
Do ATUAL
MANAUS – Doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Medicina Tropical da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), a indígena Alícia Patrine Cacau dos Santos, da etnia Kokama, foi aprovada no programa Mobilidade Internacional Indígena Guatá. Natural de Tabatinga (a 1.108 quilômetros de Manaus), ela ganhou uma bolsa de estudos para a Université Paris 8, na França.
O “Guatá” é resultado da parceria entre a UEA e o governo francês, por intermédio da Embaixada da França, em Brasília. A UEA integra um grupo de cinco universidades brasileiras credenciadas ao programa: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).
A parceria entre UEA e Embaixada da França foi firmada no primeiro trimestre de 2023. Estudantes indígenas de pós-graduação em todas as áreas do conhecimento têm a oportunidade de estudar em universidade francesa por até 11 meses, com bolsa de estudos no valor de 800 euros (R$ 4.480) e outros benefícios como seguro-viagem. A UEA ofertará um curso de idiomas.
Formada em Biomedicina, Alícia diz que o momento da etnia Kokama é de resgate da identidade cultural. “Somos da região do Alto Solimões. Nossa etnia foi quase extinta. Foi um processo longo e muito violento da colonização. Durante muito tempo a gente se escondeu”, ressalta.
Ao relembrar a sua trajetória acadêmica, Alícia ouviu muito dos pais que os indígenas precisam estar em todos os lugares. “Tive crises de identidade por ser indígena e estar em contexto urbano. Não tive aulas de física no ensino médio, a infraestrutura no interior é complicada. Estudei para o Enem com livros que seriam queimados. Então, é uma luta porque sempre somos associados a pessoas matutas, preguiçosas, sujas”, diz.
“Na graduação, percebi que em muitos eventos falavam sobre a Amazônia, mas os amazônidas não estavam presentes. Ou seja, as pessoas que conhecem a realidade, que vivem em área ribeirinha, em área indígena”, acrescentou.
Atualmente, Alícia também faz pós-graduação em Antropologia Cultural. “Sempre tive o sonho de sair do país para aprender e aprofundar o conhecimento, pois será uma reparação histórica porque durante muito tempo fomos marginalizados e esquecidos”.