EDITORIAL
MANAUS – O discurso que serve para congelar ou reduzir os salários dos trabalhadores da iniciativa privada e dos servidores públicos em geral não serve para impedir a alta nos preços de produtos essenciais à vida no Brasil.
É absurda a velocidade com que as grandes empresas e setores importantes da economia aumentam os preços de seus produtos, num momento em que a pandemia castiga de forma cruel a população brasileira.
Com mais de 14 milhões de desempregados, e com outros milhões que aceitaram redução no salário para preservar os empregos, o brasileiro assiste atônico a onda de elevação de preços em todos os setores.
Os índices de inflação medidos pelo IBGE, órgão oficial do governo para observar a subida e descida de preços, aponta números irreais para quem está comprando no mercadinho, no supermercado, na loja de material de construção ou nas drogarias.
O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de fevereiro, por exemplo, ficou em 0,82%. Esse índice mede a inflação entre as famílias que ganham de 1 a 5 salários mínimos.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação entre as famílias que ganham de 1 a 40 salários mínimos, ficou em 0,86% em fevereiro.
Esses índices não medem a inflação em Manaus. A única capital do norte incluída na pesquisa é Belém, que tem ligação mais fácil com o Brasil rico do Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Mesmo assim, Belém pode ajudar a entender como os habitantes do Amazonas estão perdendo o poder de compra. Na capital do Pará, o INPC ficou em 1,28% e o IPCA em 1,41% em fevereiro.
Considerado que o trabalhador de baixa renda não consome cinema, plano de saúde ou material escolar, mas gasta quase a totalidade do salário com alimentação, medicamentos e higiene, para esse grupo, a inflação é próxima do percentual de aumento de preços verificado nas prateleiras dos supermercados.
E não está fácil. Quem tem o costume de fazer compras domésticas, se assusta com os preços de praticamente todos os produtos, nunca menor do que 10%.
A carne bovina se tornou item de luxo. O frango quase que dobrou de preço nos últimos 12 meses. A farinha, item essencial na alimentação do amazonense, também deu um salto para cima. As drogarias elevaram os preços dos medicamentos na semana passada.
Mas a classe média também está com a corda no pescoço. A gasolina em Manaus, neste sábado, 3, aumentou entre 10% e 12% o preço do litro. Como todos os produtos aumentaram, do queijo às verduras, os preços dos restaurantes também foram reajustados.
Quem controla os gastos familiares sabe que a inflação em torno de 5,2% nos últimos 12 meses (IPCA-IBGE) não bate com o índice de perda do poder de compra dos salários.
Até quando o trabalhador vai aguentar a corda apertar cada vez mais o seu pescoço é uma pergunta que deverá ser respondida em breve.
Os servidores públicos, que gozam de estabilidade e tem maior poder de luta, já começaram a falar em greve. Após a pandemia, é o que se vislumbra no Brasil.