MANAUS – Durante o intervalo de uma entrevista a uma rádio de Manaus, nesta quarta-feira (27), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) conversa com assessores e solta algumas pérolas, como um questionamento sobre “quanto você acha que vale a vaga pro Supremo Tri…” Ele para, ri e muda de assunto.
Bolsonaro falava de “como funcionava o Brasil” antes dele. Falava sobre a cobrança de pedágio na Via Dutra (rodovia que liga o Rio de Janeiro a São Paulo), que ele diz terá o preço reduzido no próximo leilão. “No passado, o cara que fazia o dinheiro, levava uma caixa de dinheiro embora e metia a caneta no contrato, vou passar pra 20 o pedágio”.
Em seguida, o presidente fala sobre a vaga no STF. “Presta atenção, pessoal, quanto vocês acham que vale a vaga pro Supremo Tribu…” Bolsonaro é alertado que está ao vivo, olha para a câmera, ri e continua a fala: “Então, é isso daí, isso é o Brasil; a gente apanha pra cacete, o tempo todo. E tem gente que não dá valor… Oh, tem que resolver tudo; não dá pra resolver tudo, vamos devagar.”
Bolsonaro, então, questiona os presentes sobre como estaria o Brasil se Fernando Haddad tivesse vencido a eleição de 2018. “Imagine se tivesse entrado no meu lugar aqui o Haddad, como estaria o Brasil? Dá pra imaginar como estaria o Brasil? Tava em lockdown!”.
O presidente da República sempre trabalhou contra o isolamento social e pregava, desde o início da pandemia de Covid-19, a tal “imunidade de rebanho”, que consiste em permitir que o maior número de pessoas seja infectado por um vírus para que seja criada imunidade o mais breve possível na população.
Bolsonaro, inclusive, chegou a recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para revogar decretos de governadores e prefeitos que determinaram o fechamento de atividades econômicas e sociais. Perdeu em todas as ações.
No entanto, foram muito poucos os prefeitos e governadores que decretaram lockdown, que é o fechamento total das atividades, exceto aquelas essenciais à manutenção da vida. A maioria fechou apenas as atividades que poderiam levar pessoas ao risco de contaminação.
É difícil imaginar como Haddad atuaria durante a pandemia se presidente fosse. O que é possível avaliar é a atuação do presidente Bolsonaro. Neste quesito, ele atuou na contramão dos países com democracia consolidada. Os países europeus mais afetados pela doença fecharam as atividades econômicas.
Essa medida era necessária, porque a rede hospitalar, mesmo em países onde o sistema de saúde funciona sem os problemas verificados no Brasil, não foi capaz de suportar a demanda criada pela Covid-19.
Os exemplos estavam todos os dias nas TVs e jornais e sites do mundo inteiro: Itália, França, Espanha e Reino Unido não conseguiram ofertar leitos para todos e muitos morreram nas ambulâncias á espera de leitos ou em casa.
Quando a doença chegou ao Brasil, o presidente da República trabalhou a favor do vírus, tentando empurrar a população para o abismo que era a contaminação.
Em Manaus, na primeira e na segunda onda, muita gente morreu em casa ou em frente aos hospitais à procura de leitos, porque o vírus da Covid-19 tem transmissão fácil e letalidade fora do comum. Portanto, a melhor forma de reduzir o risco da doença era não contrair o vírus, pelo isolamento social.
Até a chegada das vacinas, essa foi a melhor medida ao alcance de todos. Mas o presidente achava que o Brasil não deveria por em risco a economia. Quem conseguiu sobreviver, por mais que esteja sem emprego no momento, ainda tem condição de recomeçar.
A doença matou mais de 606 mil brasileiros, e ainda mata no Brasil. Para essas pessoas, nenhum esforço valeu a pena.