MANAUS – O especialista em segurança pública Diógenes Lucca, ex-comandante do Grupo de Ações Táticas Especiais de São Paulo, disse, em entrevista à Globo News, na tarde desta segunda-feira, que tem informações de bastidores sobre a onda de assassinatos em Manaus e sugeriu que o Secretário de Segurança Pública, Sérgio Fontes, demita o comando da Polícia Militar e da Polícia Civil para poder investigar os casos de violência registrados neste fim de semana na capital. “Eu acho que deve haver uma mudança significativa das cadeiras, trazer um novo staff, um novo comandamento para o secretário poder estabelecer uma relação de confiança, partir pra uma investigação muito séria e determinada, envolvendo a corregedoria e outros órgãos, como o Ministério Público e o próprio Poder Judiciário”, disse.
Em outro momento da entrevista, Diógenes afirmou que o aumento da violência na capital do Amazonas tem relação com a aproximação da cúpula do governo com a “banda podre” da polícia, no ano passado, fato ocorrido durante o processo eleitoral. “As notícias que eu tenho de bastidores é de que houve um problema sério no ano passado envolvendo a cúpula do governo e a banda podre da polícia, que gerou um desequilíbrio enorme dessas forças. Ou seja: quando o governo começa a cambalear e tem gente envolvida com o crime organizado, a coisa toma uma proporção estratosférica”, afirmou.
Ao analisar as mortes (38 de sexta-feira até a manhã desta segunda-feira, segundo a Globo News) o especialista em segurança pública disse não ter duvidas da participação de policiais nos crimes. “Com certeza, são vários grupos de policiais. Esse sargento que faleceu era uma pessoa muito bem quista pela tropa. Existe um problema muito sério de esse tipo de conduta se repetir em todos os Estados, como eu já vinha falando, mas há um problema muito sério, paralelo, aí no Estado do Amazonas, em particular em Manaus, que é um poder muito grande do tráfico de entorpecentes”, disse.
Por estarem envolvidos policiais, Diógenes Lucca chama a atenção para o problema que o secretário Sérgio Fontes terá que enfrentar. “O nosso secretário de Segurança terá um trabalho árduo pela frente, tanto pra fazer uma investigação séria pra achar os protagonistas dessas chacinas que aconteceram neste final de semana, como também identificar uma banda podre da polícia que está tanto envolvida nesses assassinatos como também envolvida no tráfico de entorpecentes aí na região”, afirmou.
Polícia Federal
Diógenes Lucca também sugeriu que o Estado permita a ajuda da Polícia Federal para elucidar os crimes ocorridos no fim de semana e, de novo, disse que sua opinião é baseada em informações de bastidores. “Pelas informações que tenho de bastidores do que acontece hoje em Manaus, penso que seria muito prudente que a Polícia Federal chegasse um pouco mais perto dessa questão pra ajudar a identificar, com uma força tarefa. (…) Talvez fosse o caso de a Polícia Federal emprestar um pouco do seu expertise, da sua inteligência, do seu reforço para ajudar, e também o governo federal ficar um pouco mais atento para o que está acontecendo em Manaus”.
A origem
Entre a madrugada de sexta-feira, 17, e esta segunda-feira, 20, pelo menos 38 homicídios com armas de fogo foram registrados em Manaus e região metropolitana. A sequência de mortes teve início após o assassinato de um sargento da Polícia Militar em uma agência bancária da capital, na sexta-feira. Os representantes de órgãos de segurança do Estado cogitam a possibilidade de vingança, enquanto o Instituto Médico Legal (IML) realiza exames de comparação balística para saber se há ligação entre os assassinatos.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, foram dez assassinatos na sexta-feira; quinze no sábado, 18; e oito no domingo, 19; todos em diferentes bairros e zonas da cidade.
Às 2h30 desta segunda-feira, o autônomo Renato Simplício, de 31 anos, foi a 34ª vítima, com um tiro no tórax. Outras quatro mortes foram registradas em outros municípios da região metropolitana de Manaus.
Conforme o número de casos aumentava, mensagens de texto e áudio e fotos circulavam nas redes sociais, com pedidos de cuidado e alertas para que as pessoas ficassem em casa.
Na investigação dos casos, a polícia disse que trabalha com todas as possibilidades, entre elas, um confronto entre facções criminosas ou vingança de policiais.
No sábado, o secretário de Segurança do Estado, Sérgio Fontes, informou que todas as delegacias especializadas estão trabalhando para solucionar o caso. “Alguns já temos os indícios de autoria e nos demais existe indicação de que foi uma ação orquestrada, e não descartamos qualquer hipótese”, disse.
Na entrevista coletiva, Fontes estava acompanhado do delegado-geral de Polícia Civil, Orlando Amaral, e do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Gilberto Gouvêa.