Da FolhaPress
Por Ricardo Balthazar
SÃO PAULO – Eleito deputado federal por São Paulo a bordo da caravana de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Roberto Peternelli diz que está na hora de o capitão reformado deixar de lado a retórica agressiva da campanha e moderar o tom de seus discursos.
Ele acha que Bolsonaro precisa “pensar no país como um todo”, e não só nos que o apoiam, e adotar um “tom conciliador” para pacificar o Brasil se for eleito no domingo, 28.
Na reserva desde 2014 e novato na política, Peternelli, 64, é o mais graduado entre os militares que conquistaram cadeiras na Câmara dos Deputados com a onda conservadora liderada por Bolsonaro.
O general diz que o STF tem “papel fundamental” no país e minimizou os ataques que o candidato do PSL e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), fizeram à corte durante a corrida presidencial.
Por que tantos militares entraram na política?
Sempre estimulei meus colegas a participar. Para a sociedade, é importante ter todos os segmentos [representados no Congresso]. Tivemos presença maior do que em eleições anteriores, mas somente seis foram eleitos deputados federais.
Qual será a prioridade no Congresso?
Nosso foco é o bem comum. Vamos acompanhar as propostas de Bolsonaro.
Há preocupação com a reforma da Previdência?
Estamos estudando. É importante ter visão do todo. Vamos ouvir o futuro comandante do Exército e ver o que o próprio presidente irá propor. Seremos apenas 6 dos 513 deputados. Prevalecerá o interesse comum.
A ocupação de postos chave no ministério não dará mais força aos militares?
O próximo governo pode ter uma presença um pouco maior, mas Bolsonaro já informou que o critério para escolhas será técnico. Não vejo um governo com presença maciça de militares.
O que diferencia os militares que estão chegando à política e os que mandaram no país na ditadura?
Alguns princípios são os mesmos desde a academia. Ética, a moral, o cuidado com a coisa pública, com a verdade, a busca pelo que é melhor para a estrutura.
O que aprenderam com os erros do período autoritário?
O pensamento nosso, democrático, no país, no que é bom e adequado. Meu foco é naquilo que podemos produzir para o Brasil, senão ficamos sempre no mesmo foco histórico. Mas observo que os presidentes militares saíram sem nenhum contexto moral. Essa honestidade é uma referência que precisamos ter.
O que pensa do general da reserva Girão Monteiro, que foi eleito deputado pelo PSL no Rio Grande do Norte e recentemente defendeu o impeachment e a prisão de ministros do STF?
Não conversei com ele. O Supremo é o guardião da nossa Constituição e tem função muito importante. Reforma do Judiciário é um assunto que o próprio Judiciário deve estruturar. O Judiciário tem cumprido muito bem o seu papel, suas atribuições.
Mas o general defendeu a prisão de ministros do STF.
Não me aprofundei para saber qual é o respaldo legal que permitiu a ele abordar tal assunto. No meu entender, o Supremo tem papel fundamental.
Bolsonaro atacou os ministros do STF na campanha, e seu filho falou em fechar o tribunal.
A declaração do filho, não creio que tenha tido na intenção qualquer pensamento mais forte de fechar.
Então, qual era a intenção?
Foi uma resposta a uma pergunta [sobre uma hipótese] que eventualmente poderia ocorrer. Ele mesmo já se desculpou. Não foi uma resposta adequada. Temos que preservar todas as instituições, em especial os Poderes.
Bolsonaro disse que ministros do STF envergonham o país, falou em aumentar o número de integrantes do tribunal para formar maioria e depois recuou.
Não vejo, sem motivo efetivo, nada que permita [tomar medidas] fora do contexto legal. O militar, por natureza, é uma pessoa que age dentro dos preceitos legais.
O general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, disse admitir a possibilidade de o presidente dar um autogolpe, com apoio militar.
Não me aprofundei, não conheço essa declaração, mas volto a reiterar…
Ele falou na televisão, e saiu em todos os jornais.
Tenho me dedicado muito à campanha. Qualquer que seja o foco, acredito que só possa ter respaldo de qualquer ação dentro de um princípio de legalidade, nada fora desse contexto.
Mourão e Bolsonaro tratam como herói o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou um dos principais centros de tortura da ditadura. Concorda?
O foco que eu gosto sempre é de pensar no Brasil do futuro, senão a gente não caminha. Naquele momento, quem buscou a luta armada não foi o Estado. Quando você tem um conflito e ele sai das ideias para a parte armada, o Estado tem que evitar que aquilo ocorra. Acredito que [militares como Ustra] estavam cumprindo atribuições que lhe foram passadas.
Como acha que a tensão institucional existente hoje evoluirá?
Temos uma crise econômica, uma crise moral, uma crise ética. É hora de buscar em paz e harmonia superar os problemas. Se tem atrito, é hora de não ter mais atritos. Entre os próprios ministros do Supremo. Hora de buscar o bem comum dos brasileiros, sem atrito entre os Poderes.
Como deve ser interpretado o discurso de Bolsonaro no domingo (21), quando ameaçou seus adversários com prisão e banimento?
O momento é de união. Aqueles que têm que ser presos, se fizeram alguma coisa equivocada, não interessa de que lado estejam, a Justiça continuará cumprindo naturalmente o seu papel. O momento é de união, de paz.
O discurso dele contribui para isso?
Quando se considera um debate, muitas vezes acaba tendo um atrito entre os candidatos, além da discussão das ideias. Acredito que Bolsonaro, se for confirmada a sua eleição, não pode pensar num segmento, tem que pensar no país como um todo.
Mas ele não estava debatendo com ninguém ao fazer esse discurso.
O tom da pessoa, do presidente, tem que ser um tom conciliador. Se não buscarmos os aspectos comuns, a convergência, não debatermos as ideias, ouvirmos todos os lados, não vamos dar ao Brasil a resposta que merece.