campanha” em 2012, quando disputou e perdeu a eleição para a Prefeitura de Manaus:
Nota Pública
Diante da autorização, pelo STF, de abertura de inquérito para investigar as doações da campanha de 2012, quando fui candidata à prefeita, reafirmo que estou tranquila, pois tenho consciência que não cometi qualquer tipo de ilegalidade. Confio que isso será provado a partir das investigações. Falam por mim, minha vida pública e minha trajetória política de mais de 40 anos, sendo 29 desses exercendo mandatos eletivos. Pautei-me sempre baseada em princípios éticos, como atestam todos os que me conhecem, pela luta em defesa dos direitos da nossa gente e do país.
Portanto, mesmo ferida, sobretudo pela falta de critérios quanto a investigação (imprescindível) que coloca casos tão diferentes num mesmo patamar, reafirmo que não vou me intimidar, continuarei firme na luta em defesa das trabalhadoras e dos trabalhadores e no interesse do Amazonas e de nosso querido Brasil.
Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
Eron Bezerra
O ex-deputado estadual e ex-secretário de Estado de Produção Rural Eron Bezerra (PCdoB) também foi delatada pelo executivo da construtora Odebrecht Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis. O executivo afirma que Eron presenciou a entrega de dinheiro a senadora Vanessa Grazziotin. Segundo o delator, o dinheiro não declarado oficialmente e foi repassado à senadora”a pretexto de apoio à campanha” em 2012 , quando ela disputou e perdeu a eleição para a Prefeitura de Manaus. A resposta de Eron foi dada ao Jornal Nacional:
“Eu não sei nem que diabo é [a Operação Lava Jato]. Eu nunca tive contato com a Odebrecht, portanto, eu não sei nem do que se trata [a lista do Fachin]. Infelizmente isso virou um negócio genérico. Eu não tenho a menor condição de opinar [sobre isso]. Eu repito: nunca tive contato com a Odebrecht, com Camargo Corrêa, Gutierrez ou com qualquer empreiteira dessas, portanto, não sei como apareceu meu nome em uma relação de pessoas que receberam doação. É mais uma irresponsabilidade das muitas que acontecem nessa época de caça às bruxas.”
Omar Aziz
O senador Omar Aziz (PSD) foi delatado pelo executivo da construtora Odebrecht Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis por suspeita de recebimento de propina no valor de R$ 1 milhão pela obra da Ponte Rio Negro, inaugurada em outubro de 2011. Após a saída de Braga do Governo e posse de Omar Aziz, segundo o delator, as cobranças passaram a ser feitas pelo empresário José Lopes, “supostamente ligado ao governador do Estado do Amazonas, Omar Aziz”.
“Ninguém tem mais interesse do que eu na conclusão deste inquérito. Não tenho e nunca tive nenhum tipo de relação com a Odebrecht. Essa empresa não teve sequer contratos ou pagamentos recebidos no meu governo. Também não recebi nenhum centavo deles em campanha eleitoral. O jornal O Globo já inclusive publicou que, no documento divulgado pelo ministro Fachin, não há qualquer referência de valor em meu nome”.
Eduardo Braga
O senador Eduardo Braga (PMDB) foi delatado pelo executivo da construtora Odebrecht Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis por suspeita de recebimento de propina no valor de R$ 1 milhão pela obra da Ponte Rio Negro, inaugurada em outubro de 2011.
Nota à Imprensa
O senador Eduardo Braga desconhece o conteúdo das informações que levaram a PGR a pedir abertura de inquérito. Vale destacar que a abertura de inquérito não significa que os investigados respondam por qualquer tipo crime. O senador Eduardo Braga, em caso de notificação, prestará todas as informações necessárias à Justiça.
Assessoria de Imprensa
Alfredo Nascimento
O deputado federal e ex-ministro dos Transportes do Governo Dilma Rousseff (PT) Alfredo Nascimento (PR) será investigado no Inquérito 4443 por suspeita de pedir e receber dinheiro ilegal para a campanha de 2006 de empresas que prestavam serviços ao Ministério dos Transportes. Ele será investigado no mesmo inquérito com o deputado federal Milton Monti (PR-SP) e foi delatado pelo executivo José de Carvalho Filho.
“É com surpresa que vejo meu nome relacionado entre os investigados na operação Lava Jato. Não tenho e não tive qualquer relação com empresas, executivos e estatais evolvidos. Nunca me reuni com qualquer um dos delatores. Isso será fácil ser provado e tudo ficará esclarecido com as investigações. Estou absolutamente tranquilo. A verdade vai prevalecer.”
Arthur Neto
O prefeito de Manaus Arthur Neto (PSDB) teve o pedido de abertura de inquérito encaminhado ao Ministério Público Federal ligado ao TRF 1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), em Brasília, onde são julgados chefes de executivos municipais. O nome de Arthur apareceu na lista do setor de propina da Odebrecht e foi identificado pelo apelido de “Kimono”. O executivo da Odebrecht Claudio Melo afirma que foi enregue a Arthur Neto dinheiro a pretexto de doação para as campanhas de 2012 e 2010.
