Por Thiago Resende e Julio Wiziack, da Folhapress
BRASÍLIA-DF – Na esteira da agenda reformista, o governo planeja apresentar ao Congresso na próxima semana um pacote de medidas para elevar o controle das contas públicas, desvincular o Orçamento e ampliar os repasses a estados e municípios. A reforma tributária, por outro lado, ficou para 2021. O amplo pacto federativo é o próximo passo do ministro Paulo Guedes (Economia) após a provável conclusão da aprovação da reforma da Previdência no Congresso nesta semana.
O plano deve ser dividido em três PECs (Proposta de Emenda à Constituição), que precisam de apoio de 60% da Câmara e do Senado em duas votações em cada Casa. A ideia é que os três projetos tramitem juntos e começando pelo Senado, informou, nesta terça-feira, 22, o líder do governo na Casa, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
A primeira proposta trata da chamada regra de ouro. Com o agravamento da crise fiscal, o governo tem recorrido a emissão de títulos públicos para poder pagar despesas correntes, como aposentadorias. A Constituição veda essa prática, mas o Congresso pode autorizar o Executivo a descumprir a regra de ouro. O governo, contudo, pretende acabar com isso e resolver esse problema de vez, fazendo um ajuste fiscal.
Além disso, o objetivo da equipe econômica é que, antes de recorrerem ao regime de recuperação fiscal, estados e municípios tenham que adotar medidas para ajustar os gastos, especialmente com servidor e com aposentadorias. São os chamados gatilhos, a serem acionados antes que um ente da federação quebre.
Na Câmara, já existe um projeto semelhante. Bezerra Coelho quer que o Senado aprove o pacto até o fim do ano. Assim, a PEC poderia ser enviada à Câmara e anexada ao texto em análise pelos deputados. A segunda PEC, segundo o líder do governo, visa criar o Conselho Fiscal da República, que seria formado pelos presidentes da República, da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. Assim, os três Poderes se reuniriam periodicamente e discutiriam a situação das contas públicas.
Um exemplo citado por Guedes é que muitos estados, diante das dificuldades fiscais, recorrem ao Supremo que acaba julgando processos a favor desses entes, mas causando um rombo à União. O governo quer ainda um sistema de monitoramento das contas estaduais e municipais. O TCU (Tribunal de Contas da União) poderá supervisionar o trabalho dos TCEs (Tribunais de Contas dos Estados). “Essa segunda PEC é a mais densa de todas e cria a cultura da responsabilidade fiscal”, disse Bezerra Coelho.
A proposta deve prever também uma ampla desvinculação do Orçamento. A ideia do ministro é dar mais poder ao Congresso na escolha de quais gastos públicos devem ser priorizados na hora de formular o Orçamento. Essa PEC poderá incluir medidas que ampliam os repasses de recursos da União para estados e municípios.
A terceira proposta tem como foco uma ampla revisão nos fundos constitucionais e infraconstitucionais. Guedes estuda extinguir 263 fundos públicos que hoje têm um estoque de aproximadamente R$ 200 bilhões. Por ano, esses fundos recebem, em média, R$ 20 bilhões de dinheiro novo para cobrir suas despesas. Dentre eles, estão o Funpen (Fundo Penitenciário Nacional), o FNAC (Fundo Nacional de Aviação Civil) e o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações).
Um levantamento recente da equipe econômica revelou que metade dos fundos públicos federais executa menos de 50% de sua previsão orçamentário para o ano. Cerca de 20% consegue destinar 10% do previsto. Somente 8 fundos, todos ligados ao Ministério da Defesa, executam mais de 90%. Por isso, o governo prefere acabar com os fundos e destinar recursos diretamente do Orçamento para os programas que hoje esses fundos abastecem.
Ainda não se sabe se fundos constitucionais para o desenvolvimento regional (FCO, FNC e FNE) e os fundos de incentivos fiscais (Finor e Finam) serão poupados. Segundo o senador, não há clima no Congresso para a extinção de fundos constitucionais. As três PECs devem ser entregues por Guedes na próxima terça (29) aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Além do pacto federativo, o governo estuda propor uma ampla revisão no funcionalismo público. Chamado de reforma administrativa, o projeto deve ser apresentado ao Congresso no começo de novembro, começando a ser analisado pela Câmara. Com a agenda econômica cheia, a reforma tributária ficou para o próximo ano, declarou Bezerra Coelho. Está sendo preparada a criação de uma comissão com deputados e senadores para que, em discussão com o governo, resulte em um projeto com amplo apoio no Congresso. Isso deve levar de 90 a 120 dias.