Por Murilo Rodrigues, do ATUAL
MANAUS – O governador do Amazonas, Wilson Lima, afirmou que as queimadas no Amazonas ocorrem de “forma criminosa”. Lima disse que os responsáveis pelos incêndios são grileiros de terras. Wilson Lima se pronunciou sobre as queimadas na segunda-feira (26) em entrevista a CNN Brasil (CNN Novo Dia).
Wilson Lima disse que as queimadas ocorrem por conta da grilagem de terra, especulações imobiliárias e abertura de pastos. Lima disse ainda que o governo do estado nunca emitiu autorização para realizar queimadas.
“Praticamente 100% dos incêndios que acontecem aqui no estado do Amazonas são criminosos e não têm autorização do governo do estado. Desde 2019, quando eu assumi como governador, nós não emitimos uma autorização se quer de queima. E aí nós temos uma série de atividades criminosas como grilagem de terra, especulação imobiliária, abertura de pasto para engorda de gado”, afirmou.
O governador falou também que os pequenos agricultores têm uma parcela de culpa nas queimadas. “E aí entra também o pequeno agricultor que já usa isso como prática cotidiana, principalmente nos assentamentos a gente ver uma série de situações como essa de pequenos produtos. E aí tem um, dois, três, quatro, e de repente 300 focos pequenos de calor. Isso acaba se tornando um fogaréu”, disse.
Wilson Lima disse que para combater essas queimadas, precisa de um esforço do governo federal para realizar a regularização fundiária no Estado.
“O que nós precisamos fazer são projetos estruturantes, não para monitorar essa questão do fogo – é importante sim –, mas nós precisamos fazer projetos que evitem que haja essa queimada, e a gente só consegue fazer isso se a gente avançar na questão da regularização fundiária, no uso de tecnologia alternativa ao fogo, que permita que o pequeno produtor possa otimizar o solo dele […] eu entendo que a gente precisa avançar nesse caminho”, disse Lima.
O governador do Amazonas mencionou também a falta de logística no estado como entrave para combate a incêndios florestais. Ele disse que em São Paulo e Minas Gerais, onde há grandes índices de queimadas recentemente, é mais fácil para combater o fogo por conta da logística. Segundo Lima, no Amazonas demora, em média, 3 horas para os agentes chegarem ao local onde está ocorrendo os incêndios.
“Todos nos sabemos que a estrutura do governo federal é muito limitada […]. Em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, há uma logística de estrada que com muita facilidade os homens conseguem chegar numa situação como essa. Aqui no Estado do Amazonas, mesmo os nossos bombeiros estando lá no sul do Amazonas, demora-se em média 3h para você chegar num local como esse. É difícil sem ter estruturas de aeroporto para aeronaves pousarem”, disse o governador.
Wilson Lima disse que teme que a Amazônia fique esquecida neste momento. “A gente teme que nesse momento em que há uma demanda muito maior, a Amazônia fique ainda mais desassistida”.
O governador alegou que mais de 70% das queimadas acontecem em áreas federais e que apenas 8% é de responsabilidade estadual. “Mais de 70% dessas queimadas acontecem em assentamentos do Incra, em áreas indígenas, em vazios cartográficos […] e que seriam de fiscalização de responsabilidade do governo federal. As áreas atingidas com esses incêndios aqui no estado, e que são de responsabilidade do estado, representam algo em torno de 8%”.
O governador do Amazonas fez um comparativo do ano passado com este ano. De acordo com Lima, em julho e agosto de 2023 houve 4 mil focos de incêndios. Em 2024, no mesmo período, o número dobrou e chegou a 8 mil focos.
Wilson Lima reclamou da ajuda fornecida pelo governo federal ao Amazonas. “Nos parece que a punição acaba se tornando uma regra quando ela deveria ser a exceção […] As queimadas acontecem por uma lógica econômica, e quando você estabelece a repressão como regra, você simplesmente deixa de enfrentar o problema como ele deveria ser enfrentado”, disse.
Questionado sobre a diferença dos governos Bolsonaro e Lula, Wilson Lima, que apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro, repetiu o discurso bolsonarista. “Na época, o que defendia o presidente Bolsonaro, é o que nós defendemos aqui que é a geração de empregos, a oportunidade para as pessoas e a defesa da atividade econômica. O que falhou no governo Bolsonaro foi com a relação a comunicação, como se comunicava e construía essa narrativa”, justificou.
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Na segunda-feira (26), o Governo do Amazonas enviou mais 200 bombeiros ao Sul do Amazonas e Região Metropolitana de Manaus para combater queimadas. Os militares participam da Operação Aceiro 2024. Também foram entregues 12 viaturas para o deslocamento dos agentes.
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Nesta terça-feira (27), Manaus amanheceu novamente encoberta de fumaça com a qualidade do ar considerada muito ruim e péssima pelo Selva (Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental) da UEA (Universidade do Estado do Amazonas).
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