“Não me afastarei jamais do estilo com que sempre me dediquei à coisa pública. Há quem prefira o papel do avestruz. Sou, porém, do tipo que não se furta aos enfrentamentos necessários à defesa de suas verdades. Por isso, defino-me, de pronto, diante da mesquinha citação de meu nome na tal lista dos “delatores premiados” da empresa Odebrecht. E não aprecio escapismos como “primeiro consultarei os autos” ou “conversarei com meu advogado”, antes de falar publicamente sobre assunto que diga respeito a minha reputação e a minha honra. Daí o esclarecimento que presto nesta hora, nítido como água pura de igarapés límpidos.
Um ex-diretor dessa empresa, sr. Claudio Melo, de acordo com “vazamentos”, pelos quais nunca ninguém se responsabiliza, teria afirmado que me repassou R$300 mil (trezentos mil reais), dando a entender que não me conhecia e que apenas estaria cumprindo ordens “superiores” de aproximar a Odebrecht de um “parlamentar influente”. Não se refere, segundo o tal “vazamento”, a nenhum “favor” que eu “deveria” prestar a quem quer que fosse.
Após a surpresa inicial, cheguei a pensar que o sr. Melo pudesse mesmo ter embolsado essa quantia, quem sabe usando meu nome para driblar a contabilidade corrupta de sua empresa. Não me importam, aliás, os detalhes da sordidez. Importa, e muito, o fato de minha consciência estar, como sempre esteve, absolutamente tranquila.
Doze anos deputado federal! E não há registro de nenhum gesto meu que tenha beneficiado a Odebrecht e seus lobistas. Dirigente nacional do meu partido por três anos, líder e ministro do presidente Fernando Henrique por um quadriênio inteiro e intenso. E não existe quem aponte qualquer coisa que me possa ligar a interesses empresariais. Senador por oito anos, liderando uma oposição renhida, e numericamente poderosa, ao governo Lula. E não há quem ouse supor que, por palavras ou atos, ajudei a deformar medidas provisórias.
Sou prefeito da sétima maior cidade do país pela terceira vez. E a Odebrecht, ao longo desse tempo, não plantou um único metro cúbico de asfalto em Manaus. Nenhuma relação. Absolutamente nenhum liame.
A relação entre “acusadores” e “delatores” não é suficiente para me calar nem me fazer “participante” de esquemas de achaques. São 39 anos de uma trajetória que erigiu um conceito do qual muito se orgulha minha família e que não está à disposição de ninguém. Nem do ilustre procurador Rodrigo Janot e nem do ínclito juiz Sergio Moro. Menos ainda de figuras menores que se cevaram no submundo do suborno e agora pretendem obter liberdade física para voltar a usufruir de dinheiro desonesto.
Meu sentimento ordena que enfrente a injustiça, com a altivez que corruptos e arbitrários não conseguiriam ter: cabeça erguida, rumo ao combate necessário e saneador.
Fala-se em “foro privilegiado”! Tantos se apequenam para obter mandatos controversos, com o fim “maior” de obtê-lo, com isso supondo a “conquista” da impunidade. Não sou realmente assim.
Cheguei à Câmara dos Deputados para enfrentar um regime autoritário e ajudar a restaurar as liberdades neste país. E aqueles não eram tempos de imunidades parlamentares! Cheguei ao Senado para representar o Amazonas, defender o Brasil e sustentar o legado do governo Fernando Henrique: estabilidade da economia, controle da inflação, responsabilidade fiscal e reformas estruturais. Não fui em busca de foros especiais (a bem da verdade, considero uma injúria ao STF supor-se que lá não se produz justiça), porque meu mandato servia para pensar a Amazônia e o Brasil e não para acobertar o atraso e nem o saque ao nosso povo.
Prosseguirei, então, na rota inversa ao oportunismo. Não disponho, como prefeito, de foro especial, privilegiado ou como bem pretendam denomina-lo. E vou continuar sem ele.
Concluirei este mandato, o derradeiro de minha vida, governando Manaus com uma dedicação extremada, que resumirá quatro décadas de amor. Até o último minuto de 2020. E, definitivamente, não me candidatarei mais a qualquer outro posto.
Permanecerei opinando, através de artigos, livros e palestras, sobre minha região e meu país. Mas deixo a política abjeta que aí está, à disposição dos profissionais da “sobrevivência”, dos torquemadas de plantão e dos hipócritas de quaisquer matizes. Sempre ansiando que o Brasil se reforme e se vá regenerando, para permitir a ascensão dos que virão livra-lo dos tipos ora citados. Minha cota se esgotou. Minhas ambições estão domesticadas.
Há outros meios de servir lealmente ao Amazonas, ao Brasil e a minha Manaus”.