Por Valmir Lima, da Redação
MANAUS – O senador Omar Aziz (PSD) minimiza o fato de ter liderado a campanha eleitoral do governador José Melo à reeleição, em 2014, e ter se tornado uma das maiores lideranças políticas do Estado do Amazonas. “Eu não sei se sou um líder político”, afirma, depois de dizer que não se sente líder. Também afirma que não há movimento da parte dele para pavimentar uma candidatura ao governo do Estado em 2018. Sobre as eleições municipais de 2016, afirma que tem o compromisso de apoiar a candidatura à reeleição do prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB), mas balançou quando questionado sobre a hipótese de a mulher dele, a ex-primeira-dama Nejmi Aziz ser candidata a prefeita no próximo ano. Nesta entrevista concedida ao jornalista Valmir Lima, na casa dele, em Manaus, Omar Aziz também diz que não há motivos, até aqui, para o impeachment da presidente Dilma Rousseff e aposta que o governador José Melo vai consolidar a liderança dele como governador, o que é um passo importante do grupo político que ora dirige o Estado para a disputa eleitoral para 2018. A seguir, a entrevista.
AMAZONAS ATUAL – Como o senhor está avaliando essa discussão do Impeachment da presidente Dilma Rousseff? O senhor vê algum motivo para tirá-la da Presidência?
OMAR AZIZ – Por princípio, só quem tem o direito de tirar quem se elege pelo voto popular são aqueles que o elegeram. Mas hoje, a situação política agravada com a situação econômica, é lógico que existe um forte clamor para se tirar a presidente. Mas aí, se você avaliar bem, tá: tira e resolve? Se tirasse e resolvesse, eu era favorável. Vamos tirar logo. Mas não é isso. Acho que pra você não quebrar uma regra democrática instalada no nosso país, pra você não abrir precedentes, é preciso ter cautela, é preciso você ir até o último momento das investigações para, se comprovada alguma coisa que a presidente Dilma tenha tido participação, sim. Caso contrário, só porque o Brasil não vai bem economicamente, tira a Dilma, não. Essa não é uma razão para tirar. Senão, teríamos que tirar quase todos os prefeitos, quase todos os governadores do Brasil. Não é por aí. A situação econômica do Brasil todo é problemática. E quando falta pão, tem confusão.
ATUAL – Tirar quase todos os prefeitos e governadores por conta da crise, ou da corrupção?
OMAR – Não, não, eu estou dizendo o seguinte: se fosse tirar a presidente por conta da crise… Não, em relação à corrupção, nem tenho dúvida. Se tiver alguma coisa que ela esteja realmente envolvida, ela não tem nem por que pedir pra ficar. Agora, é um momento de cautela, momento de você ter equilíbrio. Não é fazer o discurso fácil. Eu não tenho porque defender a presidente Dilma, ela não me apoiou, não apoiou meu candidato, todos vocês sabem disso. Estou aqui para defender os interesses do Estado do Amazonas. E o Amazonas tem sofrido muito com essa crise. Agora mesmo saiu uma pesquisa e o Amazonas é o segundo Estado que mais perdeu na economia. Então, você imagina como é a preocupação de todos nós em relação a isso.
ATUAL – O seu partido é da base de apoio da presidente Dilma, mas o senhor tem feito algumas críticas ao governo. Inclusive, há duas semanas, o senhor fez severas críticas ao ministro Joaquim Levy e à presidente Dilma.
