Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Com discurso em defesa da transparência e contra políticos que “não têm vergonha na cara” e disseminam fake news, o conselheiro Érico Desterro tomou posse do cargo de presidente do TCE-AM (Tribunal de Contas do Amazonas) em cerimônia realizada nesta terça-feira (21). Érico retorna ao comando do órgão dez anos após ter assumido o mesmo cargo.
A nova direção do órgão tem como vice-presidente a conselheira Yara Lins; corregedor-geral, o conselheiro Ari Moutinho Júnior; e o ouvidor-geral, o conselheiro Josué Cláudio Neto. O conselheiro Mário de Mello, que deixa o cargo de presidente do órgão, assumiu o cargo de coordenador da Escola de Contas Públicas do Tribunal de Contas do Amazonas.
De acordo com Érico, no próximo ano, os órgãos do controle externo no Brasil terão muitos “desafios a enfrentar” e, por isso, não podem dispensar o uso da tecnologia. “A modernidade do controle está, ao meu ver, na conjugação de dois principais fatores: investimento em tecnologia e abertura à sociedade”, disse Desterro.
O conselheiro citou como exemplo de “abertura à sociedade” a transparência nas atividades do órgão, a adoção de canais de comunicação social que incentivem a participação da sociedade nos negócios públicos e a instituição de um “sistema de integridade” que dissemine a cultura da “integridade e ética” e combata a corrupção.
“Somente instituições públicas ou privadas comprometidas com a integridade de suas ações, de seus agentes, de seus objetivos, poderão sobreviver no futuro próximo. Disso decorre naturalmente a necessidade de todas as organizações e, em particular, as instituições públicas empenharem-se em disseminar a informação correta”, disse Desterro.
O novo presidente do TCE-AM afirmou que, em um mundo mais tecnológico, a sociedade vive a “era da desinformação e ignorância”. “O tempo da pós-verdade, como se diz agora. A ignorância, hoje, não possui vergonha. Ao contrário, ela é audaciosa, é pior, é agressiva”, afirmou o conselheiro.
Érico citou o ex-procurador-geral da República de Portugal Cunha Rodrigues ao criticar o uso de fake news por políticos “sem vergonha na cara” como “métodos encantatórios de anestesia e desconstrução”. “É estultícia insultá-los e pueril pensar que são néscios ou inconscientes. Não são. Sabem o que querem”, disse o conselheiro, citando Rodrigues.
“Sabem o que querem e, por vezes, chegam a acreditar nos seus poderes de predestinação social. Detestam a diferença, olham as minorias com desdém, apelam às religiões em vão. Manipulam a verdade e os sentimentos das camadas sociais mais indefesas. Em termos singelos, não têm vergonha na cara”, disse Érico, ainda citando o português.
De acordo com Érico, o próximo ano será “repleto de incertezas. “Resultam de um lado essas incertezas do crescimento da alternativa autocrática em detrimento do regime democrático. De outro, da fragilidade econômica gerada pela quebra da cadeia de produção mundial, pelo crescimento da inflação e pela crise energética”, disse o conselheiro.
“Junte-se a isso a necessidade de reformulação das relações de trabalho, com a introdução de novos modelos de práticas de maneira a superar as dificuldades geradas pelas restrições de locomoção e reunião ainda necessárias a curto prazo, enquanto não houver uma mudança do quadro pandêmico para ao menos uma endemia”, completou Érico.