EDITORIAL
MANAUS – A fome voraz das grandes corporações do empresariado brasileiro não permite que a redução de impostos no Brasil seja acompanhada da redução de preços. O movimento que vem sendo feito pelo governo Bolsonaro de redução de tributos não tem causado nenhum efeito na economia, e a inflação só cresce desde 2020, e já ultrapassa a marca de 12% ao ano.
Em entrevista ao Jornal da Globo do dia 10, a consultora econômica da Fenabrave (montadores de veículos), Tereza Fernandez, explica que a redução do IPI para a indústria automobilística serviu apenas para que as empresas mantivessem os preços.
“O que a redução do IPI fez foi fazer com que as empresas não elevassem os preços em dois, três meses (…), mas não é suficiente para reverter a tendência de mercado”, disse ela, referindo-se a estagnação nas vendas.
As empresas, no entanto, não divulgam seus lucros, mas apenas os números que lhes interessam. O fato é que não há queda na margem de lucro da maioria das empresas, pelo contrário.
Quando as empresas divulgam dados sobre faturamento e lucro, percebe-se que não há crise para elas. É o caso dos bancos. O Itaú divulgou na semana passada lucro líquido corrente de R$ 7,3 bilhões no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 15% na comparação com os três primeiros meses de 2021.
O Banco do Brasil, estatal, divulgou na quarta-feira (11) que obteve no primeiro trimestre lucro líquido de R$ 6,6 bilhões, o que representa aumento de 35% em relação ao mesmo período de 2021.
Enquanto a sociedade brasileira lamenta a alta nos preços dos combustíveis, a Petrobras anunciou lucro líquido de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre.
Diante desse estado de coisas, economistas e parte dos meios de comunicação defendem a manutenção da política de preços da companhia, e sugerem que o governo encontre um caminho para segurar os preços da gasolina, do diesel e do gás natural, como a redução dos impostos ou a concessão e subsídios.
Aceitar propostas tão absurdas seria tirar ainda mais dinheiro do bolso de quem já está no sacrifício para elevar ainda mais os lucros da Petrobras e de seus acionistas provados.
O estômago do empresariado brasileiro é um saco sem fundo. Nunca estará saciado.
E a política de preços no Brasil é uma engrenagem que só gira em um sentido, elevando os preços sempre para cima. O brasileiro não conhece o movimento de vai-e-vem, como ocorre em outros países.
Desde que foi iniciada a política de preços da Petrobras, por exemplo, a gasolina nunca sofreu redução, de fato. Sempre há uma desculpa para não reduzir os preços. Recentemente, o dólar começou a cair e foi reduzido em mais de R$ 1, mas não houve queda nos preços dos combustíveis.
O preço da carne bobina subiu mais que o dobro da inflação de março de 2022 a abril de 2022. A inflação acumulada nesse período ficou em 19,4% enquanto o preço da carne subiu 42,6%, de acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
A explicação para o aumento do preço da carne é o aumento das exportações para a China, que desde 2020 cresceu acima de 30%. Como a China paga em dólar, é mais vantagem vender para o país asiático. Com isso, a oferta do produto foi reduzida, elevando o preço no marcado interno.
Quem aposta que haverá redução de preço com a redução do Imposto de Importação sobre a carne bovina, anunciada na quarta-feira (11) pelo Ministério da Economia, está enganado.
O governo zerou o tributo que era de 10,8%, mas, como no caso dos carros, no máximo a redução evitará aumento de preço nos próximos meses para a carne.