OMAR – Veja bem: nós estamos com um problema sério na economia, mas daí você fazer um corte drástico na atividade fim é uma coisa que eu não posso permitir. Que se corte de outras coisas, mas vamos ser sinceros, tirar da saúde, não. Esses números foram dados pelo Conselho Nacional de Secretários Estaduais e pelo Conselho Nacional de Secretários Municipais. Um estudo que foram me levar no gabinete. Contingenciaram não sei quantos bilhões, mais a inflação nominal, e outros, você teria R$ 16,8 bilhões a menos na saúde. Com isso, se deixa de cuidar de pessoas que estão com câncer, de crianças cardiopatas, pessoas com deficiência física… Você tem que dar prioridade ao fazer os cortes, e tem que dar prioridade para a atividade fim. Eu sempre digo: olha, você pode até – não sou a favor, estou dando um exemplo –, se um aluno deixar de ir a uma aula hoje talvez não seja tão prejudicial para a vida dele. Não quer dizer que ele não vai ter um bom aproveitamento. Mas se você deixar de atender um paciente hoje, ele pode morrer daqui a pouco. São coisas diferentes, não estou dizendo para tirar de um e botar no outro. Não é isso. Mas tem algumas coisas que não podemos permitir. Se o país está em dificuldades é necessário fazer cortes. Tudo é importante. Por exemplo: é importante mandar 20 mil jovens estudantes para o exterior? É importante mandar 20, 70, 100 mil jovens para o exterior. Mas temos dinheiro nesse momento para isso? Então, você tem que focar na atividade fim do governo. O governo federal é um mero repassador de recursos da saúde. Ele não administra nada. Quem administra a saúde são Estados e municípios. Então, você tem um ministério monstruoso, inchado, como o Ministério da Saúde, só para repassar dinheiro. Não tem nada. Veja quantos servidores tem e veja a estrutura da saúde só para repassar recurso. Não tem política, não implanta nada, não tem nenhum programa. Se tem uma campanha de vacina, quem faz? Estados e municípios.
ATUAL – Mas para mudar essa situação não teria que mudar a lei? Não seria uma tarefa para o Congresso Nacional?
OMAR – Tem que ser iniciativa do presidente. Quando se fala em reforma, não se fala somente em extinção de ministérios, se fala em enxugamento também de algumas estruturas. O Ministério da Saúde é um prédio de 12 andares, 14 andares. Acho que até mais. O Ministério da Educação tem outro prédio enorme. O Ministério da Saúde não tem um hospital que ele administre, não tem um posto de saúde que ele administre no país. Pra que essa estrutura toda? Vai para o Ministério da Educação. As escolas estaduais são administradas pelos Estados, as municipais pelos municípios, e você tem uma estrutura enorme no ministério. Tem algumas universidades que ele administra diretamente e alguns institutos técnicos, mas também tem inchaço. Então, tem que ter iniciativa do governo para reduzir o custeio com a administração pública federal, e poder focar na atividade fim, que chega à população.
ATUAL – Em relação à Operação Lava Jato, o senhor acha que ela ainda pode alcançar algum político do Amazonas, principalmente por conta do gasoduto Coari-Manaus?
OMAR – Não acredito. Bom, eu não posso dizer que não houve absolutamente nada, mas os políticos do Estado do Amazonas nunca tiveram nenhuma participação nem discussão. Pelo contrário, a contribuição dada foi no momento de agilizar licenciamento. Para a realização da obra, houve exigências ambientais que o Amazonas fez e que foram cumpridas à época, mas com relação à obra, não houve participação. Aliás, uma obra que custou quase 2,5 bilhões de dólares. Quase R$ 5 bilhões para uma obra que começou orçada em R$ 2 bilhões. E agora a gente tá assistindo. Falar em bilhões no Brasil virou uma coisa normal. A pessoa nem sonhava em saber o que era bilhão, e hoje, tudo é bilhão. Há uma fragilidade do setor público, e estou me referindo a todo o setor público, que permite que pessoas tirem dinheiro do Estado de uma forma tão fácil. E não é um negócio que começou na semana passada e já pegamos hoje. Não. Começou há 20 anos, e agora que estamos descobrindo. Não é um negócio em que a pessoa foi flagrada dois dias depois de cometer o crime. Passaram-se décadas. E quando a cultura está instalada ali, o difícil não é você parar a corrupção, o difícil é mudar a cultura do pensamento em relação a esse tipo de procedimento.
