Ao entrar em qualquer clube do Brasil, seja o meu querido Nacional Futebol Clube ou o Clube de Regatas do Flamengo, o desportista deve estar munido de muito calmante para tratar de todos os problemas dos atletas, menos de futebol. O cidadão é assaltado por dezenas de telefonemas, diários, de uma categoria que quer saber de todas as coisas boas para um jogador, menos jogar futebol. É a categoria mais dinâmica do atual futebol: o empresário.
O empresário enxerga os melhores contratos do mundo para um jogador que é reserva do juvenil do Naça e que tem a melhor proposta do mundo para o jovem ir jogar na Suíça. O dirigente fica satisfeito e propõe a negociação, não termina a conversa e fica certo que a coisa é feita para melhorar os vencimentos do juvenil. São dez ou quinze empresários por dia. O Naça está na Série D do destruído futebol brasileiro.
O clube faz os campos, zela por ele, compra equipamentos, gasta com técnicos e preparadores, corre atrás de médicos, massagistas, nutricionistas, patrocínios, os governos entram com passagens para torneios, e no fim de tudo, adivinhem? o empresário aparece, vende o jogador, leva todo o investimento do clube e ficam, dirigentes e torcedores, chupando o dedo. Os empresários estão nadando no papel moeda e os clubes com os títulos a pagar. Vamos a um exemplo de genialidade no tocante a clube versus empresários.
O presidente Luiz Álvaro, do Santos de Pelé, apareceu como a coisa mais nova e revolucionária do exportador futebol brasileiro. Passou anos na mídia mostrando o esforço de manter o Neymar no nosso futebol. Acompanhei com entusiasmo o novo padrão de dirigente que aparecia no Brasil. Ao término do mandato do bravo Luiz Álvaro, presidente do Santos de Pelé, o clube era sparring internacional e só servia para que outros clubes, como o Barcelona 8 x 0 Santos, mostrassem seus artilheiros com placar de peladas. E o time do Santos? Um aglomerado de rejeitados e juvenis, onde, um dia, um juvenil, Gab Gol, foi chamado da arquibancada, pois estava com o pai para assistir ao jogo, e entrou em campo. O garoto, para alegria do clube, fez o gol da vitória. Este é o atual momento do futebol brasileiro na sua série especial.
Tudo no futebol brasileiro é feito para fazer a fortuna de tantos em desfavor da tristeza de muitos.
Aos sábados e domingos assistimos uns jogos sem graça, jogados por velhos acabados por contusões, como o sensacional Deco, ou crianças incapazes de assimilar os mais novos desenhos táticos do padrão Pepe Guardiola. Ao entrar no Bayern, o expert, como primeiro ato, colocou o cabeça de área da seleção brasileira Luiz Gustavo na porta da rua. Motivo: não se desloca para receber novos passes. Dá o passe curto e estaciona, e o jogo não flui.
No começo do ano, os canais de futebol fazem tentadoras propostas para comprarmos os campeonatos brasileiros das séries A e B. Quando chega o meio do ano, os craques vão embora e nós, que pagamos por um futebol com Neymar e outros craques de seleção, passamos a assistir os juvenis serem testados para serem vendidos o mais rápido possível. O Botafogo teve um garoto, Vitinho, fazendo um belo gol no domingo e na quarta-feira estava vendido para o futebol russo.
E futebol que é bom: necas!