Do ATUAL
MANAUS – A Amazônia enfrenta um “problema secular de não investimento em infraestrutura sustentável” e isso gera outros problemas associados ao não desenvolvimento da região, afirmou o professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) Augusto César Barreto Rocha, em entrevista ao programa Nova Economia, da TVGGN, na quinta-feira (22).
Augusto afirmou que há um “estoque” de infraestrutura no sudeste e defendeu o investimento em infraestrutura com sustentabilidade na região amazônica para corrigir deficiências crônicas.
“A gente precisa ter as mesmas infraestruturas que todos os lugares tem. A gente precisa ter a rodovia porque o Brasil é um país rodoviário. A carga do Brasil mais de 60% é transportada por rodovias. A gente precisa chegar no resto do Brasil por rodovias. Essa rodovia não pode ser um vetor de destruição na Amazônia de maneira alguma. Ela precisa ser um vetor de proteção”, afirmou Augusto César.
Augusto e a professora Denise Kassama, que é ex-vice-presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia), foram entrevistados sobre os desafios de desenvolver a região, que tem como principal matriz econômica a ZFM (Zona Franca de Manaus) e que tem diferentes potencialidades. “A gente não tem uma Amazônia. A gente tem múltiplas Amazônias”, afirmou Augusto.
Comandado pelo jornalista Luis Nassif, o programa teve a participação do economista João Furtado e do jornalista Sergio Leo.
Augusto e Denise comentaram sobre a falta de investimento em infraestrutura e relataram que na região não há hidrovias e rodovias asfaltadas que liguem o estado do Amazonas ao resto do país.
“O que existe é um problema secular de não investimento de infraestrutura sustentável na Amazônia. Daí decorrem todo os demais problemas associados ao não desenvolvimento da região. O Brasil é um estoque muito grande de infraestrutura no sudeste. Há algum permeado pelas áreas mais desenvolvidas. Isso é a causa do efeito maior atividade econômica”, disse Augusto César.
“No olhar nosso, o desafio é a falta da rodovia BR-319, que passa no meio do Amazonas e que está sendo destruída no entorno dela. Há uma falta de enfrentamento da questão ambiental, da proteção da floresta. A gente tem negligenciado a Amazônia em todas as questões de desenvolvimento de infraestrutura. Infraestrutura mais contemporânea, mais moderna, e não aquela infraestrutura dos erros da Transamazônica. A gente tem que estar em 2024 para construir infraestrutura na Amazônia”, completou Augusto César.
Hidrovias
Uma das questões apontadas por Augusto César é a falta de hidrovia. Cerca de 40% da soja produzida no Brasil é escoada pelo Rio Madeira. O produto chega a Itacoatiara pelos rios Madeira e Amazonas. Entretanto, o transporte dessa mercadoria é afetado no período da seca, em que há restrição na navegação.
“A gente tem só rios na região. Não tem hidrovias. Há uma sensação que há hidrovias, mas não há. Os rios são maravilhosos, mas há uma sazonalidade aqui que não é enfrentada”, afirmou Augusto César.
Sem rodovias ou hidrovias, a saída é o transporte aéreo, que se torna mais caro na região. “Há um problema do custo da passagem aérea. Para vocês terem ideia, uma passagem aérea Porto Velho-Manaus-Porto Velho, que é do ladinho, chega a ser mais cara do que Manaus-Lisboa-Manaus. É inaceitável esse tipo de coisa, mas é o que acontece. É o fato da realidade que nós vivemos aqui”, disse o professor.
“Existe um problema crônico de falta de infraestrutura. Por mais que o aeroporto de Manaus seja o terceiro maior para cargas do país. O primeiro é Guarulhos, o segundo é Campinas, terceiro é Manaus, decorrente do polo industrial de Manaus”, completou.
Investimentos
Augusto César defende maior investimento em infraestrutura sustentável. Ele afirma que o Estado do Amazonas recolhe 34,9% dos impostos totais da região norte. “É muito expressiva a arrecadação tributária”, afirmou o professor.
“A gente tem, de fato, um grande desafio que é desenvolver mais essa indústria que está instalada aqui, que paga bastante imposto. Dezoito por cento dos imposto sobre a produção em relação ao PIB, segundo os últimos dados do IBGE. Enquanto o Brasil paga 15,5%. Paga-se mais imposto aqui do que na média do Brasil”, disse Augusto César.
“É uma dinâmica que precisa ser enfrentada, que é corrigir a deficiência histórica de falta de infraestrutura sustentável, não aquela infraestrutura equivocada dos anos 70 que ignorava o meio ambiente. A gente precisa ir para a nova perspectiva da infraestrutura”, afirmou.
De acordo com Augusto César, em 2023 as indústrias gastaram mais de R$ 1,4 bilhão a mais no transporte de cargas por conta da seca. Nesta ano, as empresas de navegação começaram a cobrar a taxa no início deste mês, antes mesmo de qualquer restrição na navegação. Neste ano, as indústrias estimam R$ 500 milhões de sobrecusto de transporte.
“Ano passado as indústria gastaram mais de R$ 1,4 bilhão de sobrepreço em relação ao custo do transporte. Esse ano os armadores já estão cobrando o sobrecusto de seca sem nem ter restrição de seca. Isso é assustados. A gente já antever R$ 500 milhões de sobrecusto de transporte. Só por conta da sobretaxa da seca. Uma sobretaxa de uma seca que ainda não está acontecendo por toda sua extensão”, afirmou Augusto César.
Para o professor, trata-se de um problema regulatório, de carência de infraestrutura e de falta de governança ambiental de maneira ampla.
“A Amazônia precisa ser percebida na sua dimensão como ente federativo que é, e não se aloca recursos investimentos de infraestrutura. Enquanto não se colocar 2,5% do PIB da região para infraestrutura ano após ano, a gente nunca vai corrigir essa deficiência histórica. Há uma carência de estoque de infraestrutura”, afirmou.