ATUAL – No serviço público, de uns 20 anos para cá, foram entrando cada vez mais empresas privadas para fazer tarefas que antes eram desempenhadas pelo próprio governo. Por exemplo, a secretaria de obras planejava e executava as obras. Hoje, o governo contrata empresas até para fazer projetos e fiscalização de obras.
OMAR – Mas o desperdício era grande. Mas deixa eu te falar uma coisa: dificilmente uma obra que você começa não tem aditivo. Porque o projeto que você licita é o projeto básico avançado. Você não precisa do projeto executivo. Tanto é que a Lei de Licitações (Lei 8.666/1993) é sábia, no sentido de permitir que em uma obra nova você tenha até 25% de aditivo e em uma obra de reforma tenha até 50% de acréscimo no valor. Portanto, dificilmente no Brasil uma obra não é aditivada. A lei permite que a União, Estados e Municípios realizem o projeto básico avançado, e não o projeto executivo para licitar. Em todas as grandes obras, você licita o projeto básico e depois vai fazendo o projeto executivo aos poucos. Caso específico da Arena da Amazônia: no projeto básico, tinha que se fazer mil perfurações para assentar estacas, quando fomos para o projeto executivo, teve que fazer 2 mil e poucas estacas. Na obra da Ponte Rio Negro aconteceu algo semelhante. Não é uma coisa simples. Uma obra simples, não. Uma escola, por exemplo, você sabe quantos tijolos vai gastar, quantos quilos de cimento vai precisar comprar. É diferente, porque você está fazendo escola sempre. Mas um estádio como a Arena da Amazônia você não faz todo dia; uma ponte você não faz todo dia. Claro que não estou dizendo que as pessoas não abusaram. Você vai para uma refinaria que era para custar X bilhões e daqui a pouco está quatro, cinco vezes mais. E na Petrobras, uma empresa com autonomia para licitar e que tem sua própria fiscalização, acontece isso. Veja o caso do BNDES. O maior problema nosso não é o Bolsa Família, são os recursos que saíram do BNDES para fora. É isso que tá gerando déficit, porque o Brasil subsidia esses juros e vai para a dívida pública, para o povo brasileiro pagar.
ATUAL – Vamos falar de política local?
OMAR – Vamos.
ATUAL – O senhor começou na vida pública aliado do Amazonino Mendes. E no ano passado, antes da definição de candidaturas para o governo do estado, ele chegou a dizer que o senhor era o único político que ele não receberia na casa dele. O que o senhor fez que o desapontou tanto?
OMAR – Eu estive com o Amazonino essa semana. Estive com ele outras vezes, umas três vezes depois da eleição. Foi coisa da política. São mágoas, besteiras. O Amazonino é um homem que já prestou um grande serviço ao Estado do Amazonas. É uma pessoa que será respeitada por mim sempre, terá sempre o meu respeito. Isso não quer dizer que a gente vai se alinhar ou não politicamente. Isso é outra coisa. Mas como ser humano, como pessoa, o Amazonino terá o meu respeito. O que ele pensa de mim não me interessa. O que eu penso dele é o que vale pra mim.
ATUAL – O senhor é visto hoje como uma das maiores lideranças políticas do Estado. O senhor se sente assim?
OMAR – Não. Eu sou uma pessoa simples, e você sabe disso. Você sabe que eu não tenho vaidades. A minha vaidade é quando as pessoas reconhecem que você tá se esforçando para fazer um bom trabalho. Eu tenho uma boa relação com todo mundo. Não sei se eu sou um líder político. Eu tenho uma boa relação, sou uma pessoa que tem paciência para conversar, explicar. E hoje, cada vez mais, tá provado que aqueles que têm paciência necessária podem ter sucesso. Aqueles que não, terão dificuldades.
ATUAL – O senhor foi vice várias vezes ao ponto de chegarem a dizer que o senhor seria um eterno vice. E, de repente, o senhor se tornou governador, se reelegeu e reelegeu seu sucessor.
