Por Iolanda Ventura e da Redação
MANAUS – Checar notas e parabenizar o filho pelos números próximos de 10 ou cobrar explicações pelas avaliações vermelhas no boletim deixou de ser a única manifestação de pais sobre o desempenho dos filhos na escola. O ensino remoto imposto pela pandemia do novo coronavírus forçou os pais a se envolver diretamente na educação.
No Amazonas, as aulas em casa esbarram em três obstáculos: é caro, as falhas de internet dificultam acompanhar os conteúdos e os pais são despreparados para lidar com a educação escolar dos filhos, avaliam professores e pedagogos.
Enquanto em países como os Estados Unidos a pandemia causou uma mudança no entendimento da educação tradicional, com pais dispostos a deixar os filhos em casa em vez de mandá-los à escola e adotar a educação doméstica – homeschooling, no inglês -, no Brasil ainda não há estudo sobre o impacto da pandemia na compreensão da família sobre o formato. Por aqui, o Ministério da Educação quer os alunos de volta às salas de aula nos colégios.
Custo
Para Abel Bezerra dos Santos, pedagogo e professor da Semed (Secretaria Municipal de Educação) em Manaus, o contexto pandêmico pode estimular a pauta de quem defende o homeschooling. “O cenário da pandemia é propício a isso”, diz.
Abel Santos afirma que entende quem defende o formato se possuir condições de pagar por isso. “Tem escola aqui em Manaus que a mensalidade está girando em torno de R$ 4 mil de anos iniciais, e tem gente que tem dinheiro para pagar. Então, quem tem dinheiro para pagar isso tem como manter uma estrutura em casa com internet, livros”, afirma.
Quanto aos grupos com menor poder aquisitivo, o professor avalia que alguns apoiam o ensino doméstico por questões de saúde.
“Já se tratando daqueles que não têm condições, ainda não compreenderam que homeschooling é caro, defendem o modelo. Acho que a visão é a saúde, o cuidado de não ir para escola para não se expor. Inclusive, a Semed deu essa opção de os pais manterem os filhos no modelo 100% remoto”, lembra.
Apesar dessa possibilidade, Abel afirma que o homeschooling é diferente do modelo usado pela Semed e Seduc (Secretaria Estadual de Educação). Segundo o educador, quem usa o sistema público quer o retorno presencial. “As maiores reclamações estão em torno da dificuldade de acompanhar as aulas usando a internet ou a TV aberta”, diz.
De acordo com o professor, levantamento recente da Semed constatou que o índice de alfabetização da rede retrocedeu a níveis de 2017.
“A pandemia trouxe um retrocesso. A pandemia, claro, e o modelo utilizado de urgência, o modelo de ensino remoto, ele não é o adequado por conta de vários fatores e condições que são necessários para esse tipo de modelo, o famoso homeschooling. Quem é pobre não tem condições (de estudar) nesse modelo”, pontua.
O professor conta que há estudantes que desde o início da pandemia não assistiram uma aula, mesmo com a volta semipresencial.
“Esse daí, a escola tem 30 dias para fazer a busca ativa (localizá-lo). Depois disso, passa para o Cemasp (Centro Municipal Sociopsicopedagógico), um órgão da Semed que vai passar mais 15 dias fazendo essa busca por essa criança e responsáveis. Se não tiver êxito, passa para o conselho tutelar”, explica.
Para Abel Santos, a escola pública deve ser defendida pois há aspectos sociais envolvidos como a merenda escolar, além da capacitação profissional. “Tem criança que chora querendo retornar para a escola, a gente já recebeu áudio dizendo que os pais não têm paciência de ensinar como ensinamos”.
Saúde x ensino
A continuidade do ensino presencial entra em conflito com causa defendida por professores da rede pública: a aplicação das duas doses da vacina contra a Covid-19 para um retorno seguro. As aulas da rede estadual e municipal já foram retomadas, mas sem o ciclo vacinal dos docentes ter sido concluído.
Questionada se essa relutância em retornar à sala de aula não pode incentivar o homeschooling, Ana Cristina Rodrigues, presidente do Sinteam (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas), afirma que sempre existe a possibilidade quando o poder público faz mudanças na modalidade de ensino. Mas, segundo ela, ficou clara a defesa, tanto pelo estado quanto pelo sindicato, da relevância do professor em sala para garantir o ensino-aprendizagem.
“O posicionamento dos trabalhadores da Educação em retornar somente com o ciclo vacinal completo não pode ser usado como justificativa para o homeschooling, pois deixamos bem clara a importância da interação aluno-professor. Neste momento, nossa única reivindicação é que fôssemos imunizados”, diz.
