MANAUS – Terceiro colocado na última eleição municipal, com 156.648 votos, o vice-governador Henrique Oliveira (SDD), em entrevista ao AMAZONAS ATUAL concedida na terça-feira, 2, afirmou que evitará embates com o seu “novo grupo político” na construção da possível candidatura dele à Prefeitura de Manaus no ano que vem. “Eu não vou ‘hissalizar’ as coisas (…). Não vou nunca correr o risco de ser demitido pela CBN ao vivo”, ironizou.
Oliveira disse que só sairá candidato se o governador José Melo (Pros) indicar que a hora dele chegou, mas ponderou que se submeterá à vontade do grupo. No entanto, adiantou que retomará o posto que sempre lhe garantiu expressivas votações mesmo sem “grupo político”: o palanque eletrônico de programas assistencialistas. Oliveira deve aproveitar o período que antecede o veto da Justiça Eleitoral a aparições em programas de TV para voltar a ser apresentador. Afirmou que não vai torcer contra a ação conjunta entre prefeitura e governo, mas se queixou de que, embora tenha apoiado Arthur Virgílio Neto no segundo turno de 2012, seus projetos na campanha não foram aproveitados em nenhum aspecto.
Tentando se alinhar sem riscos ao que chamou de “seu grupo político”, Oliveira elegeu a discrição como regra de conduta nos primeiros seis meses de governo. “Sei o meu lugar (…). Eu sou muito grande, qualquer mexida que dou, não tem como não aparecer. Então, isso deixa muita gente preocupada”, afirmou. Confira abaixo trechos da entrevista.
ATUAL – O senhor tem adotado uma postura discreta na função de vice-governador. É a liturgia do cargo que lhe impõe essa conduta?
Henrique Oliveira (HO) – Eu não vou ‘hissalizar’ as coisas. Eu sou vice-governador e sei, mais do que ninguém, as normas constitucionais que regem o cargo de vice-governador. O governador (José Melo-Pros) tem me dado um prestígio grande em relação a representá-lo nos diversos eventos. Tenho sido muito utilizado por ele. Ele é o chefe. Eu sou disciplinado. Sou filho de militar, sei o meu lugar. Não vou nunca correr o risco de ser demitido pela CBN ao vivo. Se depender de mim, não vou. Não existe isso. Mas mesmo assim, foram cinco meses muito produtivos e bons. Fui à Fifa, à CBF, conseguimos trazer às olimpíadas para o Amazonas. Fui ao interior para implantação do Banco do Povo em algumas cidades. Fui entregar obras em Manicoré. Hoje estou representando ele na Semana do Meio Ambiente. Enfim, acho que tem que ser alguma coisa assim. Como é o nome daquele personagem do Quarteto Fantástico, o cara que era transparente?
ATUAL – A mulher invisível. O vice tem que ser invisível?
HO – Tem. Tem que agir, trabalhar. Ele existe, mas não pode aparecer. Até porque o processo político é muito dinâmico, estamos às vésperas de uma nova eleição… Eu sou muito grande, qualquer mexida que dou, não tem como não aparecer. Então, isso deixa muita gente preocupada. Achando que eu sou candidato a prefeito.
ATUAL – E o senhor não é?
HO – Na verdade, hoje eu faço parte de um grupo. Dizer que eu não quero ser candidato a prefeito seria uma grande mentira. Eu sou transparente e admito a verdade: eu quero ser prefeito. Tanto é que fui candidato há dois anos.
ATUAL – Teoricamente o senhor tem todos os instrumentos necessários a uma candidatura e foi o terceiro mais votado no pleito de 2012.
HO – Se lá atrás que, eu não tinha apoio, grupo e partido, fui candidato, imagina agora como vice-governador, se o governador chegar para mim e disser: ‘chegou a sua hora’. Eu torço para que a ação conjunta continue. Mas eu sei que existe um desconforto grande em relação à população de Manaus sobre alguns setores como transporte coletivo, urbanização, asfalto. Então, assim, dizer que eu não gostaria de ser prefeito, de colocar em prática sonhos meus, coisas que eu levantei na última campanha, que não foram absorvidas em nenhum aspecto …
ATUAL – O senhor teve um bom resultado na disputa a prefeito, em 2012. Seus votos levaram a disputa ao segundo turno. Isso não foi um investimento para o futuro?
HO – Pois é. Mas eu dependo de um grupo, né? …
ATUAL – O senhor vai se submeter às decisões desse grupo para a eleição de 2016?
HO – Exatamente. O grupo vai decidir o que é melhor: se é apoiar o (prefeito de Manaus) Arthur Virgílio Neto (PSDB), se é ficar com o Henrique Oliveira, se é apoiar um outro candidato. Quem sabe? Política é muito dinâmica. Temos aí, até as eleições, um ano e quatro meses. Muita coisa pode acontecer. Será que o (senador) Omar (Aziz-PSD) não é candidato a prefeito? Será que podemos apoiar um outro candidato? Podemos apoiar o Arthur? O Arthur pode virar ministro da Dilma? (risos)… É pouco provável, mas…
ATUAL – Muitas coisas pouco prováveis já aconteceram em definições de candidatura no Amazonas…
HO – Então. O que eu não posso é mentir. Dizer que não sou candidato de jeito nenhum e depois me lançar candidato dizendo que foi o povo que quis e eu decidi. Não tem essa.
