SÃO PAULO – Há uma guerra de estúdios, Marvel e DC Comics, que se estabeleceram em Hollywood e comandam as franquias de sucesso. Você pode ficar falando de seus executivos e até dos super-heróis que atraem multidões aos cinemas. Não é o mais relevante. É bom substituirmos essa discussão por uma outra, sobre os ‘autores’. Christopher Nolan, JJ Abrams, Zack Snyder, Joss Whedon. Esse último é o diretor de Os Vingadores e de Vingadores – A Era de Ultron. O segundo filme é ainda melhor que o primeiro.
Tudo é superlativo em A Era de Ultron. É o filme mais longo da Marvel – 160 min – e também tem o maior número de efeitos. São 3.200 efeitos visuais contra 2.500 de Capitão América – Soldado Invernal. Isso corresponde a 20 efeitos por minuto, ou um a cada três segundos. De novo não é o mais importante, exceto, talvez, no começo. A Era de Ultron rivaliza com Velozes e Furiosos 7 no que se refere à cena inicial. Alfred Hitchcock, na entrevista que deu a François Truffaut – e virou o livro Hitchcock Truffaut ou O Cinema Segundo Alfred Hitchcock -, conta ao discípulo que desistiu de algumas histórias porque elas começavam num nível muito intenso e lhe parecia difícil, senão impossível, manter o espectador ligado, na mesma voltagem, o filme todo.
Jason Statham entra para arrebentar na primeira cena de Velozes e Furiosos 7. A Era de Ultron também decola em plena batalha – os vingadores, todos os super-heróis da galáxia Marvel, atacam a fortaleza em que o vilão Van Strucker realiza experimentos e descobrem sua … vulnerabilidade. Que mundo é esse em que até os super-heróis estão ficando frágeis? Os críticos reclamam, falam em cinema de fórmula, na repetição do que faz sucesso (e no acréscimo de explosões, tiros, naves, robôs). Mas o que Christopher Nolan, JJ Abrams e Joss Whedon estão fazendo é outra coisa. Os vingadores podem ter superpoderes, mas não conseguem resolver nem aspectos práticos das próprias vidas.
Bruce Bannon, cujo alter ego é o poderoso Hulk, atrapalha-se todo com a viúva negra Natacha e não consegue dar conta dos sentimentos que sente por ela (e são recíprocos). Bannon e Tony Stark, o Homem de Ferro, brigam e se agridem, um desconfiando do outro, e o mesmo ocorre entre Stark/Homem de Ferro e Steve Rogers/Capitão América. Motivo de piada, ao longo de todo o filme, é o machado de Thor, que nenhum outro super-herói consegue levantar, exceto o Visão. Todos esses super-homens e supermulheres se revelam presas fáceis para os gêmeos Maximoff e no limite, é a consciência de Pietro e Wanda – ele chegará ao limite do sacrifício -, que vai permitir que todos se unam contra o maléfico Ultron. Só quando todos superarem suas diferenças e pegarem juntos – a união faz a força -, os vingadores vão ‘triunfar’.
É que, na realidade, e mesmo que entre eles exista até um alienígena (Thor), são demasiado humanos, dotados de sentimentos de responsabilidade, de culpa. Os gêmeos não perdoam o Homem de Ferro porque as bombas de Tony Stark destruíram sua família. O Homem de Ferro tem um plano para a paz, mas é o que os fragiliza ainda mais. Quando ele decide agir pelo grupo, dá tudo errado – e Ultron se fortalece. Ultron também cria uma geração de robôs para ‘aprimorar’ o mundo. Ultron é tão megalômano quanto Stark/Homem de Ferro, mas a cria de Ultron vai se revelar a suprema consciência. Thor é o primeiro a perceber isso. Paul Bettany é Visão. Tinha de ser ele, o albino de O Código Da Vinci o anjo caído de Legião. Bettany tem um rosto belo e harmonioso e a mais modulada das vozes. Reflete sobre tudo – vida e morte, finito e infinito, bem e mal. Vira o ‘centro’ do novo filme.
Nessa pauleira toda, no infinitamente grande, Joss Whedon busca o ‘pequeno’. Já era o que Stanley Kubrick fazia em 2001, Uma Odisseia no Espaço, confrontando o macro e o microuniverso. Existem momentos em que a ação para e Bannon e Natacha, e Bannon e Stark falam. São todos bons, ótimos atores. Injetam drama na aventura. O mais ‘normal’, na falta de uma palavra melhor, dos vingadores é Jeremy Renner, como o Arqueiro. Ele tem uma ‘família’. É o que falta aos outros, mesmo que componham outra espécie de família. Joss Whedon criou um blockbuster com ‘camadas’. Há muito que usufruir em A Era de Ultron, para além dos 3.200 efeitos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)