Elma Sampaio, presidente da Asprom (Sindicato dos Professores e Pedagogos das Escolas Públicas de Manaus), diz que o período longe das salas de aula pode incentivar o homeschooling, pois o governo não vê a Educação como prioridade e pode usar a pandemia para defender a educação doméstica.
“O fato de a pandemia ter colocado professores em home office e alunos em aulas remotas pode ser uma justificativa dos governantes para justificar que o homeschooling é uma excelente alternativa”.
Sampaio argumenta que o poder público deve propiciar as condições tecnológicas necessárias enquanto não há condições sanitárias para as aulas nas escolas.
“É preciso evidenciar que a pandemia não pode e nem deve ser justificativa para o homeschooling. Até porque, nestes tempos de pandemia, os professores continuaram acompanhando seus alunos para que as aulas continuassem”, alega.
Consultada, a Semed informou em nota que considerou o trabalho realizado durante as atividades remotas excelente e alcançou quase 100% dos estudantes, “mas entende que nada substitui as aulas presenciais, a possibilidade de tirar dúvidas na hora, além do convívio e a interação da sala de aula, essenciais para o desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes”.
Falta de estrutura
Na rede pública, o ensino habitual esbarra em outro entrave: a indisponibilidade do espaço escolar para a atividade educacional. A questão é citada pelo professor Abel Santos. Segundo ele, várias unidades em Manaus não retomaram as aulas de forma híbrida por não oferecerem as condições estruturais adequadas. Ele cita a Escola Municipal Pintor Leonardo da Vinci, que na semana passada estava em reforma.
Sem regulamentação
O secretário estadual de Educação, Luis Fabian Barbosa, é a voz dissonante no debate. Ele diz não acreditar que o ensino remoto incentive o homeschooling no Amazonas.
Para Luis Fabian, como não há regulamentação para o homeschooling no Brasil, não tem como vislumbrar essa possibilidade, ainda em um cenário pós-pandêmico. “Isso depende de legislação federal e, mais que isso, de regulamentações pelo MEC e pelo Conselho Nacional de Educação”.
O secretário concorda que o tema precisa começar a ser discutido e refletido para que eventualmente se possa desenhar uma proposta para a regulamentação. “No Brasil, eu, particularmente, não acredito que nós tenhamos maturidade suficiente na formação acadêmica dos nossos profissionais da Educação e dos nossos técnicos em Educação para pensar em homeschooling”, afirma.
Pela falta de regulação, Fabian não acredita “que as aulas remotas ou o retorno híbrido incentivem, de alguma forma, o homeschooling”.
“O direito à Educação é um direito indisponível do cidadão, a escola coloca que é dever de todos do Estado e dos pais zelar pela educação das crianças. Então, enquanto não tivermos uma reforma constitucional e na legislação educacional no país, a gente não pode vislumbrar o homeschooling como uma possibilidade”, diz.
Na rede particular de Manaus, a presença dos alunos na escola ocorreu primeiro que na pública. Essa situação está ligada à questão financeira diz a professora Virgínia Ribeiro, diretora de uma escola particular em Manaus.
“No caso, aulas presenciais são bem melhores para nós enquanto instituição privada. Quando estávamos em aulas remotas, precisávamos diminuir (o valor) da mensalidade. Porém, as dívidas eram as mesmas com pagamento de professores, imposto etc”.
Virgínia argumenta que a instituição dispõe de um quadro de profissionais capacitados para o ensino e nem todos os pais têm tempo para o ensino doméstico, além da falta de regulação do homeschooling. “Acredito que muitos pais precisem sair para trabalhar e necessitam de um ambiente voltado e adequado para seus filhos ficarem e aprenderem no sentido pedagógico”, alega.
De acordo com a diretora, o retorno à escola teve apoio dos pais. “Nossa equipe está com a primeira dose tomada da vacina e assim os pais se sentem mais seguros para o retorno. ainda temos crianças em casa e estão recebendo o suporte de atividades também”.
As escolas particulares cancelaram os descontos dos Pais de alunos que tem os filhos estudando no sistema EAD, fazem de tudo para que o aluno volte para dentro de aula mesmo sem tomar a vacina, o problema do ensino das escolas particulares está na aplicação de livros descartáveis as famosas apostilas que não tem nenhum reconhecimento pelo MEC e por parte do Governo do Estado do Amazonas, a Secretaria de Estado de Educação não pública nenhuma regulamentação específica para isto e tão pouco não fiscaliza as apostilas que são vendidas à preços exorbitantes, as apostilas são importantes para quem tá prestando concurso mas para o ensino fundamental e ensino médio ela não é apropriada tem de vista que ela não tem uma abordagem correta como determina o MEC,infelizmente não há uma fiscalização rigorosa nas escolas particulares no Estado do Amazonas.