Por Fabio Grellet, do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – O ex-seminarista Gil Rugai, que cumpre pena de 33 anos por matar a tiros o próprio pai, o publicitário Luiz Carlos Rugai, e a madrasta, Alessandra de Fátima Troitiño, em 2004, deixou o presídio em Tremembé, no interior paulista, na tarde desta quarta-feira (14). Ele foi autorizado pela Justiça a cumprir o restante da pena em regime aberto, usando tornozeleira eletrônica e cumprindo outras medidas cautelares. Ele sempre negou o crime.
O pedido de progressão para o regime aberto foi apresentado pela defesa de Gil Rugai em julho do ano passado. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) sempre foi contrário, alegando que a “gravidade dos crimes cometidos evidencia personalidade inclinada à criminalidade e notório envolvimento com o submundo do crime”.
Por outro lado, os exames psicológicos e relatórios produzidos na cadeia indicavam bom comportamento, o que levou a juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, do Departamento Estadual de Execução Criminal da 9.ª Região Administrativa Judiciária, na comarca de São José dos Campos, a autorizar a progressão.
“Ele não registra nenhuma infração disciplinar ao longo de todo o período de cumprimento da pena. Foi para o regime semiaberto em 2021 e vem usufruindo regularmente de saídas temporárias, sem notícia de intercorrências negativas. Cursa Arquitetura e Urbanismo na Faculdade Anhanguera de Taubaté desde o ano passado, com bom aproveitamento e sem registro de outro fato desabonador à conduta. Ademais, obteve resultado positivo no exame criminológico realizado”, disse Sueli na decisão. Consultado, o MP-SP informou que vai recorrer da decisão judicial.
O crime
Por volta das 21h30 de 28 de março de 2004, um domingo, Rugai e a mulher foram encontrados mortos a tiros na casa em que moravam, na Rua Atibaia, em Perdizes (zona oeste da capital). No imóvel funcionava também a produtora de vídeos do pai, chamada Referência Filmes, que produzia peças publicitárias para clientes como Danone e Marabraz.
Gil Rugai, então com 20 anos, morava com o pai desde os 12 – antes morou com a mãe, Maristela Rodrigues Grego, que se separou do marido quando Gil tinha 3 anos. Ele havia sido expulso de casa dias antes do crime, depois que o pai descobriu que Gil havia dado um suposto desfalque na empresa (em que trabalhava como administrador).
Na noite do crime, Gil dormiu na casa da mãe. Inicialmente, o vigia da Rua Atibaia disse à polícia que não vira nada de anormal naquela noite. Num segundo depoimento, porém, afirmou ter visto Gil saindo da casa, na companhia de outra pessoa, cuja identidade nunca foi descoberta.
A prova definitiva surgiu no fim de junho de 2005, quando uma arma foi encontrada na caixa de águas pluviais de um prédio nos Jardins (zona oeste de SP) onde Rugai mantinha um escritório. A perícia concluiu que essa foi a arma usada no crime. Apesar das evidências, Gil sempre negou o crime.