ATUAL – Na movimentação política de bastidores no período da pré-campanha ao Governo e na troca do PR pelo Solidariedade, o senhor se mostrou muito hábil. O vice-presidente Michel Temer assumiu agora uma importante função de articulação política no Governo Dilma. Seus atributos políticos estão sendo capitalizados pelo grupo que o senhor diz que faz parte?
HO – Eu acho que eu tenho uma carta branca para auxiliar nisso aí. Não preciso assumir secretaria para ser um interlocutor.
ATUAL – Mas aí me refiro à função não a cargo.
HO – Mas dentro do meu universo assumo essa função, sou um interlocutor e converso com os deputados. Não em processo sucessório. Porque esse processo sucessório está longe de ser pensado pelo Melo. De forma alguma ele pensa em processo político neste momento. O que a gente pensa é em azeitar essa máquina. O que temos hoje é um Comitê dessas reformas todas que é comandado pelo Evandro Melo.
ATUAL: O senhor tem espaço nesse comitê?
HO – Tenho. Agora, a bola da vez é a questão da saúde: melhorar a performance. Tem coisas que precisam melhorar mesmo num momento de crise. Vivemos numa baixa da arrecadação. Caiu a arrecadação em mais de R$ 300 milhões nos primeiros meses. Agora deu uma equilibrada no quarto mês. Mas ainda estamos no negativo. A gente que prometeu R$ 1 bilhão de investimento em projetos de escolas, melhoria de salários de policiais, mais de 5 mil policiais nas ruas, enfim. As promessas de campanha precisam ser cumpridas. Em momentos de crise como esses, precisamos ser melhores na saúde, enxugando custos. Tem que se debruçar. Por isso, a atividade política foi completamente hibernada pelo grupo nesse momento. O grupo pensa politicamente por questões de sobrevivência. Mas nunca houve e não acredito que haja tão cedo uma reunião com teor político para se falar sobre eleição municipal. É o momento de falar de saúde, segurança e educação.
ATUAL – Como o senhor avalia a reforma política, as mudanças já aprovadas? Em específico, a não reeleição?
HO – A não reeleição, caso seja sancionada pela presidente da República, ela não se refere às próximas eleições. Quem tem direito adquirido não vai ser atingido. Eu poderia concorrer à reeleição. Os governadores que tem direito ainda poderão. Não atinge a gente. Quem sabe eu possa ser candidato a vice-governador de novo? Ou futuro governador do grupo. Eu fico muito feliz de ter encontrado no governador José Melo um tratamento ao vice como o Omar deu a ele. Mas as demonstrações têm limites e eu tenho essa disciplina. Além de ter uma característica, que podem até achar engraçada, mas eu sou tímido. Então, eu não gosto de estar em badalações, em eventos, sendo convidado até para batizado. Fico mais discreto mesmo. Porque o importante é ir para a rua e trabalhar. Isso não é da boca para fora, não. Eu acho que sou muito mais útil pegando a enxada com esses dois metros que tenho, do que ficar dentro de gabinete pensando o que vou fazer. Eu acho que é isso que falta na política. Eu acho que tem que tirar o paletó e ir para a rua.
ATUAL – O senhor já teve chance de nomear o seu gabinete? Trouxe a sua equipe da Câmara dos Deputados?
HO – Estou ocupando o gabinete que era ocupado pelo Eduardo e Omar antes da construção do atual gabinete do governador. Então, assim, as acomodações são muito boas.
ATUAL – Em relação a sua equipe, o senhor conseguiu nomear?
HO – Eu digo de estrutura, porque as pessoas recorrem a esses espaços para resolver seus problemas particulares e individuais num curto espaço de tempo. E esquecem que as coisas são resolvidas de forma coletiva a médio espaço de tempo.
ATUAL – O senhor tem sido muito procurado no gabinete?
HO – Sim. Minha rotina continua a mesma desde a época do “Fogo Cruzado”, na televisão.
Às vezes as pessoas precisam mais de um ombro amigo, de serem escutadas. Porque, afinal de contas, eu sou um representante. As pessoas votaram em você para te verem governando suas vidas. Então, você não pode deixar de atender as pessoas e resolver os problemas.
ATUAL – A propósito, o senhor vai voltar a ser apresentador?
HO – Vou voltar com um programa. Estou costurando um horário numa televisão.
ATUAL – Vai ser “Fogo Cruzado” mesmo?
HO – Não, vai ser algo mais brando. O fogo queima, né? (risos)
ATUAL – A fase é outra agora?
HO – É. A fase é outra.
ATUAL – Quando se está no Governo o fogo não pode mais queimar?
HO – Não. Não é isso não. Nunca bati muito no Governo quando era do “Fogo Cruzado”. Fazia mais solidariedade.
ATUAL – E o seu partido, o Solidariedade, como se prepara para o eleição do ano que vem, no interior do Estado?
HO – O Solidariedade tem um evento na semana que vem. É nacional, mas será dividido por regiões. No Norte, Manaus sediará o encontro regional. Será dias 15 e 16 de junho. E aí a gente vai discutir esses planos. Hoje temos 36 vereadores. Nossa meta é formar diretórios em todos os municípios até final de outubro, quando é a data limite de filiação para concorrer. Aumentar número de mulheres. Filiar gente para poder concorrer nas prefeituras e câmaras municipais.
(Colaborou Rosiene Carvalho)