Dando continuidade ao último artigo, fica cada vez mais claro a necessidade de um momento de protagonismo da esquerda nacional perante o cenário econômico. O Brasil se encontra num jogo de xadrez dificílimo, com bem menos peças que o adversário. Sob xeque, resta agora ter inteligência e sagacidade pra evitar o xeque-mate.
O Brasil como ponto fundamental da estratégia global do grande capital sofre incansáveis investidas para que liberalize cada vez mais sua economia, e com isso, por consequência, aumente vertiginosamente seu grau de dependência das economias centrais. O dilema já foi colocado: ou aceita as políticas de austeridade e reverte de vez todos os programas sociais e direitos que a população adquiriu nas últimas décadas, ou bate o pé e propõe um projeto inovador e radical para o País.
Mesmo com toda essa tecnicidade aparente e discursiva, compras e tentativas de compras de votos, e uma incessante propaganda nos telejornais, Henrique Meirelles, sua equipe, e os poderosos para quem ele trabalha, não conseguem ainda efetivar algumas das reformas fundamentais para o projeto liberal. O povo brasileiro é certeiro e direto: ele diz não as reformas. E com ele devemos contar cada vez mais.
Contudo, como sempre é bom lembrar do famigerado liberal Milton Friedman – aquele mesmo apoiador da ditadura chilena de Pinochet – autor da frase “não existe almoço grátis”. Aqui, portanto, iremos repetir esse mantra. Mas mais do que isso, usá-lo criticamente. Afinal, existem milhares de pessoas faturando muito e pagando muito pouco por isso. Num cenário onde o lucro é cada vez menos ligado à produção e ao mérito, o que de fato esses milionários pagam por seu ‘almoço’?
Ou também, por outro lado, se queremos aqui fazer a efetivação vitoriosa da heterodoxia, superação da dependência, do subdesenvolvimento, e a concretização da soberania e poder popular, quem pagará essa conta? O Brasil não é, como muitos fazem parecer ser, o País com uma das maiores alíquotas de imposto do mundo. Isso na realidade é uma grande meia verdade. O Brasil é sim, definitivamente, um dos países com a carga tributária mais injusta da história. Aqui praticamente rico não paga imposto.
Em tempos que a palavra crise bomba nos noticiários e é usada como justificativa para as mais variadas práticas, nós devemos refletir sobre as melhores saídas possíveis. Diante de uma queda grande na arrecadação com o fim da explosão do preço dos produtos agrícolas, Dilma foi de fato irresponsável e tentou manter o pacto – não queria desagradar a burguesia nem o eleitorado, falhou miseravelmente em ambas. Isso reforçou o argumento liberal de uma suposta e absoluta necessidade ímpar de redução das despesas.
A saída da esquerda começa, como sempre, em apostar no improvável. Passando pela inteligência e a coragem. A pauta que tem o poder de unir o povo em torno de um projeto, ao mesmo tempo que tem condições de combater o mainstream, é a de concretizar uma radical e progressiva reforma tributária. Os ricos tem que começar a pagar imposto neste País.
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