OMAR – Política é uma coisa muito dinâmica. Eu estou na política há muito tempo, desde a década de 1980. Comecei no movimento estudantil, onde as divergências eram partidárias, pragmáticas. Aquilo que defendia o PCdoB não defendia o PT de um ala socialista ou Trotskista ou Stalinista. Era uma luta de classes, era totalmente diferente, era uma discussão estreita, radical. Eram discussões tão radicais que um dirigente de um diretório acadêmico de Engenharia, como eu fui presidente, para aprovar um documento conjunto, por causa de uma vírgula se passava horas discutindo. Hoje vivemos um momento diferente. Então, você pega aí, eu tive a experiência de estar ao lado do Amazonino durante três governos, fui vice do Alfredo [Nascimento] durante duas prefeituras, fui vice do Eduardo [Braga] duas vezes no governo. Mas essas coisas são passageiras. O líder político que tivemos aqui na década de 1980 era o Gilberto [Mestrinho], depois foi o Amazonino, depois veio o Eduardo, e assim por diante, e a gente vai passar, e virão outros, com outras mentalidades, outras formas de agir.
ATUAL – Quando o senhor se tornou governador reeleito, a imprensa vez por outra soltava uma nota dizendo que o senhor tinha rompido, tinha brigado com o Eduardo Braga. Havia um rompimento político mesmo?
OMAR – Não, e isso não era o pior. Era o de menos. O chato é você ter uma equipe que trabalhava com você e todo mundo dizer: “Não, esse pessoal é do Eduardo”. Isso era pior. Era você chegar em qualquer lugar e perguntarem: “O senhor vai exonerar quem?” Essas pessoas eram técnicas, eram pessoas que estavam ali para trabalhar pelo Estado. Não estavam ali para servir A ou B. Eu sempre entendi dessa forma. Você não governa com a pessoa porque ela é tua amiga. “Ah, porque é meu amigo eu vou botar”. Não é assim. Você vai procurar aquilo que melhor se encaixa naquilo que você está pensando para que o Estado ande. Então, a questão de brigar ou não com o Eduardo, não houve. Eu acho que é o processo político. O [governador José] Melo tinha o direito de ser candidato à reeleição, ele era o governador e eu me coloquei à disposição do Melo. Se ele não fosse candidato, o processo seria diferente, mas ele era candidato, e ganhou a eleição.
ATUAL – Em que momento o senhor disse não para o Eduardo Braga?
OMAR – Não é que eu disse não. Eu disse ao Eduardo que o Melo seria candidato e que eu iria apoia o Melo, e acabou. Não teve “Não”. Isso não existe em política. Não é “Não” ou “Sim”, é o processo que te leva a tomar decisões. Tem pessoas que historicamente estavam comigo e ficaram contra mim. E nem por isso vou matar, crucificar ou coisa parecida. Você pega aí a Rebecca [Garcia], que tinha sido minha candidata a prefeita em 2012.
ATUAL – Era para ser, não era?
OMAR – Era para ser. Desistiu no dia da convenção, com os argumentos que eu não entro no mérito. Desistiu e, aqui nesta sala, se discutiu um nome. Acabamos apoiando a senadora Vanessa. E quando chegou a reeleição, nenhuma dessas pessoas estavam do meu lado.
ATUAL – Setores do PCdoB, e não sei se a Vanessa entendeu dessa forma, chegaram a dizer, nos bastidores, que seu apoio à candidatura da Vanessa em 2012 foi um apoio de fachada, e que o senhor queria mesmo era eleger o Arthur Virgílio Neto. Houve mesmo isso?
OMAR – Não acredito que a Vanessa tenha dito isso. Setores do partido eu não sei.
ATUAL – O apoio foi pra valer?
OMAR – Foi pra valer e a Vanessa sabe que sim. Mas o momento era do Arthur. Não adianta, o momento era do Arthur. E o Arthur, que eu não tinha apoiado, me apoio em 2014. Então, esse é o processo político. Essas coisas são complexas.
