MANAUS – Foi duro assistir a uma hora e meia de entrevista do Bolsonaro no Roda Viva. Menos por ele e mais pelos jornalistas. As perguntas dos representantes de ONGs foram muito mais inteligentes. Assisti pela internet, um dia depois.
O problema residiu ai: faltou inteligência. Os perguntadores ficaram em cima de temas já conhecidos e esclarecidos. Bolsonaro até deu uma dica: “Quero ser presidente daqui pra frente. O que passou é passado”.
Pouco foi questionado sobre o futuro do Brasil. Que Brasil ele imagina para o futuro. A primeira pergunta, do apresentar, sobre o legado que ele gostaria de deixar, caso eleito, não foi respondida. Seria um bom ponto de partido, mas o assunto foi desviado pela primeira jornalista convidada, que foi tratar das polêmicas que todos estão carecas de saber.
Ninguém questionou o candidato a presidente sobre como ele vai implementar medidas que precisam passar pelo Congresso Nacional.
Tenho vontade de saber o que Bolsonaro pensa da taxa de juros estabelecida pelo Banco Central. Ele chegou a dizer que os bancos cobram juros altos e que pega empréstimo quem quer. E não foi explorada essa questão.
Queria saber como ele vai tratar o pagamento da dívida pública, que hoje consome mais de um terço do Orçamento da União (R$ 1,3 trilhão neste ano) e não diminui, só aumenta.
Ele até falou que não gosta da reforma da Previdência proposta por Michel Temer, mas não perguntaram que tipo de reforma ele quer. Aliás, não se perguntou nada sobre reformas. Todo mundo diz que o Brasil precisa de reformas estruturais.
Gostaria de saber como ele vai fazer a defesa da família, que é uma frase repetida por ele aos quatro cantos. A questão da violência, que afeta muito mais as famílias brasileiras do que a questão sexual, ficou na superficialidade das bravatas do militar reformado.
Haverá programas de moradia no governo dele? Haverá reforma agrária? Ele já disse que não gosta do MST, mas o movimento só existe porque uma multidão vive em busca de um pedaço de chão Brasil afora.
Faltou inteligência para aprofundar temas fundamentais com o candidato. Li em algum lugar que os jornalistas eram de esquerda. Uma ofensa a quem se define como de esquerda.
Verdade…perderam uma ótima oportunidade de aprofundar temas necessários para a construção de um novo Brasil e, principalmente, como governar com um Congresso corrupto, adepto do “toma lá, dá cá”. Na verdade, o eleitor precisa melhorar a qualidade do Congresso. Aí, a postura do presidente será uma consequência.