Do ATUAL
MANAUS – Um estudo do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) identificou que a pecuária gera risco de derrubada de 3 milhões de hectares de floresta na Amazônia até 2025. A pesquisa também mostra que com o rastreamento dos rebanhos bovinos desde o nascimento e a transparência na produção de carne é possível controlar a atividade na região.
O levantamento consta no indicador Radar Verde, que inclui pela primeira vez o grau de ameaça de destruição da floresta dentro das potenciais zonas de compra (de gado) dos frigoríficos ativos na região.
Segundo a pesquisa, a ameaça de destruição futura foi estimada levando em conta variáveis para o desmatamento como a inclinação do terreno; distância das áreas de pasto para rios, estradas e frigoríficos; classe territorial (terras indígenas, unidades de conservação, etc); e proximidade de derrubadas recentes e antigas.
Conforme a pesquisadora Ritaumaria Pereira, uma das responsáveis pelo relatório, as companhias ficaram mais expostas principalmente por causa do aumento do desmatamento dentro de suas zonas de compra de gado. “Entre 2016 e 2022, a destruição acumulada nessas áreas aumentou 113%”, diz.
O estudo também ranqueou os frigoríficos em relação à exposição deles às ameaças de destruição de áreas floresta. A empresa mais influência no mercado de compra de bois para abate é a JBS. Ela está associada a 10 milhões de hectares desmatados, embargados ou sob risco de derrubada em suas zonas de compras. Em seguida está a Vale Grande, com pouco mais de 4 milhões de hectares. Masterboi, Minerva e Mercúrio completam o top 5, todas com mais de 2 milhões de hectares.
Indústria cresceu sem barrar a carne ilegal
Em relação ao número de frigoríficos ativos, a pesquisa mostrou que passou de 127 em 2016 para 145 em 2022, uma alta de 14%. Esses frigoríficos pertenciam a 108 empresas diferentes no ano passado, 10% a mais do que no estudo anterior, quando foram mapeadas 98. A capacidade de abate ativa passou de 62 mil para 65 mil animais por dia no período, um crescimento de 5%.
Apesar desses aumentos, as companhias seguiram ineficientes para barrar a entrada de carne ilegal no mercado.
Em 2016, apenas 35 empreendimentos haviam assinado o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MPF (Ministério Público Federal) para não comprar animais oriundos da derrubada irregular da Amazônia, enquanto os outros 63 ignoraram o acordo.
Em 2022, o número de empresas signatárias foi 47,34% a mais, porém a participação delas na capacidade de abate da região cresceu apenas 3%, passando de 68% para 71%. Além disso, mesmo os que assinaram o TAC não conseguem garantir que seus produtos são isentos da devastação ilegal, pois não há controle dos fornecedores indiretos.
Os frigoríficos legalizados que prestam contas ao MPF também podem ter adquirido animais de fazendas irregulares. Segundo o Imazon, essa prática se chama “lavagem de gado” e poderia ser resolvida com a exigência da rastreabilidade de todos os bovinos na cadeia produtiva. Algumas empresas têm anunciado medidas nesse sentido, mas apenas para depois de 2025.
O Radar Verde é um indicador público com o financiamento da NICFI (Iniciativa Internacional de Clima e Florestas da Noruega) que mostrará quais frigoríficos e quais supermercados demonstraram maior controle e transparência na produção da cadeia da carne.
Adaf
A Adaf (Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas) informou que ainda não ocorre a rastreabilidade da carne no estado. Poucas unidades da Federação adotam soluções de rastreabilidade bovina. Em nota, a Adaf informa que faz o controle de movimentação por meio da emissão e fiscalização das GTAs (Guias de Trânsito Animal).
“A produção de carne do Amazonas é absorvida, basicamente, no próprio Estado. A rastreabilidade foi discutida recentemente durante a 8ª Conferência Nacional sobre Defesa Agropecuária, que ocorreu em junho na cidade de Goiânia (GO). Alguns estados como São Paulo, vêm fazendo experiências com utilização de brincos com chips, mas a adoção em todo o País depende de uma série de fatores, como definição de especificações técnicas, uniformização tecnológica e ajustes na legislação”, informou a Agência.