ATUAL – O deputado Alfredo Nascimento, em entrevista concedida ao AMAZONAS ATUAL na semana passada, reclamou de falta de lealdade, porque ele apoiou a sua candidatura a prefeito em 2008 com a promessa de que o senhor o apoiaria para o governo do Estado em 2010, o que não ocorreu, e o senhor acabou sendo adversário e derrotando ele nas urnas.
OMAR – É o processo político. Todo mundo que se lança candidato, eu não digo para não ser candidato. É um direito que o político tem. Ele sabe o que está fazendo. Vai cometer erros e acertos. Em política você erra, acerta, não tem jeito. É como na vida pessoal. Eu quero saber quem é que casa pra se separar. “Não, eu vou me casar, mas vou me separar daqui a dois anos”. Você casa achando que vai passar a vida toda com aquela mulher, vai criar teus filhos, vai ficar velhinho junto com ela, vai ver os netos crescerem. É o pensamento da pessoa quando ela entra no altar pra casar. Mas, tem casamento que dura 50 anos e tem casamento que dura meses. Política, em um momento é uma coisa e em outro momento é outra. Eu era governador, candidato à reeleição. Foi um processo político. O Eduardo saiu do governo e eu continuei trabalhando, me organizei politicamente, criei uma frente forte, e conseguimos a vitória. É normal. E agora estivemos juntos, eu e o Alfredo, nessa eleição de 2014. Mas são coisas que você supera. Não adianta você olhar pro passado. Eu também já fui preterido.
ATUAL – O senhor tem um grupo político e o interior do Estado está dividido entre os que estão no seu grupo e os que estão no grupo do Eduardo ou de outros partidos menores. Como está o seu grupo no interior do Estado?
OMAR – Olha, eu não tenho problemas no interior. Tenho uma relação boa com 99% dos prefeitos, das lideranças do interior. Isso não é problema. Mas são momentos. Tem pessoas que eu esperava que em 2014 apoiassem a mim e ao Melo e não apoiaram. Pessoas com quem eu tive uma relação, pessoas, inclusive do meu partido, que preferiram estar contra o Melo e contra mim. Foi uma decisão política que eles tomaram. Quem toma decisão política, tem que arcar com as consequências das decisões. Se for vitorioso é uma coisa, se perder é outra. Mas é processo político. Eu não sou de tá levando… Tanto é que meu gabinete está aberto pra todos. Eles chegam lá, mas eu não estou ali para servir político, estou ali para servir ao povo amazonense. Eles sabem muito bem que serão muito bem-vindos. Acompanho nos ministérios, vou atrás, corro atrás, para que a gente possa ajudar.
ATUAL – O senhor tem visitado o interior do Estado?
OMAR – Não. Não tenho visitado. Fui convidado pelo Melo para a inauguração da rodovia Manoel Urbano, aqui em Iranduba, e fui com ele. Na semana que vem, ele vai inaugurar algumas estradas, me convidou pra ir e talvez eu vá com ele. Mas eu acho que tudo tem seu momento. O momento agora é de a gente sair dessa crise econômica pra retomar o crescimento do Estado.
ATUAL – O senhor pensa em voltar em 2018 ao governo? Pretende lançar-se candidato ao governo?
OMAR – Dizer pra você: “você não quer ser governador de novo”. Lógico, qualquer pessoa quer servir o Estado, ser governador. Não é sacrifício nenhum ser governador, nunca será. Esse negócio de que tem sacrifício pra ser prefeito é mentira; sacrifício pra ser governador é mentira. Sacrifício para ser deputado… Não tem sacrifício. Até porque, ninguém te obriga. Muitas vezes você é obrigado a exercer uma função para botar comida dentro de casa. Você se forma em Direito e procura viver da tua formação, não consegue, e acaba sendo assessor de alguma coisa, pra ter um salário. Um político, não. Não tem um vereador neste Estado, neste país, não tem um prefeito, um governador neste país que não tenha sido eleito por vontade, primeiro, dele e, depois, do povo. Então, esse não tem que reclamar. Você me pergunta: “Você pretende ser?” É lógico que é cedo. A política é muito dinâmica, mas me honraria, sim, ser governador do Estado de novo.
