Entre os dias 23 e 31 de janeiro, ocorre a 20ª versão do Fórum Social Mundial (FSM), desta vez com encontros e debates virtuais, seguindo a tendência imposta pela pandemia da Convid-19. O evento nasceu para contrapor o Fórum Econômico de Davos, espaço que promove a excelência do neoliberalismo pelo mundo, baseado em uma visão de mundo competitiva, de eliminação do outro e da maximização do lucro de qualquer maneira.
Com a participação de múltiplos movimentos sociais, organizações democráticas da sociedade civil, intelectuais e políticos, o FSM busca uma alternativa ao capitalismo, baseando-se em valores como solidariedade, colaboração, parceria, coletividade, democracia, direitos humanos e direitos da natureza. Trata-se de apresentar alternativas ao neoliberalismo, promovendo experiências de luta contra as desigualdades e a deterioração da natureza, que foram agudizadas nesta época de pandemia.
Podemos perceber o quanto a pandemia trouxe à tona os conflitos sociais e ambientais já existentes, mostrando para todos que o sistema capitalista é social e ambientalmente inviável. Esse modelo tem causado uma enorme desigualdade no mundo, uma enorme devastação ambiental e uma enorme crise política da democracia, além de exterminar o que pensa diferente. Tudo isso sugere que precisamos pensar e colocar em curso um modelo diferente de sociedade sob o risco de eliminação da própria humanidade.
O Brasil vive uma situação especialmente traumática à medida que se percebe a ascensão de grupos de extrema-direita, pautados em ideologias fascistas, racistas, que negam o valor da ciência, retiram direitos dos trabalhadores, estimulam a deterioração da natureza e a eliminação de todos os que ousam pensar diferente. Tais grupos, que sempre existiram, adquiriram poderosa representação política nos últimos anos, conseguindo impor os seus projetos em detrimento dos ideais democráticos e igualitários. O Brasil sofreu evidentes retrocessos políticos, sociais, ambientais e culturais, na nossa época.
Manaus é uma das cidades que mais sofrem os efeitos de um sistema perverso e devastador que ganha cada vez mais apoio político e econômico, deixando a população num total abandono. O sistema de saúde da cidade, por ser um dos muitos outros que funcionam precariamente, mostra o quanto precisamos de uma luta comum para a valorização dos bens comuns. A política de privatização dos bens públicos, como o saneamento básico, amplia ainda mais o sofrimento das classes mais empobrecidas, contribuindo para a concentração de riqueza nas mãos das pequenas elites.
Ao contrário, o Fórum Social Mundial busca articular e potencializar as forças democráticas, ecoando, apesar de todas as dificuldades, que um novo mundo é possível. É preciso lutarmos por um mundo mais justo, mais plural. Denunciar a gravidade da situação, ligada não só à pandemia, que veio para luz uma forte luz sobre as disfunções, as desigualdades e os fatores de destruição da sociedade, dos laços sociais, do meio ambiente e da biodiversidade.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
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