EDITORIAL
MANAUS – O Festival Folclórico de Parintins depende de duas agremiações: Garantido e Caprichoso. Os bumbás vermelho e branco/azul e branco não se misturam, mas não sobrevivem separados. Um depende do outro e a festa parintinense depende dos dois.
Desde o festival de 2022, o Garantido se mostra decadente. Uma decadência que foi exposta nas três noites de apresentações e depois delas, com a debandada de itens do bumbá, trocas de farpas e até invasão da sede do boi vermelho e branco por trabalhadores que reivindicavam o pagamento dos serviços prestados e a saída do presidente, que se mantém no cargo.
Nesta segunda-feira, faltando duas semanas para o Festival de Parintins, o presidente do Garantido, Antônio Andrade Barbosa, enviou ofício ao secretário de Cultura do Amazonas, Marcos Apolo Muniz de Araújo, impondo uma condição para levar a agremiação à arena de apresentações: que o Governo do Amazonas liberasse mais dinheiro. Inclusive, estabeleceu prazo: “entre hoje e amanhã”, caso contrário, não haveria mais tempo para a participação do bumbá no festival.
O ofício e seus termos foram encarados dentro e fora do governo como chantagem. Depois de uma reunião entre o secretário de Cultura o governador Wilson Lima, o governo se manifestou para dizer que considera inimaginável a ausência do boi-bumbá Garantido no 56° Festival Folclórico de Parintins.
O governo também cobrou que o Garantido cumpra os acordos firmados com o Estado, que por seu lado, cumpriu tudo o que foi acordado com a agremiação folclórica. Entre esses acordo está o repasse de R$ 10 milhões aos bumbás Garantido e Caprichoso, sendo R$ 5 milhões para cada um.
No documento enviado ao secretário de Cultura, o presidente do Garantido, diante das dificuldades financeiras, apresenta duas opções ao governo: “1) Realizar a apresentação no Festival Folclórico de Parintins 2023 ou 2) Efetivar o pagamento de todos os recursos humanos envolvidos na construção do boi 2023.” E arremata: “Somente uma dessas duas opções poderia ser tomada, dada a escassez pecuniária atual”.
Antônio Andrade afirma que optou pela segunda alternativa, ou seja, pagar os trabalhadores envolvidos na construção do boi 2023. Fazendo isso, segundo o dirigente, o Garantido não teria condições de se apresentar nas três noites do festival. Para viabilizar as apresentações nos dias 30 de junho, 1° e 2 de julho, o governo teria que destinar mais dinheiro ao boi-bunbá.
Como o governo do estado poderia justificar a injeção de mais dinheiro em apenas uma das agremiações que fazem o Festival de Parintins? E o boi-bumbá Caprichoso, campeão de 2022, que que se prepara, sem problemas financeiros, para suas apresentações, teria o mesmo direito?
O problema de gestão financeira do Garantido já se arrasta há anos e os responsáveis só vêm empurrando com a barriga. O que ocorreu no ano passado, com falhas durante o espetáculo, e o desligamento de artistas em protesto contra a diretoria, deveria ter servido para corrigir os rumos do bumbá, o que não aconteceu.
Neste ano, o Garantido resolveu expor sua decadência financeira e administrativa antes do festival, com a ameaça de não participar da festa. Fazendo isso, Antônio Andrade capitaneou mais repúdio do que apoio, e certamente irá rever a decisão.
A ausência de uma das agremiações no bumbódromo seria uma tragédia para a economia do município, e poderia comprometer o futuro do festival. Seria a decadência do próprio Festival Folclórico de Parintins. O Garantido vai pagar pra ver?