ATUAL – O senhor não trabalha para isso? Para ser candidato em 2018?
OMAR – Não, hoje eu não trabalho pra isso. Você não vê movimentos meus para isso. Não tem movimento nenhum para ser… é…
ATUAL – Mas o não movimento não é uma estratégia?
OMAR – Eu acho o seguinte: primeiro, o Melo tem que consolidar a liderança dele como governador. E irá consolidar. Ele passa por um momento que não foi ele quem criou. Não foi criado por nós aqui. A gente fez uma campanha na perspectiva de que o Brasil continuaria crescendo; que era o discurso dos presidenciáveis. O discurso da presidente Dilma era de que não haveria cortes, nós íamos ter não sei o que, o Brasil está consolidado, nossa economia é forte. Era esse o discurso. Quando fizemos a campanha aqui, a perspectiva era de que a Zona Franca continuaria crescendo 10%, 15%. Não terminou o ano de 2014 e a crise veio, de um dia pro outro. Parece que escondeu-se tão bem esses problemas que, de repente, explodiu. Então, nós estamos passando por uma crise e o Amazonas sente mais. Eu costumo dizer: uma crise na economia brasileira é três vezes maior para a Zona Franca de Manaus, porque o que nós produzimos aqui é supérfluo. Você não vai deixar de comprar comida para comprar um Iphone novo, uma TV nova, uma moto. Segundo, os juros altos te inibem de comprar a crédito, porque você não tem como pagar. E 99% do que produzimos é exportação interna, vai para os outros estados. Nós somos dependentes da economia paulista. Não vou aqui imitar o Lula, mas se lá eles espirram, a gente fica com pneumonia aqui. É uma coisa muito complicada.
ATUAL – Isso não é agravado pela falta de alternativa ao modelo Zona Franca?
OMAR – Cada vez fica mais difícil você fazer um projeto sustentável para o Amazonas. Você vê o absurdo de não permitirem que a gente recupere a BR-319, uma obra que qualquer amazonense sabe que sempre existiu. Não tem nada de novo, ali não está se desmatando, não se está fazendo absolutamente nada. E o Ibama vai, além de suspender a obra, ainda multa o Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte] em R$ 7,5 milhões. Não há um compromisso real em dar uma pequena estrutura para que a gente possa ter outro tipo de atividade econômica. Então, você não consegue montar uma agroindústria no interior do Amazonas, porque o preço da energia não te permite ter um preço competitivo. O queijo produzido em Apui – a maior produção de queijo hoje é naquela região de Apui e Matupi, no sul do Amazonas – é muito mais caro chegar em Manaus do que o queijo produzido em Minas Gerais. E aí, tu me perguntas por quê? Infraestrutura! Logística! As pessoas questionam: “Ah, teria que ter tido uma atividade…” Tem. Hoje você tem no Estado o Melo trabalhando muito na piscicultura, um projeto que nós começamos. E vai dar certo.
ATUAL – Esse projeto da piscicultura não parece que o governo se deu conta muito tarde? A água no Amazonas é abundante desde sempre e só agora o governo se dá conta de que ali tem um potencial econômico?
