Neste tempo de conjuntura política complexa e desafiadora, a provocação do poeta amazonense Thiago de Mello “faz escuro, mas, eu canto” nos parece bastante oportuna e necessária, de maneira especial porque como nos diz esse mesmo poeta, “as colunas da injustiça – sei que só vão desabar quando o meu povo, sabendo que existe, souber achar dentro da vida o caminho – que leva à libertação. Vai tardar, mas saberá – que esse caminho começa na dor que acende uma estrela – no centro da servidão”.
Parafraseando o poeta, “os cantos que ecoam na escuridão” foram ouvidos no II Fórum de Leituras de Paulo Freire da Região Norte realizado de forma simultânea na Universidade Federal de Rondônia e no Sindicato dos Trabalhadores(as) em Educação do Estado de Rondônia em Porto Velho, entre os dias 19 a 21 de junho de 2017. Trata-se da continuidade de um esforço coletivo de educadores(as) e educandos(as), de militantes dos movimentos sociais envolvidos com a educação das classes populares na Amazônia.
O Fórum contou com intensa participação de estudantes, militantes dos movimentos sociais, educadores e educadoras populares que debateram a temática da escola pública em descompasso com a realidade das classes populares na Amazônia, os desafios da questão da educação do campo, das águas e da floresta, o problema da cultura do silenciamento das mulheres ribeirinhas, da educação de jovens e adultos, educação infantil, educação especial, dentre outras temáticas.
Neste segundo fórum além dessas indagações e apontamentos vivenciou-se um espaço de diálogo e reflexão a partir da ótica freiriana, especialmente no contexto mais abrangente de crise estrutural do capitalismo e dos perigos do refluxo histórico de retrocessos em todos os níveis da sociedade, que implica, necessariamente, intencionalidade, diretividade, rigorosidade, compromisso, competência e seriedade no trabalho docente que é desenvolvido com as classes populares na escola pública, todos conceitos e categorias presentes na obra de Paulo Freire tendo a “Educação como ato político”.
O II Fórum de Estudos Leituras de Paulo Freire: Educação como ato político foi importante também para se pensar os desafios dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo na Amazônia, bem como outras modalidades de formação de educadores e educadoras populares vinculados à causa dos povos indígenas e quilombolas. O evento proporcionou a abertura de um espaço permanente de reflexão e diálogo sobre temáticas relevantes no campo da Educação Popular freireana, além de oferecer espaços de socialização de produções intelectuais, de trabalhos de pesquisas científicas, de relatos de experiências, de vivências, painéis, danças, poesias, dentre outros.
Eventos com estas características impulsionam a caminhada e a luta das organizações populares na Amazônia em tempos de crise. Retoma os modelos de educação permanente e integral produzidos historicamente na Amazônia pelos muitos povos indígenas que desenvolveram formas de convivência com a floresta e as várias organizações em defesas de seus direitos. Da mesma forma, as diversas experiências das comunidades quilombolas e dos povos da floresta, homens e mulheres que em vários lugares conseguiram preservar seus lagos, introduzindo uma legislação das águas considerada vanguarda no Brasil.
Diversos eixos temáticos reproduziram a metodologia de Paulo Freire nos materializada nos círculos de cultura com intensa participação nos debates e aprofundamento de temáticas tais como Paulo Freire e Educação do Campo, das Águas e da Floresta; Paulo Freire e Cultura e Arte Popular; Paulo Freire e Educação Popular; Paulo Freire e Movimentos Sociais; Paulo Freire e Feminismos; Paulo Freire e Educação de jovens e adultos (EJA); Paulo Freire e Filosofia da Libertação; Paulo Freire e Universidade Popular; Paulo Freire e Educação na Amazônia; Paulo Freire e Saberes Tradicionais; Paulo Freire e Formação Docente.
Todos esses eixos trouxeram para o debate temáticas que desafiam processos de organização e libertação dos povos da Amazônia tal como um “canto que ecoa na escuridão“ como uma luz que aponta novos caminhos e novas possibilidades de seguir lutando por dias melhores, por cidadania e dignidade de todos os povos.
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