Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – Discreto e praticamente anônimo, Luis Cláudio Silva, filho caçula do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passou os últimos dois meses entre Manaus, Rio Preto da Eva e Parintins. A missão: o Campeonato Amazonense de Futebol da segunda divisão. Na quarta-feira (21), a competição terminou. O RPE Parintins perdeu para o Rio Negro por 3 a 1 e ficou com o vice campeonato, mas assegurou presença na primeira divisão de 2023.
Diretor de futebol da agremiação, Luis Cláudio Silva esteve presente nos 11 jogos do RPE Parintins, mais da metade, seis, em Rio Preto da Eva, cidade que o clube azul e vermelho adotou como base. Os outros cinco jogos foram em Manaus.
“Eu nunca me apresentei como filho de alguém. Eu sou eu. Sou o Luis Cláudio. Tenho que mostrar meu trabalho”, disse o dirigente em entrevista exclusiva ao jornalista Keynes Breves, do PodCast Folha em Campo, de Parintins.
Luis Cláudio falou da experiência e de seu envolvimento com o futebol e como chegou ao RPE Parintins, fundado ano passado pelo empresário sul coreano Sung Un Song, proprietário da Digitron da Amazônia.
“Resolvi abraçar o projeto por sua magnitude. Claro que queremos revelar jogadores, queremos disputar campeonatos brasileiros, chegar à primeira divisão, mas antes disso a gente quer formar o cidadão. A gente sabe que no futebol, a cada 100 crianças que treina, apenas 1 acaba vingando. O projeto, a longo prazo, quer tentar mudar esse quadro”, disse.
Luis Cláudio enxergou a chance de mudança no projeto apresentado por Song ano passado, após a tentativa frustrada do empresário sul coreano em comprar a sede do Rio Negro e a desistência de investir no futebol do centenário clube amazonense.
“O Song tem um ideal muito legal de como o futebol pode evoluir. É um projeto muito bacana. A gente não quer crianças frustradas por não terem conseguido jogar bola. A gente quer adultos conscientes, que tiveram chance de estudar, que foram para o ensino técnico”, afirma Luis Cláudio.
Com experiência em clubes grandes do eixo Sul-Sudeste, Luis Cláudio se surpreendeu com alguns aspectos do futebol amazonense. “Os clubes fazem o máximo que é possível, mas sem recursos, sem ajuda de ninguém, a federação não consegue ajudar porque também não tem dinheiro. É uma federação que nitidamente ficou abandonada por muito tempo”. Sem citar nomes de dirigentes ou clubes, Luis Cláudio disse que o que mais lhe assustou foi “a falta de compromisso de alguns presidentes com seus atletas”.
“Eu estava acostumado com um pouco mais de organização dos times, mais estruturados, com recursos” disse Luis Cláudio, que iniciou o curso de Educação Física para ser treinador. “No segundo ano surgiu o convite para ser estagiário no São Paulo Sub-15, em Cotia (SP). Fiquei seis meses e o aprendizado foi muito bom, com o Bruno Petri, que foi um paizão. Em 2007 nós arrebentamos. Foi a geração de Casimiro, Oscar, o Lucas [Moura], que o pessoal chamava de Marcelinho, o início do Rodrigo Caio”.
O dirigente conta que no final de 2007, através de um amigo comum, foi convidado por Vanderlei Luxemburgo para trabalhar no Palmeiras. “Foi um ambiente muito bom. Vanderlei é um craque, me ajudou demais. Ele fez uma coisa muito importante para mim. Como eu falei para ele que queria ser treinador, ele disse: ‘olha, treinador tem que saber um pouco de cada área. Nós momentos de folga sua você vai grudar no fisioterapeuta, na nutricionista, nos médicos, para entender um pouco mais’. Aprendi muito em um ano e meio”.
Luis Cláudio conta que na metade de 2009, ainda na parceria com Luxemburgo, desembarcou na Vila Belmiro para trabalhar no Santos. Após a experiência, foi parar no Corinthians, convidado por Mano Menezes. “Aprendi muito também”, lembra.
Mesmo com a carreira em alta, Luis Cláudio conta que precisou se afastar do futebol. Mas voltou ao ambiente em 2017 e fez o curso da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para treinador. “Agora optei por trabalhar mais nessa área, de gestão de futebol”.
Luis Cláudio alega dificuldades logísticas para mudar de Parintins para Rio Preto da Eva. Parintins, distante 369 quilômetros de Manaus, tem um forte campeonato amador, mas nunca teve um time profissional na disputa do campeonato amazonense exatamente em razão das dificuldades e alto custo com deslocamentos até Manaus, onde está a maioria dos clubes federados. Só há duas opções de viagem: de barco ou de avião.
“A gente queria muito abraçar a cidade. Mas a logística de Parintins para Manaus é muito complicada. Se você for pensar o time profissional, mais categoria de base, mais o futebol feminino você está falando de mais de 120 pessoas. Imagina toda semana colocar essas 120 pessoas em barco para vir jogar, voltar de barco. Infelizmente a logística dificultou”, disse.
A saída foi ‘transferir’ o clube para Rio Preto, a 81 quilômetros de Manaus, com opção de viagem pela Rodovia Vital de Mendonça. Animado, Luis Cláudio Silva faz planos para 2023. “A meta é chegar a competições nacionais – Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro da Quarta Divisão”.
A campanha do Parintins na segunda divisão teve 11 jogos, com seis vitórias, um empate e quatro derrotas. Luis Cláudio esteve presente em todas as partidas.
18/07 – Tarumã 1 a 5 Parintins – Estádio Ismael Benigno, a Colina, em Manaus
24/07 – Parintins 3 a 3 Atlético – Estádio Francisco Garcia, em Rio Preto da Eva
27/07 – Unidos do Alvorada 3 a 2 Parintins – Estádio Ismael Benigno
13/08 – Parintins 7 a 0 Sul América – Estádio Francisco Garcia
19/08 – Parintins 4 a 1 RB do Norte – Estádio Francisco Garcia
28/08 – Librade 0 a 6 Parintins – Estádio Ismael Benigno
03/09 – Parintins 0 a 1 Rio Negro – Estádio Francisco Garcia
07/09 – CDC Manicoré 0 a 10 Parintins – Estádio Francisco Garcia
14/09 – Parintins 1 a 2 Unidos do Alvorada – Semifinal, jogo da ida, Estádio Francisco Garcia
17/09 – Unidos do Alvorada 0 a 1 Parintins – Semifinal, jogo da volta – Estádio Carlos Zamith, em Manaus
21/09 – Rio Negro 3 a 1 Parintins – Decisão – Estádio Carlos Zamith