OMAR – Não é que se deu conta muito tarde. É uma política. Se passou muito tempo dizendo que nós íamos vender crédito de carbono, então, ficaram só vendendo crédito de carbono. Viajaram o mundo todo para dizer que iam vender crédito de carbono e não venderam. O caboclo tá esperando. Se você perguntar a um caboclo do interior: “Você sabe o que é crédito de carbono?”, ele te dá uma aula, mas ele não vê o dinheiro. Nós temos que focar em quê? O nosso setor extrativista é um setor acabado. Por que a gente não produz a quantidade de borracha que produzia na década de 1940? As seringueiras continuam no mesmo lugar. Não foram derrubadas; existem até hoje e produzem leite até hoje, só que é antieconômico. O caboclo se embrenhar na mata para vender a R$ 5 o quilo da borracha, R$ 6? Aí o Estado subsidia com R$ 1, a Conab mais R$ 1, para ver se dá um preço mais atrativo para ele produzir. O que acontece? São Paulo é o maior produtor de borracha. Só que em São Paulo, você não precisa entrar na mata pra encontrar com onça, com carapanã, com cobra. Porque eles têm hoje uma tecnologia de produção de borracha economicamente superior. Então, hoje, a gente produz aqui mil toneladas de borracha por ano. Mesmo na época do auge, quando a borracha era o ouro da Amazônia, nós não produzíamos 3 mil toneladas.
ATUAL – A piscicultura é a alternativa, então, para a cultura extrativista?
OMAR – É uma alternativa. Mas aí, você tem os problemas ambientais. Você vai fazer uma lâmina d’água e tem uma área de mil hectares, só pode usar 30% desses mil hectares, só pode fazer 300 hectares de lâmina d’água, e ainda tem uma dificuldade enorme de aprovar o projeto. Se aprovar, ok. Mas o preço da ração, não compensa você produzir o peixe, porque esse peixe vai ficar muito mais caro do que o que vem de Roraima, por exemplo. E o Melo está mudando isso.
ATUAL – Com todas essas dificuldades, por que o senhor diz que o projeto da piscicultura vai dar certo?
OMAR – Porque hoje nós estamos subsidiando o calcário, subsidiamos o preço da ração, você tem uma tecnologia maior e há um forte investimento do setor privado em cima disso. Com a participação do setor privado, rapidamente nós vamos ter aqui 2 a 3 mil hectares de lâmina d’água no Amazonas, mas rapidamente. Você chega no município de Rio Preto da Eva e já vai ver muita coisa sendo feita; pega a estrada de Manacapuru, também. Essa cadeia vai ser adensada e você vai ter fábrica de ração, via ter frigorífico pesado, vai ter peixe para o consumo interno, mas também vai ter peixe para exportação. O Amazonas tem condição de criar tilápia, que é o peixe que todo americano come. Na Califórnia, levaram o tucunaré, e o tucunaré tá acabando com a tilápia da Califórnia.
ATUAL – Em artigo publicado no site AMAZONAS ATUAL, nesta semana, o empresário Eduardo Couto da Cunha, informa que uma companhia dos Estados Unidos em parceria com uma empresa brasileira está investindo 51 milhões de dólares num projeto para criação de tilápia em Limeira (SP) para exportar aos Estados Unidos.
OMAR – E por que nós que estamos aqui do lado não podemos produzir? Vamos produzir. Não é uma coisa tão simples assim. Mas, por exemplo, em Humaitá, você tinha campos e mais campos de produção de grãos. Com o tempo o pessoal foi falindo, porque não melhorou a terra. O prefeito Dedei Lobo, em parceria com a gente, comprou uma área enorme onde foi construído um centro de alevinagem, para a produção e distribuição de alevino. Não tenho dúvida nenhuma que Humaitá vai explodir, Apuí vai explodir, Matupi vai explodir, o Madeira todo vai explodir na produção de peixe. E pra nós, seria muito mais barato trazer peixe de Humaitá do que de Porto Velho. Aqui no entorno de Manaus, também, onde você tem um centro consumidor muito forte. Realmente, nós vamos ter grandes alegrias nesse setor, eu não tenho dúvida nenhuma.
ATUAL – Nas eleições municipais de 2016, como é que o PSD vai se comportar?
OMAR – Eu já declarei isso: meu candidato à reeleição é o Arthur. O Arthur teve um comportamento digno comigo e com o Melo. Nos apoiou e eu apoio o Arthur.
ATUAL – O PSD pode ter um candidato a vice na chapa do prefeito?
OMAR – Não discutimos isso, ainda. É uma coisa que não está na mesa. Não tem essa discussão. Você sabe que eu sou uma pessoa, além de… Se você for analisar o processo político vai perceber que eu não tenho nenhum tipo de vaidade. “Ah, tem que ser meu pra ser assim”. Não é. Eu não sou assim. Você pega a chapa do Melo, o Melo candidato, naturalmente, se fosse outra pessoa no meu lugar, com a força política que eu tinha naquele momento, diria: “O vice vai ser meu”. Não. Eu trouxe o Henrique Oliveira para ser vice do Melo. Não tem nenhuma relação política comigo, mas fui eu que convidei o Henrique. Ele conversou comigo, e, na conversa, eu disse: “Eu abro mão para você ser o vice do Melo”, ele topou. Eu não conheço nenhuma eleição de senador nesse Estado que a pessoa que foi o candidato ao Senado não tenha escolhido o seu suplente ao bel prazer. Todos que são senadores escolheram seus suplentes ao bel prazer dele, da pessoa. Eu não. Para fazer uma composição ampla para a eleição do Melo, eu abri mão do meu suplente, que é o Doutor Helder [Cavalcante], que é ligado ao Alfredo Nascimento e que é o presidente municipal do PR. Agora, parece que a presidência irá para o Marcelo Ramos. Então, esse tipo de vaidade, de egoísmo, eu não tenho. Provado na prática. Porque, em 2014,se eu quisesse indicar quem eu quisesse pra vice ia ser. Ou não? Eu precisaria abrir mão do meu suplente para ganhar a eleição pro Senado? Acho que não. Eu não penso: “Ah, eu vou colocar o fulano, porque nesse fulano eu confio”. Não é. Não sou eu que tenho que confiar. Esse não é um negócio personalizado. Parece que o cargo é personalizado, o cargo é meu. O cargo foi o povo que te concedeu e ele te concede e te tira.
ATUAL – Na sua gestão como governador, a primeira-dama Nejmi Aziz teve um destaque político muito grande e todo mundo achava que ela poderia ser candidata nas eleições passadas. Chegou-se a até cogitar que ela disputaria vaga para a Câmara dos Deputados. Por que ela não saiu candidata?
OMAR – A Nejmi nunca quis. Ela sempre quis servir e serviu. Eu acho que fez o papel dela, um papel de destaque. Era uma pessoa que muitos não davam nada, e se destacou pelo trabalho que fez. E isso é mérito dela. Mérito exclusivo da Nejmi.
ATUAL – Ela não quer mais se envolver com a política?
OMAR – Olha, eu sempre converso com ela e ela sempre diz que não quer. A Nejmi é uma pessoa que tem uma posição forte, independente. Ela não é submissa. Às vezes, para ela apoiar um projeto, você tem que fazer o convencimento político [um caso concreto foi o apoio à candidatura de Melo à reeleição, em 2014]. Ela não aceita o “vai, faz isso”. Não é bem assim. Mas, é uma pessoa pública, e como pessoa pública, tem que se comportar como uma pessoa pública. Não tem vida privada. E foi ela quem escolheu, também, ser pública.
ATUAL – Se ela quisesse se candidatar à Prefeitura de Manaus no que vem, o senhor a apoiaria? E deixaria de apoiar o Arthur?
OMAR – Veja bem: você tá me colocando uma questão do ponto de vista pessoal, de dentro de casa, e uma questão política de compromisso assumido com o Arthur. Você nunca diz não pra sua mulher. Agora, eu não quero arranjar confusão dentro de casa. Eu espero que a gente possa fazer isso de forma que não me traga esse tipo de problema pra dentro de casa (risos). Mas não acredito que a Nejmi seja candidata. Até hoje ela nunca me disse que queria ser candidata a prefeita. Claro, quer ser respeitada no processo, o que é natural.
ATUAL – Ela ainda é presidente municipal?
OMAR – Ela é presidente municipal do PSD.